Brenda.Narf 13/03/2024
Doloroso, porém, necessário.
Este é sem dúvida um dos melhores livros que eu já li e também, um dos mais dolorosos de ler.
Doloroso, porém, necessário.
Herdeiras Do Mar, mais do que uma ficção histórica, é uma denúncia detalhada sobre a crueldade e crimes hediondos que meninas e mulheres sofreram e sofrem nas guerras. E uma tentativa por não ser silenciada e nem esquecida a história das mulheres durante esse período escuro na Coreia.
Esta história, se situa na Coreia sob ocupação Japonesa no período da Segunda Guerra Mundial. Em 1943 a Coreia já estava ocupada pelo exército Japonês. Durante esse período, houveram acontecimentos que tentaram ser excluídos da história pelo governo Japonês.
Os historiadores estimam que cerca de 200.000 mulheres asiáticas foram sequestradas, enganadas e vendidas como escravas sexuais pelos militares japoneses durante o período de expansão japonesa. Muitas dessas mulheres e meninas jamais voltaram para suas casa, e suas famílias nunca souberam o que aconteceu com elas.
A história das irmãs Hana e Emi, é narrada com maestría, alternando entre passado e presente em duas épocas completamente diferentes 1943 e 2011.
Podemos conhecer um pouco da cultura das haenyeo, uma tradição secular semi-matriarcal de mulheres mergulhadoras da ilha sul-coreana de Jeju. Mulheres de espírito independente, fortes e guerreras que se arriscavam mergulhando em águas profundas, contando apenas com o ar de seus pulmões. O motivo dessa atividade era a busca de frutos do mar para vender no mercado e para alimentar suas famílias.
Amei a escrita da Mary Lynn, ao meu parecer foi detalhada, fluida e profunda. Conseguindo captar a atenção do leitor de início ao fim.
No período em que a Coreia estava ocupada pelo o exército Japonês, nas escolas só ensinavam Japão. Era proibido os Coreanos se comunicarem em sua própria língua. Sua cultura e costumes eram obrigados a serem eliminados.
As mulheres que sobreviveram à sua escravidão não tiveram a liberdade de contar sua história quando voltaram para casa. A Coreia era uma sociedade patriarcal e a "pureza" de uma mulher era de suma importância. As sobreviventes sofreram com seu passado em silêncio. Muitas foram incapazes de se reintegrar à sociedade.
Foi apenas em 1991 que o tema "Mulheres de Consolo" (Mulheres escravizadas sexualmente), foi levantado. Quando Kim Hak-sun, uma das sobrevientes compartilhou sua história com a imprensa. Depois disso, outras sobreviventes se pronunciaram inspiradas por Kim Hak-sun.
Um fato importante foi que em 2015, a Coreia do Sul e o Japão chegaram a um acordo a respeito das "Mulheres de Consolo", com a intenção de ter uma relação mais diplomática.
O Japão ofereceu alguns termos à Coreia, e um deles foi a remoção da Estátua da Paz, que fica em frente à embaixada japonesa em Seul.
Porém, remover a estátua seria o primeiro passo para a negação da história das mulheres na Coreia do Sul. Silenciando os acontecimentos.
----Um dos trechos do livro: "Eu sou uma haenyeo como a minha mãe, e a sua mãe antes dela, como a minha irmã será um dia, e suas filhas também. Eu nunca fui nada além de uma mulher do mar. Nem você nem qualquer outro homem pode me transformar em menos do que isso.----
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GATILHOS: Violência, Abuso, Exploração Sexual Feminina, Sequestro, Morte.