spoiler visualizarThiago Barbosa Santos 15/01/2021
Caminhos cruzados
Um livro bastante conhecido e celebrado no meio literário, apesar de não ser o mais famoso de Erico Verissimo. Também gerou polêmica e alguma dor de cabeça ao autor no período de publicação. Isso porque tocou em feridas sensíveis, as quais a sociedade ainda não tinha maturidade suficiente para encarar. É possível dizer que hoje tem? Foi também publicado em uma época de ausência de liberdades em nosso país. CAMINHOS CRUZADOS, inclusive, demorou para ter o devido reconhecimento, justamente por causa dos temas que tratou.
A estrutura do livro é bastante interessante. São várias histórias que acabam se cruzando, de forma direta ou indireta. Cada história denuncia uma situação, expõe mazelas da nossa sociedade.
São muitos núcleos e diversos personagens. Tanto que, no início na leitura, dá um pouco de trabalho para se situar. Depois que o leitor vai se familiarizando com cada núcleo, com cada personagem, a história flui muito bem.
Entre as principais histórias, estão:
A da família de Teotônio Leitão Leiria. Ele é um comerciante ganancioso, muito rico, que explora e humilha seus subordinados. A esposa dele é dona Dodó, que passa-se por caridosa para ganhar o reconhecimento social. A filha deles é Vera, que tem uma visão crítica da postura da família. Ela se apaixona e chega a ter um envolvimento com uma moça chamada Chinita. Esse relacionamento homossexual é um dos pontos polêmicos do livro que acabou escandalizando pelos padrões da época.
José Maria Pedrosa encabeça outro núcleo. Ele é o novo rico, que ganhou na loteria e mudou de vida. Saiu da cidade natal, Jacarecanca, e foi para a cidade grande. É um brucutu, sem educação, formação, mas que vive a esbanjar a fortuna, adquirindo bens, propriedades e promovendo festas homéricas. Teotônio tem inveja das posses dele e acha que não é digno de tudo o que possui, não tem berço. Mesmo assim, o atura por convenções sociais. A esposa de Pedrosa, Maria Luísa, está assustada com toda aquela mudança brusca na vida deles. Tem medo de que o dinheiro estrague a essência dos seus, o que acaba inevitavelmente acontecendo. Acha tudo um desperdício e sente saudades da vida simples de antes, eram mais ligados uns aos outros, mais unidos, mais felizes. Descobre depois que o marido sustenta uma amante. O filho só quer saber de farra. A filha, Chinita, recebe influência dos atores de cinema. Leva uma vida de liberdade. Perde a virgindade com o namorado, que a despreza, e depois se envolve com a amiga Vera.
Honorato Madeira é comerciante, gordo, desajeitado, e que se sente deslocado na própria casa pela falta de proximidade com a esposa e com o filho. Virgínia, a esposa, é entediada, infeliz e tem aversão ao marido. Noel é o filho sonhador, medroso, e que vive em um mundo dos contos de fada que lê nos livros. Sente saudades de tia Angélica, que trabalhava na casa dele e era como uma mãe, cuidava da casa enquanto Virgínia promovia festas. Angélica faleceu e ele ficou meio que recluso.
Em outro núcleo, a dona Eudóxia era uma velha pessimista que agourava tragédias a todo instante. Ela é mãe de Fernanda, que é uma moça muito madura, trabalhadora e que tem uma forte amizade com Noel. Desde pequena, o trata com carinho, de forma protetiva. Com o passar do tempo, eles descobrem o amor. Outro filho de Eudóxia é Pedro, um jovem de 16 anos que descobriu o amor com Cacilda, uma garota de programa, e se apaixonou por ela.
João Benévolo está desempregado há seis meses. É um sonhador, vive viajando em suas leituras de romances de aventura. Mas a realidade é cruel. Não há dinheiro para as necessidades básicas, para o aluguel, para os remédios do filho doente. A busca por emprego é infrutífera. A esposa está anestesiada. Laurentina depende do marido para tudo, mas ele é acomodado e não traz as soluções necessárias. Acaba tendo um fim triste o marido dela. O filho, Napoleão, é doente e vive enfurnado no quarto, a desenhar sem ter noção das reais dificuldades da família. Laurentina é ajudada pelo seu ex-pretendente, que vive cercando a família com o fito de poder enfim poder ficar junto da mulher que perdeu anos antes para João Benévolo.
Maximiliano é um tuberculoso moribundo que está só aguardando chegar o dia da despedida. Ele é cuidado pela esposa que parece conformada com a infelicidade. Os filhos também vivem naquela casa de péssimas condições.
Existem outros personagens avulsos de maior ou menor relevância. O romance foi publicado na década de 30. Os acontecimentos acontecem em um intervalo de cinco dias.