Karina 18/02/2013A cidade e as serrasO livro conta a história de Jacinto, um homem que é infeliz na cidade, todavia alegre e cheio de vida nas serras. Mostra como o ser humano só pode ser feliz longe da Civilização, longe dos males gerados por ela. É, portanto, uma idealização da vida no campo.
O romance apresenta 16 capítulos, totalizando 212 páginas. Ele pode ser dividido em dois blocos: o primeiro, que reúne os sete capítulos iniciais e parte do oitavo, tem Paris como cenário, e caracteriza a Civilização; o segundo vai do oitavo capítulo até o fim, e é o contrário do primeiro. Nesse segundo bloco, Jacinto está em Tormes, nas Serras, em meio à simplicidade, onde é feliz.
O foco narrativo é em primeira pessoa, contudo o narrador, Zé Fernandes, não é o protagonista. Trata-se de um narrador-testemunha, que observa de perto os acontecimentos e os relata da maneira que entende, utilizando-se de seu ponto de vista para apresentar os fatos.
Quando Jacinto ainda era criança, sua família resolveu se mudar para Paris por motivos políticos. Ao contrário do pai, ele cresceu e tornou-se um rapaz muito saudável, e era chamado pelos amigos de Príncipe da Grã-Ventura. Jacinto sempre foi um defensor do progresso. Em sua casa, ele colecionava milhares de invenções que tornariam sua vida mais fácil, como o teatrofone e o telégrafo. Achava que a natureza reduzia o homem a uma besta, portanto ele deveria ficar na cidade e firmar sua superioridade de ser pensante.
Depois de sete anos, Jacinto reencontra José Fernandes, velho amigo de escola e narrador do romance. Jacinto convida o amigo para hospedar-se em sua casa, o palacete nos Campos Elísios, conhecido como 202. Lá, Zé Fernandes presencia diversos acontecimentos que provam que as tecnologias de seu Príncipe não são infalíveis, como no jantar do Grão-Duque, em que o peixe ficou preso no elevador. Também percebe como se comporta a alta sociedade de Paris, sempre vaidosa e querendo ser superior ao próximo.
Chega então uma notícia de Portugal: o cemitério onde estava enterrada a família de Jacinto foi devastado por uma terrível tempestade. Ele ordena que se construa uma nova igrejinha e que sejam feitas as obras necessárias, sem preocupação com o dinheiro.
O tempo passa, e Zé Fernandes percebe que seu Príncipe está com a expressão cada vez mais abatida, melancólico, pessimista em relação a tudo. Apesar do conforto, da riqueza e do prestígio, Jacinto é infeliz em Paris, acha as coisas muito tediosas e rotineiras. Certa manhã, Jacinto revela ao seu amigo que deseja ir a Tormes, ver a inauguração da igrejinha que ficara pronta. Começa-se então os preparativos para a viagem. Jacinto liga para Portugal, dizendo que ele logo irá para sua terra natal, e mandando fazer reformas na casa, além de mandar diversos caixotes contendo “mobílias e confortos”.
Na primavera, os amigos saem de viagem. Porém ela é tumultuada, uma vez que na baldeação de trem em Medina eles se perdem dos empregados e das malas. Chegam à estação de Tormes apenas com a roupa do corpo e um jornal antigo, e descobrem que não eram esperados por ninguém. Pegam animais emprestados e sobem a serra montados numa égua e em um jumento. Depois que chegam à propriedade dos Jacintos, ainda tem surpresas: as obras no casarão corriam lentamente, e as caixas enviadas de Paris haviam se extraviado, como se soube posteriormente, para Alba de Tormes, na Espanha.
Eles passeiam pela fazenda e jantam, apreciando a boa comida serrana. Zé Fernandes convida seu amigo para ir até sua casa em Guiães, no dia seguinte, mas Jacinto recusa, dizendo que partirá para Lisboa. Zé Fernandes segue viagem, e ao chegar em casa, manda itens de primeira necessidade pra seu Príncipe, como roupas, escova de dentes e livros.
Uma semana depois, Zé Fernandes recebe suas bagagens extraviadas, e logo manda um telegrama a Lisboa, agradecendo a seu amigo, e não recebe resposta. Depois de algumas semanas descobre que Jacinto não partiu de Tormes, e no domingo, ele segue para lá, encontrando o casarão em obras, já em condições de se habitar. Ele encontra o seu Príncipe revigorado pelo contato com a natureza, alegre e cheio de vida. Era um novo homem.
Após as primeiras semanas de visitação, Jacinto começou a fazer planos para a propriedade. Porém eles eram barrados pelo administrador da fazenda, o Silvério, que sempre arrumava argumentos para convencer o patrão do contrário. Com o passar do tempo, Jacinto foi se familiarizando com a fazenda, e passou a conversar com seus trabalhadores. Ele descobre que nem tudo em sua fazenda era perfeito como imaginava, e ao visitar a casa de um dos empregados, durante uma chuva, percebe que as condições em que viviam aquelas pessoas eram horríveis. Jacinto manda construir novas casas para todos, além da escola, biblioteca e farmácia. Por suas boas ações, passa a ser conhecido como Pai dos Pobres.
Na festa de aniversário de Zé Fernandes, Jacinto é apresentado à família de seu amigo e à sociedade da região. Todos ficam receosos à sua presença, pensando ser ele partidário de D. Miguel. Mesmo assim, Jacinto acredita que no futuro, terá bons amigos ali. Na mesma época ele conhece Joaninha, prima de Zé Fernandes, e casa-se com ela, tendo dois filhos. Ser pai fez com que Jacinto virasse uma pessoa mais responsável em relação à vida e à fazenda, e com a ajuda de Joaninha, Jacinto alcança o equilíbrio entre a ânsia pelo progresso e o fanatismo pela simplicidade.
Na obra há uma forte crítica em relação à cidade. Jacinto morava em Paris, no entanto, era infeliz. É no campo que as pessoas encontram a felicidade, onde tudo é calmo, a comida é gostosa e não há poluição. Na natureza sempre há mudanças, ciclos, enquanto na cidade as coisas não mudam. O livro é um romance realista-naturalista.
Em A Cidade e as Serras, assim como em O Cortiço, o espaço é um elemento fundamental para o desenvolvimento da história, e por isso esses livros são chamados de romance de espaço. Certos vocábulos são difíceis de entender, por isso às vezes é necessário o uso de um dicionário.
Como o foco narrativo é composto por um narrador-testemunha, os fatos apresentados revelam certa subjetividade, uma vez que o leitor tem o mesmo conhecimento e o mesmo ponto de vista de José Fernandes.
A obra é indicada para pessoas que pretendam prestar vestibular, pois ela está presente na lista da FUVEST e UNICAMP, além de ser importante para a literatura.
A Cidade e as Serras foi escrito por Eça de Queirós. José Maria de Eça de Queirós nasceu em 25 de novembro de 1845, na Póvoa de Varzim e morreu em 16 de agosto de 1900, em Paris. Estudou Direito em Coimbra e teve seis irmãos. Sua carreira literária se divide em três fases: fase preparatória, realista e de maturidade artística. Durante a primeira fase, Eça ainda é um escritor romântico, à procura de alguma influência, e o principal título é O mistério da estrada de Sintra. A segunda fase é marcada pela naturalidade, pela crítica à sociedade portuguesa da época, como em O crime do Padre Amaro e O primo Basílio. Na terceira e última fase há a presença do otimismo, da esperança e da fé. As principais obras são A Cidade e as Serras e A ilustre Casa de Ramires.