Fernanda631 29/08/2023
Uma Promessa e Nada Mais (Clube dos Sobreviventes #5)
Uma Promessa e Nada Mais (Clube dos Sobreviventes #5) foi escrito por Mary Balogh.
Agora temos a história de Ralph Stockwood, conde de Berwick. Como qualquer nobre de sua idade, e ainda prestes a herdar o título de duque com a morte iminente de seu avô, que se encontra com a saúde fragilizada, é pressionado, cada vez mais, a buscar uma esposa, estabelecer-se a garantir o herdeiro que o título pede.
Ralph é um homem que carrega para si a culpa da morte dos seus três melhores amigos durante a guerra, logo quando se alistou. Assim como os outros Sobreviventes, ele foi enviado para Penderris a fim de se recuperar. Anos depois, ele ainda se sente vazio por dentro e aceitou seu auto-martírio imposto.
No entanto, o jovem conde não se considera apto a casar e compartilhar sua vida com alguém, nem no momento, ou em um futuro, seja ele próximo ou distante. Desde que presenciou a morte de seus melhores amigos no campo de batalha, Ralph carrega o fardo pesado da culpa, pois acredita que, pelos seus ideais, levou os jovens amigos direto para a morte. Assim, ele se encontra vazio de sentimentos e teme não ser capaz de nutrir sequer a mínima empatia pela mulher com quem pudesse casar, pela simples obrigação de gerar um herdeiro para o título. Mas a dama de companhia de sua avó lhe faz uma ousada proposta.
Chloe é uma jovem mulher que não teve muita sorte em suas apresentações na sociedade. Por duas vezes ela se viu envolvida em burburinhos, e agora se vê num autoexílio no interior da Inglaterra. Aos 27 anos, Chloe Muirhead sabe que não está mais no mercado matrimonial. Luto, escândalos familiares e segredos revelados a deixaram bem longe de ser considerada elegível para o matrimônio. E quando alguns segredos a perseguem, ela toma a atitude de isolar-se no campo, como dama de companhia de uma idosa duquesa, que foi grande amiga da sua avó.
Porém, o desejo de formar uma família continua bem forte dentro dela, e quando ela descobre que o futuro Duque de Worthingham precisa se casar, ela decide ousadamente fazer-lhe uma proposta de casamento. Em um momento desesperado, ela pede Ralph em casamento, alegando que será um enlace que irá beneficiar os dois. Sem laços emocionais, apenas com o objetivo de criarem uma família para satisfazer a necessidade dos dois.
Chloe e Ralph entraram em um casamento sem nenhuma garantia de afeto e sentimentos. Para Chloe, houve a promessa de ser mãe e cuidar de um lar; para Ralph, a esperança de um herdeiro.
Com promessas seladas, iniciam esse frio acordo entre si. Mas, sutilmente, a convivência entre os dois vai mudando isso. Toques impessoais, que antes tinha a finalidade de um sexo rápido para terem filhos, passam a ter mais calor e intensidade; a obrigação de se deitarem na mesma cama passa a ser substituída pela necessidade de sentirem um ao outro. E à medida que se desvendam e conhecem mais a personalidade um do outro, solidifica uma dependência pela presença do outro em suas vidas.
E o que seria apenas uma promessa de um matrimônio sem vida, vai tornando em algo mais, que os dois precisam compreender para buscar a felicidade.
De todos os sobreviventes até agora, creio que Ralph é o que sofre mais com a síndrome do sobrevivente. Esse estado psicológico é comum em pessoas que passaram por situações traumatizante e sobreviveram enquanto outros perderam a vida. Durante a história, Mary trabalha bastante o estado depressivo de Ralph e sua luta por continuar “vazio” e não se permitir sentir algo por nada e ninguém, como forma de punição.
Chloe também teve de superar alguns problemas, nesse caso envolvendo sua origem. Sei primeiro instinto sempre foi surtar e fugir, mas a sua atual posição como esposa de Ralph a obriga a enfrentar seus problemas. Apesar que alguns momentos eu me estressei com ela primeiro surtar e depois parar para analisar a situação, gostei da evolução da personagem.
Acho que o que caracteriza essa série de romances de Mary Balogh é justamente o encontro de pessoas que precisam se curar emocionalmente. E isso fica bem evidente nesse livro.
Temos dois personagens com marcas emocionais que nunca tiveram chance de enfrentá-las, para poder viver plenamente. A união dos dois é o ponto de partida para isso, pois mesmo em um relacionamento que se pretendia ser frio, impessoal, vai tomando formas mais intensas à medida que um descobre que pode ser o apoio do outro e, com isso, criar laços mais profundos que os fortalecem para enfrentar as dificuldades que os fazem se recolher tanto dentro de si.
Um dos maiores pontos positivos desse livro foi como a autora construiu essa relação: foi lento, gradual, explorando os sentimentos de ambos os personagens. O leitor pode acompanhar cada nuance, cada transformação na evolução dos protagonistas. E isso deixou a história bem estruturada, com aquele típico final que nos deixa com a expectativa de virar a página e ver que realmente não acabou, pois queremos ficar mais um pouco na companhia de Ralph e Choe.
E ainda deixa a mensagem que dores emocionais são curáveis, e o remédio está dentro de nós mesmos.