Higor 07/09/2022
"1001 LIVROS PARA LER ANTES DE MORRER": LIVRO 06
Apesar de livros sagrados ou religiosos impactarem o mundo com suas leituras (vide Reforma Protestante a partir da leitura em massa da "Bíblia", quando, até então, podia ser feita apenas pelo clero), não estava nos planos ler nenhum deles para o projeto "1001 livros para ler antes de morrer", pelo fato de eles estarem voltados a um nicho específico, seu público-alvo, os fiéis.
No entanto, encarar "Dao de Jing" é se deparar não somente com uma leitura religiosa, muito embora tenha inspirado várias religiões e filosofias, como o budismo e o taoísmo, mas sim como um tratado filosófico e, curiosamente, um tratado político.
Como eu já havia pulado "O livro das mutações" por ser uma leitura oracular, em que não faz sentido ter uma leitura corrida, já que o significado de cada ideograma depende do uso de varas de bambus, tal como uma sessão particular, para alcançar seu objetivo, a leitura de "Dao de Jing", além de ocupar esse espaço da literatura chinesa da época, se não despretensiosa, seria ao menos passável.
"Dao de Jing" é também conhecido como "O Livro do Caminho e da Virtude", de autoria de Laozi, que muitos julgam sequer ter existido, tratando o manuscrito como um compilado de provérbios escritos por vários monges. Outro grupo, como não poderia deixar de ser, trata o autor como uma divindade, como alguém que enfim conseguiu alcançar o que tanto proclamava: o Dao e a Virtude.
Essa filosofia se deve, aliás, por desgosto com intrigas da vida na corte, onde Laozi optou por se afastar da sociedade e viver como um eremita, sem louros, prêmios, menções, lembranças e vaidades. Montado em uma carroça guiada por um boi, seguiu viagem, mas, ao atravessar a fronteira, um dos seus amigos, o policial Yin-hsi, reconheceu-o e pediu-lhe que escrevesse os seus ensinamentos antes de partir: temos então "Dao de Jing".
Quais são as bases do "Dao de Jing", então? Basicamente, o Dao é o principal objetivo do pensamento de Laozi, e possui duas conotações: a de seguir um estilo de vida que conduz à sabedoria, percorrendo, então, um caminho até isso; tem também sentido político, como um meio de se governar pacificamente, unificando-o.
No entanto, o Dao não vê, não se mede, não possui uma forma específica, assim como é conhecido por sua falta de cor, de cheiro, sabor, tamanho, conteúdo. Então como se apropriar do Dao se não se sabe como vê-lo ou identificá-lo? Grosso modo, enveredando pelo caminho, procurando, para isso, exercer as virtudes; “Virtude”, aliás, junto com o próprio Dao, compõe o par de conceitos mais importantes do Da de Jing.
Virtude, para Laozi, é o bem que, de fora, obtém-se de outras pessoas, e de dentro obtém-se de si mesmo, e que tais virtudes, a serem alcançadas, elevam o indivíduo a atingir o Dao.
Como é de se esperar de Laozi, que estava saindo da corte para viver a ermo, o pensamento, tanto para indivíduos comuns, como para governantes, o ensinamento que fica é o de não se apegar a conquistas materiais, como bens, regalias, riquezas e demais coisas que façam com que a pessoa, ao invés de se tornar uma boa pessoa, se volte para seus bens, como se isso fosse o suficiente para moldá-lo.
Logo, pensamentos práticos como o de que "o sábio fica calado enquanto o burro fala o que não sabe", ou que "procurar alimentar o espírito é mais sensato que alimentar o corpo" são comuns. São práticas, que, se parar para pensar, são simples para se viver em sociedade, junto com o vizinho, com a pessoa ao lado que não tem os mesmos objetivos que você, e não um bicho de sete cabeças que apenas um monge, alguém com elevado grau de espiritualidade consegue fazer.
O teor religioso aqui presente em gestos que respeitam a si, a natureza e superiores ao ser humano está presente, assim como métodos filosóficos, sobre como viver em harmonia e atingir elevados tipos de vida, como a longevidade, e como sua conduta reflete no universo, ao absorver e expelir tipos de energia vital, seja boa ou ruim. Por fim, o teor político está em provérbios que criticam governos autoritários que usam armas para lidar com as circunstância, ou até mesmo por grandes nomes que, ao invés de serem exemplos para o povo, desmoralizam seu governo e a população com suas atitudes errôneas.
Tido como conselhos para uma pessoa simples ou com grande cargo político, um grupo ou até mesmo um país, "Dao de Jing" envolve o leitor com provérbios que procuram o bem-estar entre homem e seu íntimo; homem e sociedade e até mesmo homem e natureza. Um manual de vida para alguns, enquanto para outros um livro de cabeceira sobre como ser uma pessoa melhor para si mesma e para o próximo.
Obs: meu singelo perdão aos praticantes do taoísmo, budismo ou alguma eventual filosofia que se alicerça do "Dao de Jing". Minha resenha é de um leigo que se propôs a ler tal livro sem maiores pretensões, e não quis ferir os pensamentos dos praticantes, assim como do autor.
Este livro faz parte do projeto "1001 livros para ler antes de morrer", que está mesclado com "O livro da literatura" para eventuais alterações necessárias. Acompanhe os livros anteriores:
LIVRO 01 - A epopeia de Gilgamesh
LIVRO 02 - Ilíada
LIVRO 03 - Odisseia
LIVRO 04 - Fábulas de Esopo
LIVRO 05 - Teatro Grego
site: https://projetoseleituras.blogspot.com/