Fê 04/04/2019
O Livro da Solidão ou o Quixote moderno.
O apanhador no campo de centeio é um dos meus livros favoritos e um dos maiores clássicos da literatura americana e universal. Identifico-me bastante com o protagonista, sua revolta, pessimismo e criticismo em relação ao mundo e as pessoas. Em tempos como os nossos, nos quais as pessoas se preocupam com suas imagens e reputações nas redes sociais, a leitura deste pequeno-médio romance torna-se mais do que necessária.
Expulso do internato, Holden Caulfield, 16, o protagonista, e também narrador-personagem da obra, resolve sair da instituição antes da data prevista. Durante três dias, Ele passeia pelas ruas de Nova Iorque e conversa com várias pessoas dos mais diferentes tipos. Ele sente um profundo mal estar diante do mundo e se convence cada vez mais de que a estrutura que o cerca não passa de um sepulcro caiado.
Ele sempre quer encontrar alguém legal, diferente, que o compreenda, mas seus intentos são frustrados, e ele quase sempre acaba sendo incompreendido por seus interlocutores.
Mesmo assim, quase beirando ao quixotismo, Houlden acredita que pode revolucionar o mundo e salvar a pureza das futuras gerações, sendo, numa linguagem metafórica, descrita na própria narrativa, uma espécie de apanhador num campo de Centeio próximo a um precipício, que tem como missão impedir a queda das crianças que brincam por lá. Ele não está encantado como o cavaleiro andante. Vê a realidade da maneira mais crua e realista possível. Mas, mesmo assim, insiste na causa por uma questão de princípios e não por pura utopia ou fantasia.
Se você sente que há algo de errado na maneira como as coisas estão, que está só mesmo em meio a tantas pessoas, que luta por uma causa perdida a maneira do Quixote, este livro lhe servirá de pão e conforto literário. Como diz o narrador do filme Matilda, naquela parte em que ele descreve a mensagem que os livros passaram para a menininha: "Você não está sozinho."