lisyrb 13/02/2019
Um livro inesquecível!
Nota Final = 4,8 (5)
Diagramação = 3; Plot/Enredo = 5; Desenvolvimento do Plot/Enredo = 5
Plot Twist/ Previsibilidade/Mind-Blowing = 5; Ambientação/Cenário/Universo = 5
Protagonista = 5; Desenvolvimento do protagonista = 5; Personagens secundários = 5 Desenvolvimento dos personagens secundários = 5; Antagonista (se houver)= não tem; Desenvolvimento do antagonista = não tem; Conteúdo = 5; Mensagem = 5
Essa obra de Salinger é sensacional! Vou dividir a resenha em duas partes: um breve resumo do livro e minha interpretação dos fatos.
RESUMO
Holden Caulfield é um garoto de 17 anos narrando dois dias de sua vida (de sábado até a tarde de segunda), de quando ele ainda tinha 16 anos. Porém, esses dois dias são determinantes para entendermos o que está acontecendo com o personagem.
Holden será expulso de sua escola e resolve voltar para sua cidade natal (New York) antes disso ocorrer (que seria na quarta-feira), pois não quer ir para casa antes dos pais receberem a notificação de sua expulsão da escola.
Caulfield vive alguns apuros ao se hospedar em uma espelunca e resolve rever sua namoradinha. Após, Holden resolve ver sua irmã (único familiar que ele demonstra real carinho) e, depois, resolve se hospedar na casa de um ex-professor. Porém, sua estadia é abreviada após comportamento estranho do professor, o que muda os planos de Holden. Todavia, seus planos sofrem nova mudança ao se encontrar com sua irmã novamente...
MINHA INTERPRETAÇÃO
Antes de seguir, deixo um aviso: pode ser que o que você ler a seguir tenha alguns spoilers...
Uma coisa precisa ficar bem clara para entendermos o livro: ele foi escrito no período pós Segunda Gerra Mundial. O que isso tem a ver com a história? Bem... na verdade, TUDO!
O período entre os anos 40 e 60 não é lembrado por ser um marco no entendimento da vida de um adolescente. Na verdade, pouco se falava sobre a adolescência, sobre os problemas enfrentados na puberdade, sobre o conhecimento sexual nessa idade, etc. Hoje, isso é muito mais conhecido e debatido do que na época. Assim, pode-se dizer que Salinger foi um gênio ao fazer essa crítica da forma que ele fez.
Holden não entende a razão pela qual ele não é compreendido (principalmente pelos adultos). Isso o transtorna demais, fazendo com que ele se torne triste, solitário, infeliz e amargurado.
Eu acho que a morte do irmão de Holden fez com que ele tivesse contato com a finitude da vida desde muito cedo, e isso mexeu muito com o psicológico dele. Acredito que essa "mexida" se deve ao fato de nós, humanos, nunca estarmos preparados para a despedida. Isso também serve para o período de troca da infância/adolescência para a vida adulta.
Acredito que as "escolas" que ele relata são, na verdade, manicômios. Penso isso porque acredito que Holden não conseguiu lidar com a perda do irmão para uma doença tão anormal (leucemia) para a idade de Allie. Muitos interpretam os pensamentos de Holden como simples atos de rebeldia. Porém, eu acredito que ele e a mente dele são vítimas de alguns transtornos, como o transtorno bipolar, por exemplo. Esse transtorno fica evidente em diversas passagens da narrativa, principalmente na volatilidade dos sentimentos do personagem.
Quanto aos valores morais, Holden demonstra-se avesso à falsidade e aos hipócritas. Porém, sua conduta sombria quanto a alguns assuntos é perturbante: Holden parece ser homofóbico, racista e ageista. Confesso que no começo do livro cheguei a cogitar que Caulfield era homossexual ou bissexual, mas mais adiante descartei essa possibilidade.
Minha interpretação para a loucura ganhou força em minha mente porque ele mesmo se descreve como "maluco" em diversas passagens. Sua volatilidade é preocupante, fazendo o personagem ir de pensamentos doces e inocentes para uma ira, raiva e ódio quase descontrolados em um piscar de olhos. Segundo algumas frases de Holden, acredito que ele não chegava ao descontrole por causa de sua covardia. Além disso, Holden descreve sua narrativa como uma "estória" em diversos momentos. Atualmente, "estória" é tida como uma palavra coloquial para "história". Porém, antigamente, "estória" era um conto onde o autor utilizava figuras de linguagem e acrescentava passagens para encobrir a realidade, ou seja, a real "história". Pode ser apenas um erro de minha parte, mas só saberei a verdade disso no dia que ler o livro original, em inglês.
A narrativa de Holden é no linguajar de um adolescente, com gírias, palavras e palavrões em toda narrativa. Porém, seus pensamentos profanos são assustadores em diversos pontos da história.
Outros relatos na narrativa me levam a crer que Holden sofreu algum tipo de abuso físico antes do período narrado por ele. A reação dele perante a ação do ex-professor (Antolini) é simplesmente assustadora. Tal ação foi a "prova final" para eu pensar que ele foi vítima de algum tipo de abuso e, além disso, demonstrou sua homofobia ao relatar o que pensou sobre a atitude do professor.
Além da perda de Allie, Holden novamente demonstra seu péssimo relacionamento com a morte e com a perda ao relatar o suicídio de um rapaz em sua antiga "escola". O professor Antolini teria sido o único a chegar perto do corpo moribundo do rapaz, levando-o para a enfermaria.
A passagem mais impressionante e esclarecedora do livro é quando Holden relata o que gostaria de ser na vida (adulto). Em sua mente, é como se o mundo fosse um grande campo de centeio limitado por um abismo. Na minha visão, Caulfield utiliza essa metáfora para demonstrar sua imaturidade e sua relutância em passar para a vida adulta, dizendo que gostaria de "apanhar" todas as crianças que chegassem perto desse precipício, tentando evitar a queda delas e sua transformação em "adultos idiotas". Na minha visão, a queda seria a passagem da vida infantil/adolescente para a vida adulta. Ainda, esse trecho me fez entender o motivo do nome do livro ser esse.
Outra passagem esclarecedora sobre o medo de Holden em transitar para a vida adulta é o diálogo dele com o professor Antolini. A conversa mais parece uma sessão de psicanálise, demonstrando que o tal "professor" talvez seja, na verdade, um psicanalista/psicólogo/psiquiatra. Antolini diz ver Holden prestes a ter uma "queda", lembrando-me novamente da queda no abismo que limita o campo de centeio.
Em outra passagem, Holden mostra sua aversão pelo dinheiro, dizendo que o dinheiro sempre faz com que as pessoas se sintam "tristes pra burro". Também, em outra passagem ele mostra um pouco mais sobre sua personalidade justa, utilizando a metáfora do assovio para dizer que muitos são idiotas ao tentar julgar pessoas e suas ações.
Há mais um trecho que demonstra a indignação de Holden com as pessoas e com a vida. Vejo o trecho em que ele fala sobre não haver lugares tranquilos como uma metáfora para relatar o desrespeito das pessoas em relação a ele a outras pessoas como ele (adolescentes). O uso do "FODA-SE" é essencial para entender essa parte da narrativa, pois a palavra é usada de forma profana para demonstrar o pensamento de Caulfield sobre a ausência da tranquilidade em seu mundo.
Caulfield parece confiar em poucas pessoas e parece ter uma relação familiar difícil. Seu carinho pela irmãzinha chega a ser comovente e puro, demonstrando o lado inocente de Holden.
O Apanhador no Campo de Centeio é um livro que, apesar de sua escrita simples, é extremamente complexo. Holden pode estar relatando de dentro de um manicômio o que ocorreu naqueles dois dias e o relato ser verdadeiro, assim como o relato pode ser uma metáfora para sua ida para o manicômio. A única coisa certa é que essa obra de Salinger é, sem dúvida, uma das mais geniais da história da literatura. Leia esse lindo livro! Você não se arrependerá...