Coisas de Mineira 06/08/2020
“As Outras Pessoas” é o terceiro livro da (minha tão amada) autora C. J. Tudor. Ele saiu em primeira mão no Clube de Assinatura da Intrínseca, o Intrínsecos. Desde então, estou eu aqui, ansiosa para ter em mãos essa obra – e feliz por essa parceria de sucesso com a editora! Retomando, conforme você for lendo essa resenha, poderá perceber o quanto eu gosto do estilo da autora, de suas inspirações e de sua forma de contar uma história. Temos resenha aqui no blog de seus dois outros livros. Deixarei o link ao longo dessa resenha.
Com esse novo livro, Tudor ainda usa de sua mesma “métrica”, intercalando a história geral com pitadas do presente e do passado do protagonista. Entretanto, nesta feita a autora usa de poucos anos entre esse intervalo. Apenas três anos, e é o que descobrimos já no subtítulo do capítulo 1. Preciso ressaltar que concordo com a crítica estrangeira: Tudor está cada vez melhor. Ela vem refinando sua escrita, e tomando sua própria forma.
Percebo que em “As Outras Pessoas”, finalmente, Tudor afasta de vez aquele fantasma, aquele “disse me disse” que tantos leitores não pensam duas vezes ao declarar… Seus livros não são cópias dos livros de Stephen King. E quem tá falando isso é a fã número 2 dele, hein? (não abro concorrência com Annie Wilkes!) Então, fiquei muito satisfeita de ver elogios de pessoas que não curtiram tanto os outros dois livros. Já eu, passo pano para a mulher mesmo! Acho-a muito boa em criar suspenses, e em desvendá-los aos poucos. Segurando-me fielmente até a última pagina, sem nunca perder o interesse.
“Existe, Gabe descobriu, mais de uma forma de desaparecer.”
Gabe Forman, nosso protagonista, tem uma história triste para nos contar. Há três anos sua espoa, Jenny, e sua filha de cinco anos, Izzy, foram assassinadas na residência da família, quando ele estava fora de casa. Supostamente a desgraça aconteceu, quando ele retornava do trabalho para um compromisso com hora marcada com as mulheres da sua vida. E isso o devastou, como é de se supor.
Contudo, embora sua vida tenha perdido qualquer sentido de normalidade, Gabe continua procurando por Izzy. Ele não conseguiu fazer o reconhecimento do corpo da criança (seu sogro quem o fez). Por isso, e por uma sensação dentro de si, Gabe não acredita que Izzy esteja realmente morta.
Ele passa então a “viver” na rodovia M1 (Inglaterra), em busca de encontrar rastros de sua filha. Ele não mora mais na casa onde sua família foi assassinada – como poderia?, e na noite trágica em que retornava a seu lar, ele viu à sua frente, em um carro cheio de adesivos peculiares e frases engraçadinhas/sarcásticas, uma garota EXATAMENTE como Izzy.
Essa é a tônica de sua busca interminável, incessante! Ele tem certeza que alguém estava levando sua menina embora. Maassss, como explicar outra criança morta em sua casa junto de sua esposa? Como explicar um avô reconhecer erroneamente o corpo de sua neta? Será que Gabe está buscando subterfúgios para não encarar seu luto? Essas foram algumas perguntas que meu cérebro foi fervilhando enquanto, sem ao menos me dar conta, eu adentrava de cabeça às páginas de “As Outras Pessoas”.
“Uma longa pausa. Um silêncio pesado e abafado. O tipo de silêncio, pensou ele, que transborda de palavras não ditas. Palavras prestes a destruir completamente a sua vida.”
Você irá perceber que Gabe não é mais do que uma sombra do homem que um dia foi. E que essa busca, que ele tomou como estilo de vida, é de certa forma uma maneira de se auto punir por não ter estado em casa mais cedo e enfrentado a situação junto de Jenny e Izzy. Ele não se perdoa. E temos a impressão que ele nunca se perdoará. No entanto a vida vem cobrando dele em outras questões, pois esse não é um estilo de vida saudável.
O motivo de dirigir sem parar onde ele insiste ter visto a filha pela última vez, é porque ele não consegue mais dormir. Se estiver muito cansado, para e estaciona em algum posto de serviço já tão bem conhecido. Gabe pode acabar se tornando alguém mentalmente instável, por acreditar em algo que todos sabem o quanto impossível é de ser realidade.
Gabe também vem se tornando alvo de diversos tipos de situações inusitadas e perigosas, pois ele está sempre encontrando informações perigosas, ou fotos comprometedoras. A polícia também meio que mantém um contato com ele, pois, não sei… Devem ter um pouco de pena do cara. Uma vez que ele não poderia ser o causador dos assassinatos.
Em um momento inegavelmente de desespero, onde Gabe quase ceifa sua própria vida por tamanha angústia, ele encontra um cara estranho que praticamente salva sua vida. Ele se autodenomina o Samaritano. E desde que se conheceram, o Samaritano vem dando uma ajuda a Gabe para tentar encontrar o carro velho cheio de adesivos, ou o rastro de sua pequena Izzy.
“As pessoas dizem que ódio e amargura vão destruir você, mas estão enganadas. É a esperança. É a esperança que vai devorá-lo de dentro para fora como um parasita. Vai deixá-lo em suspenso como uma isca para tubarão. Mas a esperança não vai matá-lo. Não é tão gentil assim.”
Para não entrarmos em detalhes mais específicos que possivelmente roubarão sua experiência enquanto leitor de suspense… Vou parar por aqui em detalhar os fatos de “As Outras Pessoas”. Mas, a partir do momento que Gabe é chamado pelo Samaritano a comparecer em determinado lugar, porque ele encontrou algo que poderá reacender as chamas da quase extinta esperança que esse pai guarda no peito, as coisas começam a pegar fogo. E a história não desanda e não perde o ritmo até o fim. Parabéns, Tudor! Você sabe mesmo me convencer a te amar.
Uma das perguntas que bateram firme desde o momento que vi o anúncio de um livro novo, era: O que seria “As Outras Pessoas”? E de uma forma bem interessante e atual, a autora nos traz uma perspectiva tecnológica, sombria e perigosa. Contudo, gostaria de salientar que teremos sim um pézinho no sobrenatural. Se acostumem! Descobriremos que qualquer distração que tenhamos na vida, e por isso algo venha a acontecer contra nossa vontade, poderemos pagar um preço alto, e às vezes, para sempre.
“Estar desaparecido é diferente de estar morto. De certa forma, é pior. A morte oferece um fim. A morte dá permissão para o luto. Para fazer um funeral, acender velas e deixar flore num túmulo. Para seguir em frente.”
Não perca a chance de ler “As Outras Pessoas” e venha também exaltar essa autora comigo. Que com seus apenas três livros, já tem lugar cativo no meu coração literário. Sou imensamente feliz e satisfeita por C. J. Tudor ter sua casa estabelecida na editora Intrínseca aqui no Brasil. O trabalho da editora é totalmente excelente. O cuidado semelhantemente com as capas, o diferencial de a autora ser publicada em capa dura, o estilo da fonte nos capítulos, os detalhes de seus homenzinhos palitos, feitos de giz, ou recorte de papel… Nossa! Não sei mais como elogiar tais escolhas. Eu amo total e incondicionalmente.
C. J. Tudor nasceu em Salisbury e cresceu em Nottingham (Inglaterra), onde ela ainda vive com seu marido e filha. Deixou a escola aos 16 anos, e teve diversos tipos de empregos. Diz sempre ter gostado de escrever, e que teve muito material seu negado pelas editoras. “As Outras Pessoas” é seu terceiro livro publicado. Portanto, continuo sonhando com aquela promessa de obras suas serem adaptadas para a tela. Não consigo me conter com essa expectativa.
“Assustador, o amor que se sente por uma criança. Desde o primeiro minuto em que você segura aquela cabeça macia e grudenta no colo, tudo muda. Você vive num estado perpétuo de fascínio e terror: fascínio por ter produzido algo tão incrível, e terror de que a qualquer momento isso possa ser arrancado de você.”
Por: Carol Nery
Site: www.coisasdemineira.com/as-outras-pessoas/