Cadê o brincar?

Cadê o brincar? Flávia Cristina Oliveira Murbach de Barros




Resenhas - Cadê o Brincar?


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Menina Ciria 02/09/2022

O trabalho trata-se de uma dissertação de mestrado que ganhou o formato de livro. A autora tece o tema do brincar com bastante responsabilidade e clareza. Pelo que é descrito pela pesquisadora dá para perceber os desafios enfrentados na escola ao investigar o tema do brincar. A pesquisa foi realizada em 2006, quando os municipios começaram a implantar o Ensino fundamental de 9 anos, e a Educação Infantil passou a atender crianças de 0 a 5 anos. Fato este que roubou 1 ano das crianças brasileiras. As crianças de 6 anos não mais frequentam o ambiente da pré-escola, desde então elas passaram a cursar um currículo inteiramente voltado para a alfabetização, com menos tempo para brincar e se divertir. O trabalho de Barros mostrou que cada vez mais as crianças tem menos tempo de brincar na escola. Ressalta o brincar como um direito da criança e como os profissionais da Educação, que deveriam ser agentes de garantia desse direito, administram o tempo escolar de forma que o brincar seja o último item da lista de prioridades. Este é um tema explorado exaustivamente em pesquisas, capacitações e treinamentos, no entanto, apresenra uma prática limitada no cotidiano escolar. "As crianças pequenas dependemos dos adultos para lutarem e assegurem seus direitos. Em função das suas caracteristicas próprias, principalmente etárias, elas não conseguem se organizar pela luta de seus direitos" (Leite e Filho, 2001).
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Tati- Leitora 22/11/2020

Maravilhoso
O livro fala sobre como o brincar anda desaparecendo nas escolas e a autora foi simplesmente maravilhosa em toda a sua pesquisa.

A leitura é muito tranquila e fluida, tornando o entendimento do texto fácil e fazendo o leitor se sentir bem.
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Sabrina 07/04/2014

Cadê o Brincar?
BARROS, Flávia Cristina Oliveira Murbach. Cadê o Brincar?: da educação infantil para o ensino fundamental. São Paulo, Editora UNESP; São Paulo, Cultura Acadêmica, 2009. Disponível em Scielo Books.

A autora começa o livro apresentando-nos a proposta de sua pesquisa, no qual se tornou o livro Cadê o Brincar?: da educação infantil para o ensino fundamental. Abordando a crescente diminuição do brincar no ambiente escolar. Para Barros (2009), o brincar é uma atividade que colabora com o desenvolvimento das potencialidades, e das relações sociais.
A autora salienta, que este tema foi se desenrolando ao longo da sua formação acadêmica, estágios, e pesquisas. Concluindo de forma reflexiva que o brincar é um direito de todas as crianças.
Os estágios obrigatórios realizados durante o período de graduação em Educação Infantil e no Ensino Fundamental, também contribuíram apara algumas considerações, ainda que muito simplistas, sobre a relação de brincar e os direitos da criança e a construção do conhecimento através dessa atividade, essencial ao desenvolvimento infantil. Portanto, brincar faz parte dos direitos da infância. (BARROS, 2009; P.17)
[...] leituras sobre o desenvolvimento psicológico na perspectiva histórico-cultural se intensificou. Essa perspectiva veio reforçar o pressuposto de que a relação das crianças com as experiências culturais, a arte, a música, o brincar e as brincadeiras, a troca de experiência com outros parceiros, no contexto escolar, tem papel fundamental para seu desenvolvimento. (BARROS, 2009; P.18)
Diderot, por sua vez, entende que a brincadeira traz à criança experiências capazes de lhe permitir compreender as coisas que a rodeiam. Outro autor que merece destaque é Morelly, o qual aponta, em seus estudos, a maneira potencializadora das brincadeiras para o desenvolvimento da atenção, paciência e concentração, tendo sido ele "o primeiro a assinalar o fascínio dos pequenos perante o movimento do pião, o vaivém do volante da bola, ao passo que os seus contemporâneos apenas os veem como simples exercícios físicos" (BARROS apud Manson, 2002, p.249).
Também nos é apresentado, as bases teóricas de sua pesquisa, fundamentando o ponto de vista do brincar como direito, e estimulo de potencialidades da criança, em questões de aprendizagem, relação social, psíquica, lúdica e forma de leitura do mundo, uma forma de comunicação. A atividade do brincar proporciona, um desenvolvimento integral do ser humano, humanizando-o e respeitando as especificidades . A autora usa a ideia de leitura de mundo de Freire (1989), que linguagem e realidade se prendem dinamicamente, e que a compreensão da palavra é também ligada diretamente com sua percepção de mundo, dessa relação do texto e do contexto, numa visão histórico-cultural. Além de uma implícita menção à Freire, a autora destaca, alguns outros autores como Freinet:
Celestin Freinet, com suas técnicas de trabalho com crianças, impulsionava-as à criação e a participação coletiva, por meio de atividades como o desenho livre, o texto livre, aulas-passeio, o dicionário das crianças, o livro da vida, o jornal feito pelas crianças, a correspondência interescolar etc. Essas atividades ou técnicas de Freinet tem como eixo norteador garantir o conhecimento de forma significativa, tendo a criança como centro desse processo. Freinet também propunha o jogo como atividade fundamental para o desenvolvimento infantil. (BARROS, 2009; p.18)

O brincar contribui para o processo de formação da subjetividade do indivíduo, considerando que somos formados por nossas experiências sociais pelo contato com os objetos da cultura, durante nossa história de vida. (BARROS, 2009; P.69)

Um dos motivos apontados pela autora pela diminuição do brincar, no âmbito escolar, são justamente as políticas educacionais da atualidade. Que são movidas por um modelo capitalista, que está antecipando etapas da educação infantil, a favor de uma alfabetização precoce e de alcance de metas e números. O brincar na escola bem sumindo, por questões sociopolíticas.
As políticas educacionais atuais, impulsionadas pelos princípios do sistema vigente, tem se pautado para preparar a criança para o mercado consumidor. Dessa maneira o comprometimento da formação social e integral do indivíduo está sendo cada vez mais relegado a segundo plano, o que afeta o curso do seu desenvolvimento. Considerando o contexto escolar, em face dessa política, as atividades escolares estão mais dirigidas à escolarização precoce, trazendo danos ao processo de formação da criança. O brincar, atividade principal do período da infância, está perdendo seu espaço para “atividades” dirigidas ao processo de alfabetização, sendo este, hoje, o objetivo mais relevante das escolas. (BARROS, 2009; P. 23)

A autora também apresenta, a importância do brincar, apesar de ter apoio em diversos documentos oficiais como a Constituição de 1998, ECA 1990, LBD 1996... ainda não tem muita relevância nas escolas. Não da forma espontânea e formadora, mas sim de um modo mecânico como objeto de alfabetização ou como premiação, do modelo capitalista. Com isso, a criança também vai perdendo a concepção do brincar espontâneo.

A antecipação da alfabetização, o disciplinamento das crianças, o uso de atividades enfadonhas e sem sentido, apenas com função gráfica, fazem que diminua o envolvimento das crianças com atividades que tenham sentido e significado a elas, essenciais ao seu desenvolvimento, como as brincadeiras, as cantigas, as atividades artísticas e de expressão, prendendo-se apenas as atividades de decodificação. (BARROS, 2009; p.39)
O que temos aqui é o surgimento da ideia de que não se deve brincar só por brincar, mas brincar com algum proposito externo, como renome, dinheiro, condicionamento físico, ascensão social, orgulho nacional. Para os adultos brincar é coisa séria. A medida que a infância desaparece, desaparece também a concepção infantil do brincar. (BARROS, 2009; p.58)

Barros também faz uma contextualização do ato de brincar, e da relação do brinquedo ao longo dos tempos. No século XXVI, a criança começa a ser retratar as crianças em sua atividade principal: o brincar e os brinquedos. A “surgimento” da infância, e o surgimento do brinquedo se entrelaça ao longo da história.
Discutir o aparecimento da infância, entrelaçado com o brinquedo objeto, traz reflexões sustentáveis como a entrada da ação do brincar como atividade essencial para o desenvolvimento infantil, sendo percebido por várias áreas do conhecimento, especificamente a Psicologia e Pedagogia. Destaco, ao longo da história, a relevância da arte, como pintura e poesia, os vários ramos da literatura e os próprios movimentos sociais e políticos como fatores cruciais para o desenvolvimento histórico dos jogos e brincadeiras, assim como o aparecimento do próprio brinquedo objeto. (BARROS, 2009; P.57)
Nos séculos XIX e XX, os debates sobre os brinquedos e as brincadeiras se intensificam. O próprio contexto escolar vai-se modificando diante de vários estudos em áreas como a Pedagogia, a Psicologia, a Sociologia e a Filosofia, e o brinquedo se transforma em uma discussão presente educação e de domínio público. (BARROS, 2009, P.68)
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psykloz 02/05/2014

Fui tomada pela atenção por se tratar de um livro pedagógico (relacionado à pedagogia e a psicologia da criança), e por induzir a um senso crítico para debate a respeito da temática educacional infantil.

No início, a escrita do livro transparece uma leitura técnica e pouco emocional: cronogramas, nomes, períodos. Essa identificação se transforma conforme o andamento dos capítulos e caminha para um envolvimento emocional com o que é ser criança desde o início, onde, cronologicamente a autora contou sobre a visão a respeito das crianças a partir do século XVI, incluindo do ponto de vista da necessidade e da valorização do brincar até os dias atuais.
A escola escolhida para a elaboração do trabalho de campo foi, sem dúvida, feita à dedo para que fosse possível observar a maior quantidade de problemas, desinformação e descaso. A visão refente ao conteúdo das entrevistas mostra-se clara devido ao claro posicionamento dos entrevistados e da pesquisadora a respeito do assunto. É interessante a utilização de trechos de entrevistas como títulos dos capítulos, dando início a novos assuntos e debates referentes a um comentário levantado em uma das entrevistas. A pesquisa toda foi muito bem elaborada, pontuando as dificuldades e demonstrando, por meio da pesquisa de campo, toda a problemática observada a respeito do assunto (pesquisa embasada do início ao fim).

A autora orienta-se pela teoria histórico-cultural de Lev Semyonovich Vygotsky onde a criança, como ser humano, é resultado de diversas etapas absortivas de espaço e relações sociais entre todos aqueles que estão inseridos em seu contexto natural de desenvolvimento. Dessa forma, as crianças precisam ter espaço para seu desenvolvimento pessoal, considerando que cada criança é um ser humano único com características próprias. Isso não acontece no quadro da educação infantil atual visto que, para atingir metas de ensino e alfabetização, os professores são pressionados a seguir o sistema apostilado onde "as apostilas servem para que todos os alunos tenham a mesma aprendizagem", coisa que não deve ser pensada sendo que cada ser humano se desenvolve de uma forma diferente do outro. Com isso, descartam-se suas particularidades e singularidades. A educação é vista desde o início da vida da criança como forma de prepará-las para o mercado de trabalho. Isso gerou um grande foco para o rápido desenvolvimento da sociedade e a necessidade do indivíduo em adaptar-se a essas mudanças. O ensino apostilado veio para fixar isto: "A tarefa educacional, que deveria ser 'uma transformação social, ampla e emancipadora', está cumprindo justamente a finalidade oposta - a de formar indivíduos cada vez mais submissos e dependentes do sistema, resistentes às mudanças sociais que não estejam ligadas aos interesses econômicos." (p.46).
Alguns pontos ressaltados no texto como, por exemplo, o isolamento da criança das outras crianças de faixa etária diferente da dela impedindo que, com essa interação, ela desenvolva a socialibilidade, a alfabetização apressada em detrimento de outras formações da criança e levantamento de questionamentos como "O que é a dificuldade de aprendizagem, para a escola atual? Quem tem dificuldade - a criança ou a escola?" (p.29) - relações com o capitalismo dominante, fazem uma crítica justa à realidade do ensino atual, onde o foco não está realmente no bem estar e no desenvolvimento da criança.

Tem-se que a escola está sendo um espaço para transmitir ensinamentos sem relação com o cotidiano e as necessidades das crianças. As crianças acabam sendo condicionadas à perda da criatividade e ao parar de brincar porque adaptam-se às condições oferecidas pela escola e, nas salas de aula, pela visão da professora do que é certo ou errado. Deixam de criar. Brincar é uma interpretação da realidade e é importante para que a criança desenvolva a sua própria concepção da vida. Hoje pode ser observado que há uma falta de compreensão com o que é ser criança. Cobra-se demais. Desconsidera-se a fase de formação, crescimento e aprendizado. Satiriza as crianças que não sabem e que possuem dificuldades pessoais. Não existe paciência. Do ponto de vista da escola, as crianças transformaram-se em máquinas.
A pesquisa tece uma perfeita crítica ao ensino atual, fazendo observações a respeito da fábrica de mão-de-obra, "preocupando-se mais com as demandas mercadológicas do que com a obtenção do conhecimento". (p.173). Estamos regredindo para antes do que foi conquistado no século XIX, onde a criança não tinha importância em sua individualidade (em termos psicológicos e de crescimento pessoal), avançando estágios e desconsiderando o próprio processo de desenvolvimento.

Pelos fatos narrados provenientes das entrevistas com os docentes, nitidamente observa-se o desinteresse com relação à formação emocional e psíquica das crianças, dando enfoque apenas para a alfabetização direta. As crianças perdem a vez e a voz e passam a agir de acordo com uma sociedade capitalista desde cedo. As vontades e as individualidades não contam mais. Tudo passa a ser tratado com especificidade técnicas, desconsiderando as humanas e individuais. Isso gera uma alienação com relação às outras esferas da vida humana, fazendo com que o indivíduo aja mecanicamente sem levar em consideração seus interesses pessoais, íntimos, individuais e empíricos.

A apostila deveria ter função como um material de apoio contendo o conteúdo pedagógico básico de ensino. Entretanto faz com que as aulas sejam maçantes, fixadas em um único processo onde há pouca interação com a evolução da criança como pessoa individual. São poucos os projetos e atividades diferenciadas que são oferecidas pela escola e pouco tempo é ofertado para brincadeiras livres. Não há sequer uma tentativa de dosagem. Deveria ser estimulado o desenvolvimento da criança partindo do que ela traz em termos socio-culturais, de sua individualidade, ou seja, de acordo com a sua necessidade.

Considerações pessoais finais:

Todo o processo de evolução humana está sendo precoce. A alfabetização é um outro processo que está acontecendo na mesma velocidade que a nossa evolução. A escolaridade precoce seria mesmo prejudicial à criança? Penso que precisa haver um equilíbrio entre as duas partes: brincadeiras lúdicas e técnicas de ensino. Essa antecipação natural do desenvolvimento da criança, a inteligência e a curiosidade mais aguçadas desde cedo, são princípios que devem sim ser tirado proveito, respeitando a mentalidade e o espaço de brincar da criança. Isso facilitaria a aprendizagem em muitas áreas do conhecimento pois é todo um processo psíquico que está em formação, não sendo apenas emocional.

O cérebro possui a incrível capacidade de absorver todas essas informações ao mesmo tempo. Defender o ensino antecipado não é ignorar a infância das crianças. As crianças estão cada vez mais inteligentes, mais espertas e com o aprendizado mais rápido e antecipado, é completamente válido o ensino fundamental iniciar aos 6 anos, desde que não seja em detrimento de atividades infantis, das brincadeiras. É necessário bom senso e discernimento para não incentivar um desenvolvimento prejudicando o outro. Porque é, sim, possível a realização de todas essas atividades. Dependerá da escola, dependerá do professor e da sua sensibilidade para com o ser humano em formação. A educação precisa ser trabalhada como um incentivo ao desenvolvimento pessoal da criança, à criatividade, às suas visões pessoais.

O erro está nos professores que seguem mecanicamente aquilo que lhes foi proposto, sem observar as peculiaridades das crianças, sem se importar se estão gostando, se estão felizes. Isso é muito facilmente observado através das entrevistas realizadas (incorporadas à redação do livro). O fim da inocência das crianças e das brincadeiras se dá devido a incorporação da tecnologia em todos os cantos da vida nessa nova era: televisão, computador, internet, videogames. O abandono às tradições e às atividades criativas, pensadas.

Se o ensino for inserido e tratado de forma correta, ele pode ajudar muito no interesse da criança por aprender desde cedo. Considerar professor e aluno como passíveis de atividades cooperativas para que então todos, com auxílio, possam desenvolver suas habilidades e potencialidades naturais. Diferente dessa fragmentação de conteúdo, impedindo a compreensão geral da relação de uma com a outra, uma reflexão sobre a própria cultura, sobre causas, consequências, processos.
Estamos falando de identidades.
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