AlexN 08/05/2021
A culpa jamais será da vítima.
Não duvide que esta é uma leitura difícil.
Eu iniciei o livro com uma noção rasa, do senso comum, sobre o estupro e a cultura que o perpetua e o encoraja. A cada página, a cada depoimento, a cada depoimento, fui ficando horrorizado. É um estado mental de terror para as mulheres se preocupar com o estupro dentro e fora de casa. Sim, elas não estão seguras nem dentro de casa, na presença da figura masculina, seja do pai, de um tio, de um amigo da família, em qualquer rincão deste país. O livro traz histórias de estupros de crianças, algo aterrador, nojento. É chocante, para dizer o mínimo, pensar que há homens (e também mulheres, embora em menor número) que dilaceram a dignidade física de uma criança para satisfazer desejos horrendos.
O capítulo sobre a cultura do assédio e do estupro nas faculdades, em cursos em que se supõe que os alunos sejam mais conscientes e progressistas, me assustou demais. Professores passando cantadas em alunas, tocando nelas em partes íntimas sem permissão, condicionando ajuda a favores sexuais. Meu Deus! Eu tive um professor de Português no Ensino Médio que descaradamente assediava minhas colegas de classe cujos corpos estavam no padrão de beleza que a sociedade admira. Na época (anos 2002 e 2003) minha turma idolatrava esse professor. Após a leitura deste livro, precisei questionar e muito esse comportamento. Quantas não devem ter se incomodado e se sentido enojadas com aquele assédio recorrente, mas se calaram para não serem "estraga-prazeres"?
"Abuso" é um livro excepcional. Me fez, como homem, questionar ainda mais atitudes que eu admirava, quando em alguma festa com meus amigos. Me fez mergulhar mais fundo no terror feminino e me tornar muito mais empático.
Pudera estarmos vivendo tempos mais progressistas no Brasil. Este livro deveria compor nossas regras de educação e civilidade em sociedade, e trazer muitas mudanças. Torço para que isso aconteça um dia.