Alexandre | @estantedoale 24/11/2022
UM NOVO MUDNO, UM NOVO CAOS
Explorar e conquistar. Entre esses verbos sempre existiu muita coisa. Em um futuro onde a Terra não tem mais árvores e a tecnologia avançou o suficiente para criar a possibilidade de desbravar outros mundos, os homens não mudaram em nada seus instintos.
Em “Floresta é o nome do mundo”, Ursula K. Le Guin mostra o desempenho dos humanos na exploração do planeta Athshe, uma “nova Terra” cheia das mesmas árvores que, um dia, se encontrava aqui.
No meio disso, a narrativa em 3ª pessoa se divide em três pontos de vista: do capitão Davidson, do cientista Lyubov e do nativo – um athsheano – Selver.
Pontos de vista porque, por mais que se veja a autora narrando, as perspectivas dos personagens se misturam às suas palavras, expondo opiniões terranas e costumes athsheanos.
E considero que essa divisão tem um único propósito em toda a história: deixar leitores indignades.
É muito doloroso enxergar o quanto é vergonhoso ser humano através do olhar do capitão Davidson: um soldado americano que acredita que os athsheanos – a quem chama de creechies – devem ser submissos aos terranos, com falas e apelidos racistas, machistas e misóginas. Ele é o estopim de todo o caos nessa trama.
Ao passo que, também, Ursula nos faz acreditar no futuro. Lyubov, um cientista terrano, é quem desperta esperanças no leitor de que, mesmo com pessoas cruéis e insanas como Davidson, ainda existirão bons humanos no futuro. Ele faz amizade com o athsheano que lhe ensina seus costumes e sua língua.
E, a partir do olhar de Selver, enxergamos a cultura desse novo mundo. Os homenzinhos baixos, peludos e verdes, que sonham acordados e não sentem dor. É pela perspectiva desse protagonista, também, que vemos os athsheanos descobrirem não o que é a morte, mas a vontade de matar.
De todas as reflexões levantadas por Le Guin no decorrer desse livro, a “infecção emocional” causada pelas ações de Davidson ao povo de Athshe é a mais forte. É o que mais aproxima esse futuro da nossa realidade. Essa é uma leitura pesada, reflexiva, com alguns gatilhos – estupro, violência, exploração ambiental. Mas uma história incrível.
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