Andrea 11/05/2022O lado feio da humanidade Esse livro foi uma grata surpresa! Nunca havia lido nada da autora e resolvi começar por “Floresta é o nome do mundo” justamente por ter achado a sinopse bastante ousada, ainda mais considerando o ano de publicação (1972). Trata-se de um livro com temas pouco discutidos na literatura, com críticas ferrenhas às práticas colonizadoras, ao ódio pelos diferentes e ao sentimento de superioridade que justifica todo tipo de atrocidade cometida contra outros povos. O livro é curto, mas demandou um tempo considerável para terminar, não porque a escrita da autora seja rebuscada e/ou complexa, mas sim porque a crueza com que tantos absurdos são descritos é assustadora e fascinante. Os personagens colonizadores são verossímeis, são humanos essencialmente. Egoístas, autocentrados, especistas, racistas, oportunistas, etc. Mesmo os mais “bonzinhos”. Nesse sentido, acredito que o final do livro exagerou a benevolência de um dos yumanos o colocando como salvador dos athsheanos, ignorando sua demora para “perceber” os absurdos cometidos pela sua espécie contra a espécie nativa. Além disso, muitas das explicações sobre a pacificidade dos humanóides locais é pouco crível (para mim). Motivo pelo qual retirei uma estrela da nota final do livro.
Em resumo no livro é narrada a história de yumanos colonizadores (humanos terráqueos) que invadem um planeta chamado Athshe, cuja espécie dominante é composta por criaturas humanóides verdes peludas e menores do que os invasores. Essas criaturas viviam organizadas pacificamente em seu planeta e possuíam uma ligação bastante forte com a floresta. Logo que chegam os yumanos passam a criar colônias com o objetivo de extrair madeira e mandá-la para seu planeta de origem. Para isso utilizam os nativos, aos quais denominam “creechies”, como mão de obra. Durante alguns anos perdura essa dinâmica de escravização, sobretudo porque os athsheanos não estão acostumados a utilizar a mesma violência dos terráqueos. Até que em função dos abusos sofridos e da destruição massiva da floresta eles se revoltam e começam a tomar de volta o seu planeta.
Um dos personagens principais dessa história é Davidson, um oficial de patente baixa absolutamente egocêntrico e que acredita piamente na superioridade da sua espécie (humanos terráqueos colonizadores) em relação aos nativos. Uma pessoa capaz das maiores atrocidades (e vale o aviso: nesse livro tem MUITAS atrocidades e muita violência), porque é incapaz de respeitar a individualidade, as particularidades e os direitos dos nativos. Seu pensamento era o mesmo dos maiores assassinos da história humana fora da ficção: dos colonizadores que usurparam, que tomaram de assalto, que destruíram os diferentes; daqueles que aniquilaram e/ou se esforçaram para exterminar quem quer que fosse “indesejado”; dos incapazes de ver beleza e de aceitar os direitos de quem é diferente de si próprio; das piores pessoas.
A linguagem é crua, as violências são expostas da forma que são: violentas, cruéis, abjetas, reais. O pensamento que constrói as justificativas para esse tipo de ação são os mesmos que foram usados pelas pessoas reais, no mundo real. Isso é avassalador. A pretensa superioridade humana é parte indissociável da nossa cultura até os dias atuais. E dentro dessa superioridade que não é linear, grupos humanos favorecidos pela história utilizam argumentos semelhantes para dominar outros. Dentro da mesma espécie. Dentro da nossa espécie. Muito tempo já passou, mudamos pouco. Infelizmente.
Principais temas tratados: Racismo; especismo; colonização; ódio; violências.
Data da conclusão da leitura: 30/03/2022
Nota: 4/5