Suemi.Oliveira 06/01/2021Identidade - Nella Larsen “Identidade”, livro publicado em 1929 e obra de importante contribuição para o movimento cultural “Renascimento do Harlem”, aborda o a temática do colorismo, ao apresentar a história de duas mulheres negras que se conheceram ainda na infância e, após anos sem contato, tornam a se encontrar quando ambas já se tornaram adultas.
O termo colorismo surgiu na década de 80 e é “utilizado para diferenciar várias tonalidades da pele negra, do tom mais claro ao tom mais escuro. Essas tonalidades da pele negra também permitem a inclusão ou a exclusão na sociedade (...), como se isso tornasse o indivíduo menos negro, mais semelhante ao branco”.*
E o foco do romance é a maneira como as protagonistas, de personalidades tão distintas, lidam com sua negritude e como isso interfere em suas respectivas vidas, e por essa razão, o título em português não poderia ser mais apropriado.
A narradora, Irene Redfield, se reconhece e se identifica enquanto mulher negra, aceita suas origens e demonstra indignação quanto ao negacionismo da amiga, Clare Kendry, que optou por se passar por branca, visando ser aceita pela sociedade norteamericana racista e classista do século 20 e, sobretudo por seu marido, um homem branco e supremacista, perante o qual se torna cada vez mais desafiador sustentar a farsa.
Não há eventos extravagantes na história. Irene segue sua rotina familiar, à qual Clare acaba se inserindo, e são justamente as ocupações costumeiras da amiga, seu núcleo de amigos e sua forma de pensar que gradativamente revelam a Clare as consequências do processo de embranquecimento, fazendo com que a personagem seja obrigada e encarar sua negritude.
É difícil escrever sobre Identidade, primeiro porque as personagens são posicionadas dentro de situações cotidianas nas quais práticas racistas são demonstradas quase que com naturalidade, fato que mais me assustou durante a leitura. A segregação não ocorre somente entre “brancos VS. pretos”, mas também entre indivíduos negros conforme os tons de pele, o que acaba por nortear boa parte das decisões, como acontece com Irene e Clare. O desenvolvimento da narrativa é interessante e bem escrito, mas eu senti falta de maior aprofundamento das relações familiares das protagonistas. Sendo uma leitora que nunca sofreu racismo, eu diria que essa leitura pode – deve – ser, no mínimo, desconfortável e reflexiva para fazer sentido. É incrível o poder dessas 160 páginas.
* Trecho extraído do artigo "você sabe o que é colorismo?", disponível no site politize.com.br.