Lara Mélo 12/03/2021"muita gente finge ser o que não é o tempo todo"O livro de Nella Larsen tem como cenário a sociedade norte-americana na década de 1920, quando a segregação racial era escancarada, até legalizada, e não havia nenhuma vergonha ou hesitação em chamar os negros de "crioulos sujos".
A história tem como enredo principal o risco de fingir ser branco quando se tem sangue negro e vai tratar da volta súbita de Clare Kendry à vida de Irene Redfield, a voz da história. Clare é uma mestiça que engana o marido e a sociedade se passando por branca e, em dado momento, deseja se reaproximar da sociedade negra do Harlem, independente dos problemas que isso pode acarretar para sua vida e daqueles com quem convive.
Os diálogos das personagens principais sempre são permeados por palavras como raça, mestiços, negros, brancos, crioulos, etc. e choca em alguns momentos com frases como "temer que ela tivesse a pele escura" ou "ninguém quer uma criança negra".
Mas será que chocam mesmo? Quando paramos para pensar no racismo estrutural tão negado no Brasil lembramos que, em 2021, ainda há pessoas que julgam e diferenciam os outros pela cor da pele. Sabemos que ainda se morre, se passa fome, se sofre muito mais por ser negro.
Sinceramente, no fim da leitura, não consegui definir o que é mais difícil: viver num país em que as pessoas de pele clara com ascendência negra se passavam por brancas e escondiam suas raízes ou em um no qual se chegou a acreditar no mito da democracia racial, em que os mestiços de brancos, negros e indígenas "viveriam em harmonia" quando o que existe, na verdade, são desigualdades sociais diretamente relacionadas a questões raciais se perpetuando através dos séculos.