Carous 15/03/2021Um meme que descreva este livro: Início do sonho// Deu tudo errado.
Sério, os últimos 8 capítulos acabaram comigo. Não o vi se aproximar.
Inocente que sou, alheia à desgraça que viria, escolhi ler justamente esses capítulos em plena luz do dia e na frente dos outros. Conclusão: tive que esconder que estava chorando. Que humilhação leitores são submetidos!
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Achava que este livro seria um daqueles gostosos e divertidos sobre senhorinhas que se reinventam após na terceira idade. A capa do livro contribuiu para que pensasse que o enredo seria assim. Uma história fofa, alegre, alto astral. Tipo
A Troca.
Mas o tom do texto é muito mais melancólico e sóbrio do que humorado. Missy não tem a mesma jovialidade de Eileen, por exemplo, nem tantos compromissos ou amigos. Pelo menos, não no começo.
Missy é uma mulher meio engessada; ela mesmo se descreve como cinza. É a que fica no fundo do palco deixando os outros brilhantes porque não acha que tem muito a oferecer. Viveu uma vida plena, perdeu muitos entes queridos, abriu mão de muita coisa e se anulou bastante pelos filhos e, principalmente, pelo casamento. À medida que lia o livro, senti que ela faria tudo de novo, mas de um jeito diferente. Talvez se impondo mais, guardando menos para si. É bem óbvio que ela se ressente das palavras não ditas, de comportamentos do marido e seu que ela gostaria de mudar.
É mais velho que andar pra frente: Leo é magnífico, aos olhos de Missy. Ela o elogia bastante, mas vemos que ele não é tão perfeito assim. Missy o ama imensamente, mas ele é um homem do seu tempo e age como um. Ou seja nunca foi ele abrindo mão de nada, nunca se anulou por ninguém - que dirá pela esposa -, nunca engoliu palavras, ascendeu tranquilamente na carreira. Afinal, ele tinha Missy ali dando guarita pra ele, cuidando dos pormenores e contratempos como a administração da casa e a criação dos filhos. Por trás de um grande homem de sucesso, tem uma mulher sobrecarregada.
Eu também sou uma mulher do meu tempo, portanto, não suportei Leo. Fiquei feliz que ele passou o livro inteiro citado por terceiros e estava mais preocupada em saber se Missy enxergaria seu valor e começaria a viver.
É claro que casamentos são bem mais complicados que isso. Faço muitos elogios à Beth Morrey por conseguir colocar essa complexidade no papel com sucesso.
A maternidade também é uma teia enroscada e de novo Beth transmitiu bem todos os prazeres e angústias de ser mãe. Não só com Missy e seus filhos, mas com Angela também.
O livro tem alguns personagens secundários, mas Angela tem mais destaque do que os demais. Acho que a autora quis fazer um paralelo sobre maternidade entre ela e Missy: mulheres de gerações diferentes, com opiniões políticas divergentes, histórias diferentes. Uma casada e outra solteira. Alguma coisa mudou entre as mães de ontem e as de hoje?
No mais, é uma história de ficção contemporânea escrita por mulheres sem tirar nem pôr. Eu curto muito esse gênero e curto essa temática, então me deliciei com o livro. Não espere reviravoltas de cair o queixo, porque a narração é linear e foca mais na rotina de Missy.
Eu amei a Bob e gostei que ela foi mais de que uma conveniência para a história.