Luå 06/01/2024
Poesia e outros amores
"[...] meu fundo do poço era tão fundo que eu pensei que lá era o inferno. eu já brinquei e já dormi e já dancei com demônios mais poderosos do que você."
"eu me tornei confiante
quando decidi que me divertir
era muito mais importante
que meu medo de passar vergonha
- dançando em público".
Rupi Kaur é poeta, artista e performer, com apenas vinte e um anos ela escreveu, ilustrou e publicou de maneira independente seu primeiro livro de poesia: Outros Jeitos de Usar a Boca, e logo depois veio O Que o Sol Faz Com as Flores. Em sua terceira coletânea, percebe-se que a jovem escritora desenterrou o seu passado e o transformou em poesia para quem quisesse ler, entrelaçando também o presente e o futuro.
A princípio, eu pensei que Meu Corpo Minha Casa era um livro de autoajuda. Ganhei esse livro de presente e lembro de ter me sentido até ofendida, pensando: "Humm, esse cara acha que eu preciso ler autoajuda?" mas, felizmente, me enganei. Nada contra livros desse tipo, mas eu não gosto muito, é questão de gosto, nesse caso, assim como há vários leitores que não gostam de poesia.
O que é ser poeta? Na minha opinião, Rupi Kaur é uma poetisa extremamente talentosa, é notável a sua paixão pela escrita. Rupi escreve poesias com ardor e aborda alguns temas pesados, como estupro, depressão e ansiedade. Seus versos são profundos e, ao mesmo tempo, leves e delicados. Me encontro perdidamente apaixonada por todos os seus poemas.
Em suma, Meu Corpo Minha Casa é um lindo livro de poesias, que contém poemas que falam sobre amor, perda, trauma, cura, feminilidade, amor-próprio e imigração. Além disso, esse livro é como se fosse uma ferida aberta e a autora, por meio dos seus versos, vai remendando seu coração e sua alma, buscando uma cura tanto interna quanto externa; e é quando a gente percebe que passamos a maior parte da vida procurando por algo inexistente, por prazeres efêmeros e nos deixando de lado:
"mergulho na nascente do meu corpo
e chego a outro mundo
eu tenho tudo
de que preciso aqui dentro
não há motivo para procurar
em outro lugar
- casa".
Deixarei aqui algumas das minhas poesias favoritas:
"em um mundo que pensa
que meu corpo não me pertence
dar prazer a mim mesma é um ato
de amor-próprio
quando me sinto desconectada
eu me conecto com meu cerne
um toque por vez
eu retorno a mim mesma
na hora do orgasmo".
"eu não vou fingir
que sou menos inteligente
para que um homem fique
mais à vontade ao meu lado
a pessoa que eu mereço
vai ver o meu talento
e vai enaltecê-lo".
"o que não falta na büceta é coragem
que jamais nos esqueçamos
quanta dor
ela aguenta
quanto prazer ela gera
para si mesma e para os outros
não se esqueça
de como ela te cuspiu
sem pensar duas vezes
e agora olha você aí
usando a palavra "büceta"
como se fosse ofensa
sendo que você não tem
metade da força dela".