Francielly Oliveira 19/02/2024
O cancelamento existe?
Escrever resenhas ou mesmo comentários breves sobre clássicos como Alice no País das Maravilhas sempre me proporciona um misto de diversão e apreensão. Sinto apreensão porque é difícil encontrar uma perspectiva sobre o livro que ainda não tenha sido explorada, e devido às interpretações já difundidas em filmes, nosso pensamento geralmente é influenciado com preconceitos. Considerando que essa obra é um grande clássico conhecido por muita gente, sinto que há pouco a acrescentar além de uma visão mais geral. Alguns consideram Charles Lutwidge Dodgson, mais conhecido pelo pseudônimo Lewis Carroll, um gênio. Vale a pena mencionar, embora eu não vá me aprofundar sobre, que existem suspeitas sobre o autor ser pedófilo. No contexto social da Inglaterra Vitoriana, 12 anos já era a idade considerada para o ato sexual (veja que não usei a palavra consentimento). Como alguém que valoriza o contexto e compreende a importância de considerar as circunstâncias gerais, estarei sendo hipócrita. Afinal, qual o problema em pseudo cancelar alguém que faleceu no século passado? Me processar é que ele não vai.
Por outro lado, acho divertido tentar analisar o livro em si. Nem sempre a visão "geral" que temos da história corresponde à realidade da obra. Isso acontece em parte porque às vezes, clássicos como este têm seus enredos e diálogos adaptados ao longo do tempo. Alice no País das Maravilhas não é exatamente igual aos filmes ou animações da Disney, mas também não é tão diferente. Alguns argumentam que o humor é o foco da história, enquanto a interpretação freudiana é subjetiva dependendo do leitor. Eu acredito que ambos os aspectos podem ser apreciados, dependendo do olhar de cada um. As aventuras de Alice podem parecer tanto trágicas quanto cômicas, ou até mesmo filosóficas, dependendo da perspectiva do leitor. Sendo sincera, eu acho que é possível encontrar qualquer tipo de significado em qualquer tipo de coisa, depende só de quem busca. Seja uma comédia ou um texto filosófico, Alice no País das Maravilhas é um livro interessante. Particularmente, aprecio as narrativas meio sem sentido (nonsense), o que se encaixa perfeitamente na história da Alice, uma criança de 7 anos. Afinal, que criança pensa de forma racional? Se é que o que penso ser racional, seja realmente Racional. Viu?! Divagar ou questionar a si mesmo são efeitos interessantes do livro. Além disso, considero que o autor organizou os capítulos de forma confusa but estranhamente organizada. Acho que alguns trechos poderiam ter sido melhor desenvolvidos para permitir uma compreensão mais clara do enredo. Mas, isso é uma questão pessoal, já que, sendo assumidamente prolixa, sempre prefiro uma narrativa mais detalhada. E, obviamente, não acredito que poderia fazer melhor que o autor. No mais, essa edição da TAG (que ganhei de presente) é fofinha e tem uma linguagem legal, sendo uma boa opção para quem deseja começar a explorar os clássicos.
Obs. As ilustrações de John Tenniel são o ponto alto do livro para mim. O talento de Tenniel como cartunista é inegável.