llammer 17/03/2024
Um desses livros que nos faz olhar para a vida de um jeito diferente. bell hooks traz ideias muito potentes, com base no argumento central da necessidade de utilizarmos a ética do amor como instrumento de mudança social.
Para mim, o grande destaque é o capítulo sobre o luto. Muito, muito profundo mesmo.
Porém, dois aspectos me deixaram um pouco desconfortável. O primeiro tem a ver com uma visão que eu julgo muito estadunidense da história da própria sociedade - discordo profundamente quando a autora coloca a guerra do Vietnã como divisor de águas entre uma mentalidade mais comunitária e uma obsessão maior com o individualismo. Os EUA são um país tradicionalmente fundado no liberalismo individualista, com uma sociedade pautada há séculos pelas linhas-mestras de uma ética protestante (hello, Weber) e, ainda que a contracultura dos 1960s tenha questionado um pouco essas bases, acho muito forçado dizer que houve uma mudança tão paradigmática quando a maioria dos hippies virou um bando yuppies safados (minhas palavras, não as dela, hehe). O segundo aspecto que me traz desconforto já é mais da ordem pessoal, porque meu ceticismo realmente limita a minha abertura para entender a espiritualidade como um pilar para a ética do amor. Concordo que, para quem vive sua espiritualidade intensamente ou cresceu em uma cultura religiosa, a ética do amor aparece como forma de viver de acordo com práticas amorosas e comunitárias, e não destilando preconceito e bradando discursos de ódio ou elegendo pessoas horrorosas e antidemocráticas. Entretanto, pessoalmente, não entendo que o ateísmo ou ceticismo atrapalhe na defesa de uma sociedade mais igualitária, comunitária e justa.