Brenda 03/03/2022
Começo a escrever esta resenha ainda me perguntando o quanto desse amor, delineado, pela hooks, foi deixado em mim.
"Tudo sobre o amor: novas perspectivas" é um livro e tanto, em muitos sentidos. Gostei, particularmente, dos capítulos "justiça: lições de amor na infância", "honestidade: seja verdadeira com o amor" e "perda: amor na vida e na morte". Capítulos distintos, com focos próprios ? a infância, a honestidade e a morte ?, mas que se tocam, visto que todos se ocupam do amor, do dar amor a si e ao outro e do receber amor de si e do outro.
Esses capítulos foram muito fundamentais e acolhedores, trouxeram à vista pensamentos e sentimentos que me foram ou me são importantes para uma compreensão mais bem estruturada do amor. bell hooks pontua coisas importantíssimas em seu livro, nos recorda do que é fundamental não só para uma relação saudável com o amor-ação, mas que, também, são primárias para uma vida ativa, consciente e sadia.
Porém, zelando meus próprios sentimentos, confesso que do quarto ao décimo primeiro capítulos me vi à deriva. Citações de autores de autoajuda e seus livros pouco sérios cresceram sufocantemente, e vieram acompanhados de uma devoção cristã esmagadora.
Em 70% do livro me vi negada, um corpo estranho e incabível ? um amor normativo, normalizado e binário foi ganhando força, papéis de gênero e divisões sociais de trabalho, performance e responsabilidade afetiva foram invadindo aquilo que eu estava tomando como valioso. Foi uma leitura muito transformadora, no início, e essa transformação não se perdeu, mas foi interrompida por concepções individualistas e de fé absoluta.
Sinto a bell hooks enquanto corpo significativo e significante de mudança, mas este livro, em específico, me decepcionou. A diversidade de corpos que somos foi substituída pelo ideal cristão homem X mulher e muito se perdeu na grande chance de pontuar urgências ? o capitalismo, o trabalho, o desemprego, o monoculturalismo norte-americano, as normatividades de gênero e de sexualidade e, até mesmo, questões pertinentes sobre raça e etnia perderam vaga para as demandas espirituais do cristianismo e da professão da fé como reais responsáveis pela presença pertinente e modificante do amor.
No geral, diria que todo gesto de leitura vale a pena, mas nem todos eles podem nos arrebatar.