Bárbara 20/02/2021Maravilhoso!Ir e vir continuamente; este é um dos significados para trançar. Tranças, compostas por três mechas, tal qual a história dessa obra. De três continentes diversos, somos apresentadas a Smita, Giulia e Sarah, todas com algo em comum: a resiliência e a força de ser mulher frente às adversidades. E, assim como a trança, em determinado momento as histórias se encontram. Imagine que um pequeno gesto seu pode acabar influenciando a vida de uma pessoa do outro lado do mundo...
A vontade de assumir o protagonismo das próprias histórias é o fio condutor da obra. Smita é uma intocável, uma dalit. Sem casta, à margem da sociedade. De acordo com a cultura indiana, seu destino - principalmente por ser mulher - é o de recolher dejetos na aldeia onde mora, na Índia. Sem acesso à moradia digna, ou à refeição de qualidade, sequer pode almejar ter uma educação. Mas não é isso que deseja para a filha, Lalita, ainda pequena. Algo há de ser feito para que a criança tenha direito a uma vida melhor que a sua e de seus antepassados. E Smita está disposta a fazer essa realidade se concretizar.
Giulia, por sua vez, é uma jovem siciliana. Moradora de Palermo, dedica-se ao ofício de sua família, que há gerações vive da cascatura, prática de guardar os cabelos que caem ou que são cortados para depois virarem perucas ou apliques. Todo o passo a passo foi passado de pai para filha, que tem orgulho do que faz. De repente, sua vida muda quando um acidente acontece, e ela descobre algo inimaginável.
Por fim, há Sarah Cohen, uma advogada canadense brilhante, workaholic assumida. Com três filhos, sempre foi independente e nunca deixou que sua vida pessoal fosse revelada a ninguém. Ela não tem amigos, apenas o trabalho como seu companheiro. Vive seus dias com pontualidade militar. Mas algo muda sua vida tão rigorosamente programada e, sem chão, ela tem que se adaptar a uma nova rotina.
De escrita poética, com capítulos curtos e alternados sobre cada personagem, este é um livro emocionante. A tríade de personagens é bastante interessante.
O recorte da vida de cada uma mostra dramas, medos, anseios e dúvidas. Mas também enfatiza a vontade de se libertar das amarras da sociedade; com Smita, de dar dignidade à filha; Giulia, a liberdade de assumir os negócios da família; Sarah, de se ver despida de uma sociedade que descarta as pessoas quanto elas apresentam quaisquer dificuldades, como se fossem objetos.
É um livro curto, mas, bastante emocionante e forte. Com uma mensagem de coragem e de que nunca é tarde para recomeçar, aliado ao fato de que haverá sempre batalhas na vida, mas que levantar a cabeça e combatê-las é fundamental. Não tenho dúvidas de que é um livro que fala diretamente com o coração de cada leitor. Quer mais motivos pra ler? Será adaptado em breve! Prepare-se quando ler, sem dúvida a história dessas três mulheres vai ficar entrançada em você.