spoiler visualizarSong 19/02/2023
A dor é inevitável. O sofrimento é opcional.
Este é, de fato, o melhor dos três primeiros volumes de Dragões de Éter. Apesar de ter adorado a leitura do primeiro volume, sendo este responsável por me fazer querer ler mais livros de fantasia, seja pelos personagens carismáticos ou pela história cativante, o segundo volume, devo confessar, me desapontou bastante, me levando a questionar se deveria continuar a leitura dessa série de livros. Felizmente, continuei.
Aqui, fica perceptível o progresso dos personagens, apesar de alguns continuarem sendo completamente negligenciados. Ao compararmos Axel, Ariane e, principalmente, João do primeiro volume para este, vemos um grande amadurecimento de cada um deles ao mesmo tempo que assumem cada vez mais responsabilidades em relação aos seus papéis na história. O príncipe, que vemos no começo, passa de um jovem amante de pugilismo e apaixonado por uma plebeia, se tornar um verdadeiro aliado de seu Rei, assumindo o papel que lhe é designado e se tornando um ótimo mediador de conflitos. A menina do capuz vermelho, um uma garota atrevida e ingênua, mantêm seu carisma contagiante e o utiliza para proteger aqueles que ama. Já o menino da casa de doces, sempre nervoso e agitado, ao passar por diversas provações, em especial no segundo e terceiro livro, tornou-se um verdadeiro líder.
Porém, me decepciona a maneira com Maria foi tratada ao longo desses ultimos dois volumes. Apesar de haverem outras representações femininas nos livros, como Madame Viotti, capitã Bradamante e a Rainha Coração-de-Neve, que por mais que aparecem na maior parte do tempo como simples coadjuvantes, são representadas como figuras astutas e fortes. Já Maria, que no primeiro volume se apresentava como uma dessas personalidades, foi reduzida a uma donzela indefesa a espera de ser salva por um cavalheiro. Me frusta ver, a cada volume, uma personagem que tinha tudo para ser grande, ficar cada vez mais entediante e descartável para a narrativa.
Em relação ao outro núcleo da história, narrando a perspectiva de Snail e Liriel, apesar de interessante e, até mesmo cômica, pouco evoluiu em relação ao segundo volume. Os jovens aliados continuam nutrindo um carinho controverso um pelo outro, numa narrativa de "inimigos para amantes", ao mesmo tempo que vão em busca de uma nova missão. Contudo, por muitos momentos as ações de ambos mais parecia uma história a parte, do que de fato um elemento importante para o cenário geral. Mesmo assim, em meio a tantas descrições de guerras e batalhas, essa fuga da narrativa serviu para trazer um alívio cômico para a história, além de preparar terreno para o próximo volume.
Para além dos personagens, neste terceiro volume também me impressionou a narrativa. Aqui, o foco principal se dá nas relações de guerra, trazendo ainda mais elementos políticos, introduzidos no segundo volume, para a construção dessa história. Apesar do tema, me peguei dando boas risadas ao longo do texto e esperando os próximos passos de boa parte dos personagens com angústia, ansiedade e emoção, o que tornou a leitura dessas mais de 500 páginas mais rápidas do que o imaginado.