Camila Gimenez 20/03/2022O absurdoNão sei se estava preparada para essa leitura. Provavelmente não.
Sayaka Murata mais uma vez me abalou. O desconforto que tive ao longos das quase 300 páginas foi algo que não sentia há um tempinho já.
Assim como em Querida Konbini, Sayaka nos traz uma personagem fora dos padrões. Completamente deslocada, descolada, alheia, à margem da sociedade e do mundo.
Natsuki acredita ser uma garota mágica. Um extraterrestre preso na forma de um urso de pelúcia lhe contou que ela tinha poderes e a ensinou a usá-los e são esses poderes que a ajudam a sobreviver à uma infância cheia de abusos, abandonos e limitações.
E são essas coisas que a tornam uma adulta disfuncional, que não se torna uma ferramenta digna da "Fábrica". E, honestamente, se essa não foi a leitura mais surreal que tive, é uma das mais. Desde o começo a pressão de seguir os moldes sociais, crescer, trabalhar, casar, ter filhos, vão engolindo as opções de se descobrir e ser você mesmo, podando toda e qualquer curva que saia desses ditames.
Powapipinpobopia é sua fuga, sua liberdade, sua promessa de poder ser quem ela realmente é. E conforme o livro vai chegando ao seu clímax, nada poderia ter me preparado para o que li.