Lurdes 24/12/2022
O título poético já entrega o quanto de bonito e sensível é este livro.
A narrativa vem em forma de carta do protagonista à sua mãe, onde ele compartilha seus medos, anseios, descobertas.
Sua mãe, Rose, é filha de uma vietnamita e de um ex soldado americano. Praticamente não fala inglês e é analfabeta e, portanto, nunca vai chegar a ler a carta de seu filho.
A impossibilidade de leitura é libertadora e é para se libertar que ele escreve.
Vamos conhecer também, e nos apaixonar, por Lan, sua avó, que além de esquizofrênica, sofre de stress pós traumático devido à Guerra.
Lan o apelidou de Cachorrinho como forma de protegê-lo dos maus espíritos.
São muitas as dificuldades enfrentadas por esta pequena família. Desde o subemprego da mãe como manicure, a doença da avó, o preconceito geral que enfrentam por serem imigrantes (que no caso da avó e da mãe, sequer conseguem falar inglês).
Tampouco se sentiriam acolhidos no Vietnã, onde sua avó era condenada por ter se casado com um soldado americano.
Além de todas as dificuldades, Cachorrinho quer poder expor sua homossexualidade, ser aceito e ser amado. Através da relação com Trevor ele vai conhecer o desejo, o amor e o prazer.
"Eu fui visto ?eu que raras vezes tinha sido visto por alguém. Eu que aprendi a ser invisível para ficar em segurança..."
A narrativa tem saltos temporais conforme as lembranças vão sendo contadas na carta/livro.
Se em um primeiro momento fiquei com receio de o formato "carta" se tornar tedioso, foi só um receio bobo mesmo.
O autor vai nos conduzindo com muita sensibilidade e delicadeza pelas suas mais íntimas e queridas lembranças.
Um livro que superou todas as minhas expectativas.