Dereck.Vogas 23/01/2024
Simplesmente Rosa Monteiro
Primeira coisa. Leia nada sobre do que se trata a trama do livro. Só vai. A recompensa é boa demais.
Sério, cada vez mais eu fico fascinado por Roda Monteiro. É daquelas pessoas que podem escrever de tudo, seja o que for, que farão com que o assunto se torne o mais delicioso de ler possível.
Meu primeiro romance dela. Já preciso urgentemente que tragam mais, pois toda a genialidade e facilidade de escrita dela estão vivíssimas nesse romance. Chega a dar inveja a facilidade com que Rosa constrói a trama e seus personagens. É perceptível a habilidade absurda dela de saber entrar o mais fundo possível em seus personagens e ao longo da trama ir nos apresentando cada detalhe deles. Nada é revelado de cara, tudo tem seu tempo para vir à tona. E Rosa não nos engana, como se nos omitisse informações para só no futuro nos revelar, nos enganando por um clímax. Não, neste livro ela nos revela as coisas de acordo com a disposição dos personagens em querer nos revelar. As coisas nos são reveladas apenas quando elas devem acontecer ou quando os personagens passam a olhar mais para si mesmo, e isso é tremendamente recompensador.
Rosa tem uma habilidade impressionante de coseguir captar as detalhes mais essenciais da vida que fazem ela ser tão especial, ao mesmo tempo que difícil. São sacadas genias, insights maravilhosos sobre vida, uma grande dose do ato de viver derramado sobre nós à partir das vidas de seus personagens. E claro, sem nunca perder seu humor afiadíssimo carregado da mais bela ironia. Eu ria alto lendo.
A Boa Sorte é sobre reaprender a viver, é repensar o já vivido, é falar sobre o pior do ser humano (de verdade mesmo, tem o pior do ser humano nesse livro) ao mesmo tempo que nos lembra que podemos ser bons; é amar e ter desejo de viver até mesmo quem pode estar perto da morte; é sobre as coincidências da vida e as recompensas que não esperamos; é falar de sentimentos e pensamentos espinhosos de uma maneira tão aberta que chega a impressionar.
E Rosa transita entre a primeira e a terceira pessoa para nos entregar um narrativa muito rica. A Boa Sorte tem nada de revolucionário, não tem pretensão nenhuma de ser algo grandioso, e é até impressionante como consegue ser simples por falar de tanta coisa, mas é tão carregado de vida e tão sincero, irônico e apaixonado, que vai ficar guardado no coração por muito tempo. Carregarei em meu coração com um carinho especial esse livro, assim como tudo o que Rosa escreve, por muito tempo.
Vargas Llosa disse uma verdade, Rosa Monteiro parece nossa amiga íntima favorita da ficção. Te amo, Rosa Monteiro. Obrigado de novo.