Itamara
01/09/2021"Não sabemos como será nosso luto até nosso luto acontecer"Apesar de ser um relato bastante particular, "Notas sobre o luto" representa o sentimento de muitos nesses tempos de dor. Eu, que nunca vivi um grande luto, em diversos trechos me senti tocada e consegui perceber o quanto aquilo ali era doloroso e real. Além disso, ela nos faz refletir nosso papel enquanto "outro lado". O que fazer? Como confortar alguém que acabou de perder alguém? Há abraço, palavra ou frase de efeito que devam realmente ser utilizados? Assim, o livro fala também sobre empatia e de como precisamos repensar o lugar daquele que está passando pelo luto. Às vezes simplesmente não há o que dizer. Outra reflexão que me veio à mente tem a ver com o quanto costumamos medir a dor do outro, como se houvesse um padrão de demonstrar o que de fato se sente em um momento como esse. Cada pessoa manifesta reações diferentes e não há régua para medir a tristeza.
É muito linda a forma como Chimamanda fala de sua família e especificamente de seu pai. Uma figura importante na construção de sua identidade e da força que ela hoje representa dentro da literatura e do feminismo.
"O luto não é etéreo; ele é denso, opressivo, uma coisa opaca. O peso é maior de manhã, logo depois de acordar: um coração de chumbo, uma realidade que se recusa a ir embora. Eu nunca mais vou ver meu pai. Nunca mais. É como se eu só acordasse para afundar cada vez mais".
"O luto é uma forma cruel de aprendizado. Você aprende como ele pode ser pouco suave, raivoso. Aprende como os pêsames podem soar rasos. Aprende quanto do luto tem a ver com palavras, com a derrota das palavras e com a busca das palavras. Por que sinto tanta dor e tanto desconforto nas laterais do corpo? É de tanto chorar, dizem. Não sabia que a gente chorava com os músculos?.