LT 10/05/2021
Um miçhão de promessas e uma avalanche de sentimentos!
Olá! Vou ser repetitiva mesmo – risos –, os livros da Cinthia Freire sempre me emocionam e ler esse me fez novamente vivenciar uma mistura de sentimentos, que chegou a um determinado ponto em que desejei parar de lê-lo por me causar tanta inquietação e tristeza ao decorrer da história, mas não consegui parar totalmente.
Dei uma pausa na leitura, por três dias... no entanto, a vida dos personagens não saiu de minha cabeça e eu queria saber o desfecho do enredo, minha curiosidade foi maior e a ansiedade por dias melhores também, e assim criei esperanças e me joguei novamente na leitura!
Venho apresentar para vocês Thales e Ayla, amigos desde a infância, a partir dessa amizade construiu-se um sentimento muito maior que nem eles imaginavam, vou parar de enrolar...
Vamos a resenha?!
Não sei nem como começar a escrever essa resenha, pois cada palavra que colocar não vai ser suficiente para expressar as emoções que vivenciei ao virar de cada página, mas vamos lá...
Tudo o que queria quando comecei a ler era saber exatamente o que afligia aquele garoto, aparentemente rebelde e anti-social, mas depois que cheguei a entender aos poucos o que acontecia em sua vida eu só queria pega-lo no colo e tirar tudo o que lhe entristecia e o machucava de perto dele.
Thales é um garoto de quatorze anos, olhos e cabelos castanhos, seu sonho é ser alguém na vida e sair de casa. Lendo a história percebi que era um garoto frágil e ao mesmo encontrava uma força dentro de si para continuar seguindo em frente.
Ele tinha dois amigos, Ayla e Duda, que desde de crianças sempre foram inseparáveis, tinham sim suas diferenças, mas apesar disso se encaixavam de uma maneira que muitos não entendiam, um sempre levantando o outro quando as coisas estavam incômodas.
Ayla é uma garota que tem cabelos enrolados, pele negra e sempre se destacou por ser diferente das outras meninas, na verdade, quem a conhecia melhor do que ninguém sabia como ela era de verdade: compreensível, amável e altruísta. Do tipo que estava sempre ali para seus amigos, mas seu coração batia mais forte quando Thales aparecia pulando em sua janela e lhe pedindo para ler para ele.
Ali crescia mais do que uma amizade, era cumplicidade, aceitação e sobre tudo, mesmo não sabendo o que realmente acontecia com Thales em sua casa, ela ficava impaciente quando ele não aparecia ou não respondia as suas perguntas, sua preocupação era de que a situação que o envolvia fosse grande demais, ao ponto de não aguentar o peso nas costas.
Thales sempre vivia com medo, não por si mas pelas pessoas ao seu redor, de uma maneira que ninguém entendia, conforme os anos foram passando ele alimentava o ódio, rancor e sua superproteção em relação a Ayla e sua irmã, Tatiana.
Ayla e sua família amparam Thales, sempre o tratando como alguém especial e isso é o que ele é: um garoto adulto com a alma de uma criança machucada e em pedaços, será que um dia ele conseguirá seguir em frente e tirar alguma lição de tudo o que passou?
Me despedacei e me revoltei muitas vezes durante a leitura, chorei por uma criança que deveria receber amor e proteção e ao invés disso recebeu desprezo e humilhação, sendo muitas vezes rejeitada, mas assim mesmo tinha uma pequena esperança de se encaixar e poder dar uma vida melhor para sua irmã.
Ayla era a luz no final do túnel, quando lia seus romances ou apenas o amparava, sua voz acalmava uma alma quebrantada. Thales a sentia como um refúgio e nutira uma esperança de poder fazer parte de sua vida, mesmo achando-se desmerecido disso. A mocinha, por outro lado, o queria de qualquer jeito, transmitia toda sua força e seu amor achando que poderia salvá-lo de todo o mau, até de si mesmo...
Thales é meu herói que, apesar de ser o personagem de uma história fictícia, que trabalha sob a perspectiva de um fundo real, causa no leitor reflexão e dor. Como leitora, é esse tipo de livro que faz a gente evoluir, que dilacera o peito e faz a gente olhar para o mundo com mais empatia. Confesso que sinto uma dor profunda quando paro para lembrar dessa história. Thales foi marcado a brasa, mesmo quando nada saia de sua boca, seu sofrimento e constrangimento são mostrados através de seus olhos, eles gritam por socorro silenciosamente. E quantas crianças não vivem esse tipo de coisa na vida real? Quantas ficam em silêncio implorando por socorro?
Esse livro aborda dois problemas visíveis na vida do personagem Thales que esão reais em muitos lares da vida real. Um milhão de promessas mostra adversidades e uma criança sendo moldada conforme as consequências do que lhe acontecia.
Na verdade, acompanhamos um menino que tinha o peso e a responsabilidade da vida sobre seus ombros, em um garoto de apenas oito anos, sofrendo muito conforme vai crescendo e se desenvolvendo, sem um pai para o protegê-lo, dar conselhos, e com uma mãe amarga e totalmente omissa de suas obrigações.
Como leitora, estava totalmente enganada quando achei que seria uma leitura leve ainda que fosse trazer uma mensagem importante – todos os livros da Freire tem uma mensagem marcante –, mas nesse Cinthia Freire foi a fundo na alma humana, marcou, explanou, faz a gente ser marcado através da leitura de suas palavras.
Como um todo o livro me encantou, me fez sofrer, me colocou de joelhos e transformou parte da minha visão de mundo, é uma história que vai me acompanhar pela vida. A autora não foi sutil, se aprofundou pra valer no protagonista, deixando os problemas que envolviam Thales em bastante evidência, a intensidade dos fatos me arrepiou e confesso que desmoronei de tanto chorar. É aquele tipo de livro que todo mundo deveria ler, ele faz diferença em nossas vidas.
Li no formato digital, uma cópia cedida em parceira com a própria autora, Cinthia Freire, não sei se poderia dizer isso, mas não curti a capa – para minha pessoa – não ficou condizente com toda a intensidade do que encontrei nessa história. Talvez seja porque acompanhei a trajetória de Thales desde pequeno, não sei dizer, mas a capa foi o único ponto que não me conquistou, já o enredo, meu Deus, que livro! Não notei erros, então não posso falar sobre.
A história é narrada na primeira pessoa, intercalando os pontos de vista entre Thales e Ayla. O livro é separado em dois períodos, vemos as dificuldades enfrentadas por serem pobres, sendo enfatizadas socialmente, também os sentimentos de cada um se aflorando e as tristezas sendo desnudadas de uma forma dolorida e amarga.
Se você gosta de uma história bem escrita, intensa e que faz a gente refletir sobre a vida de forma profunda, esse livro é o que recomendo para você! Fica o aviso: é um enredo com gatilhos que pessoas mais sensíveis a violência podem não tolerar ou não aguentar, mas são esses pontos e a forma com que a autora os trabalhou que faz a intensidade da história ser tão marcante e inesquecível.
Até a próxima resenha!
[QUOTES]
[...] Durante todo o caminho, Thales permanece ao meu lado, de vez em quando seus olhos se encontram com os meus, mas ele não diz nada. Em minha imaginação, gosto de pensar que ele gosta de mim... e que a melhor parte do dia sempre seja o momento em que estamos assim... [...]
[...] Ayla não diz nada, ela já está acostumada a me ver assim... como um animal acuado necessitando de espaço, talvez seja isso que sou, no fundo sou um animal agredido que sente a raiva encher suas veias, cegar seus olhos, tampar seus ouvidos. [...]
Resenhista: Cris Santana.
site: http://livrosetalgroup.blogspot.com.br