Resenhas - Sabor Amargo

Vicente Tavares 20/07/2022

Confuso e Desagradável
A capa desse livro foi uma das mais bonitas que eu já vi... apesar de não gostar muito de capas brancas porque elas sujam muito fácil, nesse caso combinou muito bem. Porém a lombada e quarta capa são bem fracas. A qualidade da tradução, encadernação e diagramação são excepcionais. Terminados os dados técnicos vamos à história em si.
A temática é atual e forte. Racismo, escravidão, drogas, tortura... temas mais do que pesados fazendo o título Sabor Amargo combinar perfeitamente (em inglês não tem nada a ver... chama Delicious Foods que está relacionado à história mas é um título muito fraco, super acerto da Darkside).
Mas o sabor amargo se estende não apenas na temática, mas também na escrita. Há muita confusão no texto: A história segue uma estrutura não linear... a cada capítulo você dá um salto para o passado ou futuro, troca de personagem, não estrutura de diálogo (travessão, aspas, nada) e o narrador pode ser a droga dentro da cabeça da pessoa ou narrador onisciente. Confuso demais pra eu conseguir aproveitar a história que diga-se de passagem é de um tema desagrável ao extremo, como já tinha dito.
Vai pra lista dos arrependimentos do ano.

Evy 29/11/2021

Que história!!
Sabor amargo é uma história contemporânea e extremamente real de abuso, escravidão, racismo, vício e dor. Seus personagens principais, Darlene e Eddie são vítimas da brutalidade do preconceito e da violência e tem suas vidas transformadas na noite em que Nat, marido e pai, é cruelmente assassinado dentro de sua própria loja por alguns jovens brancos que procuravam confusão.

Através da narrativa forte e extremamente envolvente de James Hannaham, que se divide entre uma mulher em desespero e dor, um adolescente solitário que busca sobreviver e a voz maliciosa da droga, somos transportados para uma história que tem um objetivo claro: denunciar que a escravidão ainda existe e não só isso, ela está em todos os lugares.

Darlane após perder o marido e enlouquecida pela dor e pelo vício, acaba se deixando levar para uma fazenda misteriosa com a promessa de um trabalho. Longe do filho, sem poder voltar e ter nenhum contato e em condições sub humanas de sobrevivência, Darlane trabalha até a exaustão para pagar uma dívida invisível com seus empregadores que aumenta a cada dia e conseguir algumas pedras de crack para suprir as dores de sua alma. Eddie, seu filho, não se conforma com o abandono e parte em busca de Darlane, fazendo de tudo para encontrá-la.

"Por que é que viver precisa sempre significar perder, sempre perder tudo o tempo todo?"

É impossível não sentir o desespero, a ânsia, as necessidades tão profundas dessa história contemporânea e ao mesmo tempo atemporal, através das palavras de Hannaham com sua narrativa ousada e em alguns momentos tão extremamente realista que me trouxe lágrimas aos olhos. Ainda assim, é também uma história de redenção e perseverança.

Personagens extremamente bem trabalhados, um enredo forte e ousado com cenas belíssimas e tenebrosas e adornado por diálogos doloridos e necessários. Uma história que merece ser conhecida por todos e refletida até a última letra.

"Uma história pode te ajudar a seguir vivendo, disse ele, mas ela não te mantém literalmente vivo — aliás, na maioria das vezes, as pessoas que têm poder transformam a história delas em um muro de tijolos que afasta a verdade dos outros, para que elas possam seguir na vida que acreditam levar, tentando de alguma forma preservar a ideia de serem boas pessoas em suas vidinhas, apesar de seu envolvimento, por mais indireto que seja, com males maiores. Ele disse que sempre pensava nas pessoas que iam comer os morangos, limões e melancias que ele colhia para a Delicious, na aparência que essas pessoas tinham, como podiam descascar a fruta, que sabor a fruta teria, talvez na salada de frutas que elas iam fazer, ou numa torta. Mas tenho certeza que elas nunca pensaram em mim, disse Sirius. Não, não detrás daquele muro de tijolos"

Super recomendo a leitura!

Clari.Monise 25/08/2022

Eu fiquei chocada com os acontece nesse livro, parte por parte tudo foi muito surreal. Achei isso bacana. Fiquei o livro todo com aquela sensação meio ruim de ver tanta coisa ruim acontecendo enquanto Eddie se mantém tão focado mesmo vendo tanta desgraça aí seu redor. Esse emprego dele da folheto pra continuar a leitura e esperar que tudo de certo. O final te deixa respirar em paz.

Joel.Martins 14/05/2023

Trabalho Escravo
Primeiramente: Disque 100 ou procuro o Ministério Público do Trabalho para denunciar trabalho análogo à escravidão.
Esse livro é tão forte. Sofri o tempo todo com tanta maldade e injustiça.
E pensar que muita gente vive nessas condições degradantes.
Como falar de liberdade e Igualdade? Tem muita coisa errada; tem muito para se fazer.
Leiam esse livro ??

Jade 29/12/2021

Leitura dolorosa, mas potente!
Sabor Amargo possui um narrador diferente e inusitado que dá mais personificação à um dos personagens principais no livro, o Scotty. Um diferencial em que muitas vezes durante a leitura parece que estamos conversando com o personagem "tá ligado?". As expressões e gírias dão uma leveza à história que é densa, pesada, crua e algumas vezes dolorosa de se ler.

"No mundo da Delicious Foods, a obediência vinha primeiro. Todo mundo tinha que se submeter a um sistema absurdo de leis que não tinha nada a ver com justiça."

Mas a escrita do James Hannaham é tão potente que nos deixa envolvidos na história em que o Scottty nos conta, entre as durezas que presenciamos, nos pegamos torcendo para que todos eles possam se libertar da escravidão onde vivem, torcendo para que eles tenham oportunidades melhores.

Principalmente torcemos para que mãe e filho possam então ter uma vida melhor juntos e felizes. Estava com medo do final do livro, confesso, mas foi incrível poder conhecer a história da Darlene e do Eddie, acompanhar a jornada deles me trouxe um misto de sensações que é difícil descrever... enfim, recomendo a leitura!

suellen 02/08/2022

Leitura difícil, mas com uma capa bonita. Tu realmente fica envolvido pela temática das drogas, escravidão e do racismo. São momentos de dor e angústia, a narrativa das drogas te pega muito e te faz refletir.

Tecio Ricardo 27/09/2021

Que livro fantástico, TOP!

De vez em quando é bom lermos histórias de superação, de pessoas que estavam no fundo do poço e sairam de lá.

Por mais que tenha uma temática pesada, foi um leitura agradável.

Superação, amor e perdão sempre serão a base do ser humano.

liriaa 30/07/2022

Impossível ler Sabor Amargo sem sentir o Amargo
Sabor Amargo é aquele livro que você precisa estar parando pra respirar a cada capítulo, ou até mesmo dar um tempo de um capítulo ao outro. O enredo é repleto de injustiças, racismo, vício, tortura, abandono governamental, e se torna sufocante tanta coisa ruim acontecendo. Em um dia tudo estava bem e no outro, nada mais fazia sentido. Darlene tenta dar seu melhor, mas não consegue lidar com tudo o que está acontecendo. A maioria dos capítulos são contados pelo Scotty, a droga, e isso faz a história ficar mais agoniante ainda. Estar por dentro de todo o ponto de vista totalmente deturpado, maluco, ver tudo dando errado por que as coisas simplesmente saíram do controle e a incapacidade de justiça te faz querer gritar. Todo o livro é programado para deixar o amargo na boca, a falta de pontuação (travessão para as falas, vírgulas), a fala informal, tudo é feito para lhe deixar o mais agoniado possível. Entretanto, por mais pesado que seja, é uma leitura extremamente importante. A leitura te faz ver um ponto de vista que a gente não consegue ver diariamente. O ponto de vista de pessoas viciadas, pessoas que arruinaram suas vidas e fazem coisas totalmente estúpidas, mas que sempre por conclusão de algo muito mais forte. Todas as referências a tragédias racistas, injustiçados e abandonados é extremamente importante. Não é um livro para todos, precisa ter estômago, precisa ter cabeça, mas é um livro extremamente necessário.

Isabela 20/08/2021

É impossível não se comover e se revoltar com a história dos personagens, ainda mais por saber que ainda hoje seres humanos são expostos a condições degradantes de trabalho. Achei muito interessante como o autor usa o crack como personagem que possui até nome, e ele como ser personificado, conversa e interage com outros indivíduos do livro. A leitura desse livro é uma experiência diferente, que vale a pena para quem gosta de discussões sociais.

Vito 10/08/2022

Anos Perdidos
Sabor Amargo é um livro que dói, revolta e causa outros diversos sentimentos ruins. Mas é isso que faz dele um livro tão bom.
Os dois personagens principais - Darlene e Eddie - são muito bem construídos, bem como a relação entre os dois é muito bem explicada e explorada. Os capítulos de Eddie expressam muito bem as frustrações e angústias do personagem, enquanto os capítulos de Darlene - narrados por Scotty - também demonstram muito bem os pensamentos e sentimentos da personagem.
O vício em crack de Darlene, muito bem expresso pela narração de Scotty, é o que move grande parte da história, tanto o começo da trama principal - a escravidão moderna na fazenda da Delicious Foods - tanto uma estagnação que acontece no meio dessa trama. Os motivos do vício são muito bem demonstrados e detalhados, tanto nos capítulos que contam o passado quanto no presente.
Já Eddie, o filho de Darlene, também tem um grande papel no livro, demonstrando os sofrimentos e angústias de um filho sem a presença emocional da mãe, que está sempre absorta no vício ou sumida nas madrugadas. Eddie é forçado a amadurecer e cuidar de si mesmo e da mãe, o que, com o tempo, gera um ressentimento que nem mesmo o personagem percebe.
A grande trama do livro gira em torno da escravidão velada de emprego honesto que a Delicious Foods proporciona para os personagens, que ficam presos na fazenda pelos mais diversos motivos. O vício nas drogas sendo o maior deles, bem como a maior arma da fazenda, que apesar de ser um "emprego digno e honesto", permitia e incentivava o uso do crack.
É um livro muito bom que trata muito bem o que se propõe a tratar, desde temas mais pessoais até temas mais sociais-políticos.



********** SPOILERS PESADOS **********



Eu arrepiei assim que li a primeira frase do capítulo 28. Depois de tudo que vimos Darlene passar - a hostilização na faculdade, a perda de Nat, a dor do luto e depressão, o vício no crack e a aceitação da situação terrível na Delicious -, a superação do maior perpetuador dos problemas foi o melhor presente que a personagem poderia receber. Todas as camadas da depressão de Darlene são muito bem exploradas, tanto na visão dela quanto na de Eddie, e isso gera uma compaixão pela personagem mesmo em seus piores momentos.
Já sobre Eddie, ler os capítulos do personagem enquanto criança dói muito. Imaginar o tanto que ele estava perdido depois da morte do pai e como do nada teve que tornar-se pai de sua mãe é angustiante. Ver seu ressentimento crescer e tornar-se raiva, culminando naquele momento com Tuck é muito doloroso, porém, quase compreensível. Tuck foi o mais próximo de um parente que Eddie teve após a morte do pai, e toda essa relação é incrivelmente representada, desde o momento que os dois encontram Jackie.
E Scotty, a face do vício de Darlene, é tão bem explorado. O capítulo 26 mostra o quanto a droga confundiu e nublou os acontecimentos, porque ficamos tão perdidos quanto Darlene sobre o que aconteceu.
Eu poderia escrever muito mais sobre esse livro, mas acho que já deu. Caso você tenha chegado até aqui e não leu ainda, peço que leia. Apesar dos spoilers, ainda tem muito a ser lido.

Caia.Monti 01/08/2022

Que livro foda. A escrita é complicada e confusa, mas amei pois segue a linha de raciocínio de cada personagem, um que é mais "centrado" segue uma escrita calma, ja para um que está sob efeito das drogas segue uma escrita frenética, desastrada. A história muito boa também, triste do começo ao fim.
Mas não gostei tanto do final, parece que tinha e dava pra escrever bem mais, mas o autor cansou e só decidiu colocar um ponto final eterno

Ruan.Oliveira 30/09/2021

Um livro necessário.
Fotinha da resenha no insta: @ruanway

Essa foi uma daquelas leituras que me fizeram sentir que mudei, sentir que, definitivamente, não tenho mais a mesma maneira de pensar sobre determinados assuntos, embora quase todos os livros façam isso com a gente, este pra mim trouxe essa consequência de forma explícita.

Eddie não tem mais as mãos, perdeu durante a fuga de um lugar onde ninguém, em sã consciência, acreditaria ter estômago para encarar. Sua mãe? Uma viciada em crack, mas é apenas isso, uma viciada? O que mais além disso? Quais as motivações, quais as ?escolhas? que ambos tiveram, quais traços marcaram esse caminho? Será que tudo é mesmo questão de escolha? Será que todos temos as mesmas oportunidades?

São tantas questões, o julgamento raso se tornando pura banalidade conforme as páginas vão sendo consumidas. É o se chocar pelo que tá acontecendo, mas se chocar ainda mais ao perceber semelhança em atitudes de terceiros e próprias. É perceber que a ideia de oportunidade igual não passa de um conto de fadas e que toda a divisão vem de uma estrutura formada muito antes de nós, que se mantém firme mesmo depois de tanto tempo.

Imagine acordar e não ter a mesma facilidade de cumprir tarefas monótonas do seu dia: Receber pelo que trabalha, refeição +x vezes ao dia, banho, roupa limpa, o carinho de pessoas amadas próximas a você.

Sabor amargo é um daqueles livros que revira nosso juízo, faz a gente refletir de forma chocante, nos escancara pra uma realidade crua, que parece exagerada, mas que explicita a verdade de muitos ainda hoje. Fala, dentre diversas outras questões, sobre preconceito, escravidão contemporânea e sobre o efeito que as drogas podem causar nas pessoas. Sobretudo esse último, já que muitos dos capítulos são narrados pela própria droga, como se fosse um dos protagonistas.

Confesso que ainda tô processando tudo que aconteceu nessa leitura, confesso que tomei cuidado com minhas palavras e nem assim sinto que falei tudo da forma que gostaria, ou que preciso falar, mas senti que mesmo assim o tentar se fez necessário.

É um livro essencial e recomendado, um livro que sinto que preciso incentivar as pessoas a lerem, por ser tão necessário, principalmente no cenário em que ainda vivemos.

Ticcus 03/03/2023

Consequências do racismo
O livro traz o gosto desprezível de sentir o racismo, que além de amargo, é doloroso e brutal, desencadeando toda uma desgraça sem fim. O livro conta com um narrador onisciente, a própria droga, fazendo você se sentir na pele a terrível dor de ser e ver alguém que você ama cair neste destino, é um livro que traz o amargor com maestria, fazendo você sentir tudo que os personagens sentem, dor, confusão e tristeza.

Vi algumas críticas em relação à "confusão mental" que o livro faz, caro amigo, é um livro que vem te trazer desconforto, você fazer uma crítica em relação ao problema ser "pesado e me deixa confuso" parece ser mais uma crítica idêntica ao que o Oscar fez a Cidade De Deus, mostrando o quão a realidade de vocês só é coberta de mesquice elitista

Gigi.the.reader 08/02/2023

Uma verdadeira imersão
Não digo que li rapidamente, demorei mais de 1 mês para terminar a leitura. Mas isso se deve mais à minha rotina e a eu ter lido mais dois livros curtos, do que ao fato de o livro às vezes consumir a cabeça.

A leitura é fluída. Eu gosto do Scotty e da narrativa dele. Me surpreendeu esse tipo de narrador-personagem-expectador.

O que pega muito é o fato de não haver separações entre narração direta e indireta além de vírgulas. Bem à lá José Saramago MESMO.

Mas, nesse caso, não chega a confundir e cansar tanto, a menos que você seja um leitor sem muita prática. Mas, ainda assim, esse detalhe muda psicologicamente o modo como a gente lê.

De todo modo, recomendo. Crítica forte, plot twist atrás de plot twist. Não me arrependo de essa ter sido a primeira leitura que eu iniciei este ano.

Yasmin460 23/09/2022

Autêntico
Eu nunca havia lido um livro narrado pela perspectiva de uma substância, nesse caso é o Scott. A história te prende do início ao fim, você sente cada ponto de dor, todo o sofrimento e nossa, parece que as coisas não vão melhorar nunca pros personagens; leitura sofrida, machuca, mas muuuuito boa.