Vah 15/03/2022
Um testemunho
Minha experiência com "Doramar ou a odisseia" começa bem antes da leitura em si. Tentando a sorte pelas redes sociais, enviei uma mensagem ao autor perguntando sobre a possibilidade de adquirir o livro com dedicatória, diretamente com ele. Algum tempo depois, eis que o livro chega até mim e descubro que foi enviado como um presente pelo autor. (Caberia um emoji de coração aqui.) Houve um momento de euforia - e que se prolongaria até mergulhar nas histórias do livro; e depois.
Quando comecei a ler a primeira história, "A floresta do Adeus", percebo que estou lendo muito mais do que "com os olhos" (e todo aparato mental). Meu corpo inteiro é tomado pela escrita: tinha cheiro, tinha textura, tinha gosto. Eis que me passa pela cabeça: será que dá para sentir o cheiro dele? Lá onde ele fez a dedicatória? (Muitos risos - também de vergonha por admitir isso.) É claro que senti UM cheiro. Cheguei a escrever, novamente, para o autor - que, com muita elegância e carinho, acolheu minha loucura. (Não sem constrangimento, claro.)
Por que passar essa vergonha, contando essa experiência? Porque é a forma como eu li cada história: com o meu corpo inteiro. É isso que a escrita de Itamar me suscita (desde "Torto Arado", mas desta vez, de formas diferentes). E, em cada história, há uma estética diferente (uma poesia diferente), como se a cada personagem, o autor também criasse sua forma de contar a história, de se colocar e de denunciar. Denúncias que chegam a mim como formas de questionar minhas convicções, minhas lutas, meu trabalho, meus "deixa para lá"s.
Meu corpo na leitura também ficou sem fôlego, com lágrimas, com amor, com ódio, sem entender. Transportado para a seca, para o alto-mar, para o cárcere, para a floresta.
Quis deixar registrado nessa resenha (que nada tem de resenha) um testemunho - para além de descrever enredos ou resumos (ouço gritarem: resenha não é resumo!). E um convite para que deixem seus corpos serem tomados pela escrita de Itamar.