Livros da Julie 12/09/2021Coragem e amor à natureza em uma grande aventura na floresta-----
"O povo do dia não pensava. Não hesitava. (...) o povo do dia matava tudo o que não entendia. E eles entendiam muito pouco da floresta que os rodeava."
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"Às vezes, duas coisas não eram apenas duas coisas; elas formavam um par, e um par era uma coisa só. (...) metade nem sempre era metade. Às vezes, a metade era algo inteiro. Ela não sabia para que serviam os anéis, ou o que significavam, mas parecia errado pegar um só, separá-lo do outro"
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"Os lobos nos ensinam a trabalhar juntos. Eles caçam juntos, defendem seu território juntos, brincam juntos e criam seus filhotes juntos. É o amor de um pelo outro que os faz sobreviver."
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"o urso-branco era mais velho e mais forte do que os outros, mas ele os estava servindo, ajudando, protegendo."
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"O mundo não era plano nem redondo. Era montanhas. (...) Como poderia ser de outra forma? Como as árvores e as montanhas poderiam algum dia acabar? Deixaria de ser o mundo."
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"onde nasce um rio, a terra molda seu caminho. Já por onde o rio cresce, ele começa a moldar a terra."
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"Sabia que eles cortavam os corpos das árvores para fazer tocas, ferramentas e armas, carroças, brinquedos e berços para seus bebês, mas quantas pessoas do povo do dia poderia haver no mundo para destruírem uma área inteira de floresta?"
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"As rochas são fortes, mas o rio vence. Ele vira. Ele cambalhota. Ele escolhe o caminho."
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"Um ninho. Uma raposa. Um louva-a-deus. Um cervo filhote. Uma árvore não era só uma árvore; era um mundo."
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"Às vezes, precisamos fazer coisas que não queríamos fazer, coisas que vão contra tudo que já fizemos antes."
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"O medo segue o medo"
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"Ela havia pensado no amor como a coisa mais rara e delicada, e que deveria haver um limite para a quantidade de amor que um humano ou um Faeran poderiam dar ou sentir, um limite para quanto amor poderia haver no mundo. (...) Mas o amor não era a pedra. Era o rio. O amor era como as estrelas brilhantes no céu da meia-noite, como o sol que sempre nasce e a água que sempre flui."
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Willa - A garota da floresta foi o livro do mês de junho da leitura coletiva da Faro Editorial promovida pelo @clubeliterarioferavellar (#ClubeLiterarioFerAvellar).
Willa é uma garota Faeran, um espírito da noite. Seu clã vivia em perfeita simbiose com a floresta, dela obtendo tudo o que precisava para sobreviver. Mas a chegada dos humanos (o povo do dia) causou a morte de muitos Faeran e estes precisaram se adaptar. Além de afastar seu povo dos antigos costumes, o líder da tribo passou à ofensiva, determinando a invasão das casas do povo do dia e o roubo de seus pertences.
Leal e corajosa, Willa é a melhor saqueadora do clã e se arrisca cada vez mais em suas missões, até que acaba sendo flagrada e ferida. Em vez de matá-la, porém, o humano tenta ajudá-la, o que a surpreende enormemente. Ao enfim escapar e retornar ao lar, Willa faz outra descoberta: várias crianças humanas estão aprisionadas em cavernas inferiores da toca onde vive com sua tribo.
Willa não compreendia o que estava acontecendo. Os Faeran podiam até roubar, mas não fariam mal a outros povos; já os humanos só conheciam o mal e a destruição e não teriam gestos bondosos. Tudo o que foi ensinado a Willa ao longo dos anos parece cair por terra e ela não sabe mais em que acreditar. Ela precisará buscar as respostas para suas dúvidas por conta própria, com mente e coração abertos para novas perspectivas.
Os capítulos são curtos, porém o ritmo da leitura oscila ao longo do livro. Por vezes, a narrativa é lenta, com longas cenas mais descritivas, sem grandes acontecimentos. No entanto, também há episódios extremamente tensos e cheios de ação, que nos deixa angustiados e ansiosos para descobrir o desenrolar da trama. Nesses momentos, os olhos correm pelas linhas e é impossível parar de ler!
O enredo se passa nas Grandes Montanhas Fumegantes, entre a Carolina do Norte e o Tennessee, nos Estados Unidos. O lugar é belíssimo e essa escolha certamente contribuiu para que o autor descrevesse paisagens magníficas, de modo muito poético.
A opção também pode ter sido influenciada pelo contexto histórico da chegada dos ingleses ao continente americano e da consequente colonização, além da deterioração da relação dos colonos com os índios (que levou ao massacre dos Cherokees) e da devastação causada pela corrida ao oeste, com a construção de ferrovias e o surgimento de madeireiras.
Contudo, na verdade, a história poderia se passar em qualquer ambiente natural preservado, mas sob ameaça. A mensagem principal do livro é mostrar a necessidade de se resgatar a relação fundamental e intrínseca que o ser humano, como espécie, possui com o meio. Sabiamente, o autor tratou da questão em sentido amplo, sem se limitar à preservação da fauna e da flora e a uma visão idealista de área intocável, mas também considerando a viabilidade de uso consciente, racional e comedido dos recursos naturais.
É possível fazer um grande paralelo com o filme A princesa Mononoke, do Studio Ghibli. Ambas as obras possuem uma protagonista destemida e de grande caráter, além de fortemente conectada à floresta e aos seres que nela habitam (seria coincidência que as duas andem em lobos?). São histórias que nos alertam para a importância de proteger a natureza e relembram a possibilidade de uma coexistência pacífica e profícua entre humanos, plantas e animais. Há um mundo mágico e cheio de beleza à nossa volta e mal nos damos conta, preocupados apenas em dele exaurir até a última gota.
Com enorme delicadeza e sensibilidade, sentimentos que permeiam toda a trama, Willa nos mostra que é possível aprender sobre amor, amizade e gratidão com a própria floresta. As matas e as árvores, os rios e os peixes, o vento e os pássaros, a terra e as rochas, todos nos ensinam diariamente o que é relevante e o que se deve valorizar, só esquecemos como ouvir. Mas um dia já soubemos e pode ser que venhamos a nos lembrar.
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