mimi 06/02/2022
Nada no universo está sozinho.
Após precisar assistir a amante se casar com outro, Lucy Muchelney não poderia deixar de abraçar a oportunidade que chega com a carta da condessa de Moth. Conhecida pelas inúmeras expedições ? incluindo um jantar às sombras das pirâmides do Egito durante um eclipse! ? que fez junto de seu marido cientista, Catherine St. Day busca um tradutor para um importante artigo astronômico. Dessa forma, Catherine e Lucy precisam se unir, não só para concluir o trabalho, como para superar traumas e os preconceitos da sociedade.
Antes de tudo, preciso dizer que a escrita desse livro é linda. As metáforas e referências são o ponto alto da obra, mescladas perfeitamente com a escrita poética da autora. Somado a isso, a construção e desenvolvimento, tanto do romance como das personagens, é incrível. Esse é um livro em que poderiam pensar que nada acontece, mas não é verdade. Não só uma sociedade machista, patriarcal e arcaica bate de frente com nossas protagonistas, mas também seus dilemas e medos internos, fantasmas do passado e conflitos do dia-a-dia.
Essa é a dose perfeita de romance fofo com discussão social. Em momento algum o livro parece um folheto informativo ou uma palestra. A autora cumpre o que propõe, considerando o contexto da obra e a situação em que Lucy se envolve buscando ser uma cientista em uma sociedade machista.
Outro ponto importante é que, apesar desse contexto, o livro possui representatividade que foge totalmente dos romances de época heteronormativos que estamos acostumados por aí. Não é todo mundo branco e muito menos hétero.
O livro teria sido uma nota 5 e favoritado se não fosse por uma cena da Lucy. Eu gostei dela, mas em determinado momento ela é completamente injusta com a Catherine. (Spoiler a seguir) A Catherine passou a abrir a correspondência da Lucy para filtar as cartas ruins que ela andava recebendo, eis que acaba abrindo uma da ex amante de Lucy, após perceber o erro ela fica inclinada a ler e é o que acaba fazendo. Quando Lucy chega, Catherine pede desculpas. Lucy lê a carta e fica raivosa porque, entre códigos, Pris diz que ainda a ama. Obviamente, Catherine se mostra magoada e com ciúme (esse ciúme era mais mágoa, acreditem) após Lucy dizer que marcaria um encontro com Pris. Catherine então diz que não queria a ex na sua casa, o que é uma reação totalmente plausível, afinal quem gostaria da ex da pessoa que você ama de baixo do seu teto pra tomarem chá enquanto uma das partes ainda é apaixonada? No final, o encontro acaba sendo lá mesmo, mas na narração Lucy conta como ficou brava e chateada porque Catherine teve ciúme, colocando ela como uma pessoa ciumenta e aumentando a situação sendo que em momento algum pensou pelo outro lado, pelo contrário. Lucy chega a considerar coisas que lhe foram ditas sobre Catherine, que eram mentiras, sobre como ela ia limitá-la já que era sua benfeitora. Que não queria que ela tivesse opinião própria, que ia ser uma espécie de ditadora. Sendo que tudo que a Catherine já fez pela Lucy foi o contrário e ela deveria saber disso, porque a Catherine poderia muito bem ter jogado ela na sarjeta desde o primeiro capítulo, mas não o fez e acreditou nela. Depois disso elas tem alguns diálogos que parece que a autora não sabia bem o que queria discutir, mas que precisava fazer as duas brigarem! Por exemplo: elas querendo terminar porque uma se dedica a ciência e a outra a arte, chegou um momento que eu nem sabia como tinha parado naquele ponto. Aliás, após toda essa cena da Lucy desgostosa com o ciúme de Catherine, ela faz o que? Exatamente, tem ciúme da Catherine! Ainda fica insinuando sobre a Catherine com outra mulher que elas conhecem e que tem marido, sendo que minutos atrás a mesma tava dando lição de moral na Pris por querer um caso mesmo sendo casada. Por falar na Pris, ela humilhou a Catherine na frente da Lucy de uma forma totalmente machista e a defesa da Lucy foi meio... porca. Contudo, se fosse o contrário, a Catherine teria defendido a Lucy com unhas e dentes como fez em outras situações.
Prefiro acreditar que esse momento da Lucy foi um escorregão da autora, porque não parecia a mesma personagem de 200 páginas atrás.
De qualquer forma, é um ótimo livro, a autora sabe como cuidar de seus personagens, apesar de qualquer deslize. Também foi o primeiro livro da autora envolvendo um casal lésbico, se não me engano, e mesmo assim já superou todas as minhas expectativas.