mimi 12/02/2022
Tortura psicológica não é brincadeira!
Jordan trabalha como uma falsa madrinha de casamento, ajudando as noivas no seu grande dia e garantindo que irão chegar ao altar. Abby, estressada não só com os preparativos do casamento, como também com a sua sogra, é convencida a contratar Jordan. Isso, ao mesmo tempo em que vão se aproximando e começando a questionar os seus sentimentos.
Esse livro é tão ruim que eu nem sei por onde começar a falar mal. Vamos lá.
1) Eu já comecei a revirar meus olhos em cerca de 2% de livro com as piadinhas com o nome da Jordan, as personagens estupefatas pois "Quem se chama Jordan hoje em dia?" Como se não fosse um dos nomes mais populares lá fora.
2) Em menos de 30 páginas (juro) já há falas gordofóbicas. A melhor amiga da Jordan diz que "Ninguém vai querer uma madrinha gorda." Dessa forma. A Jordan corrige dizendo que ela está sendo gordofóbica, mas a personagem continua e a própria Jordan admite que é verdade devido ao status dos seus clientes. E é isso, sem mais discussões sobre a problemática. Lembre-se disso, vamos retomar esse tópico no futuro.
3) Vamos levar em consideração que é praticamente impossível desenvolver esse plot sem envolver traição em algum momento. Até mesmo porque é o grande ápice do enredo para alguns, com o drama chegando ao limite até que as personagens admitam seus sentimentos e quebrem as barreiras de tudo pelo seu amor. Contudo, fica bem óbvio que a autora tenta justificar a traição em tentativas singelas de fazer o Marcus parecer abusivo. Ele contatando a Jordan antes de falar com a Abby porque viu como ela não estava bem e muito menos dando conta sozinha. Assim como ele querendo ir para as Maldivas na lua de mel. A Abby fica repetindo várias vezes como ele não aceita sua opinião e não fala com ela antes sendo que o cara não faz nada demais, pelo contrário, ele faz de tudo por ela. Mas é claro que a personagem tenta esconder sua deficiência de diálogo pra cima dele. Aquela ceninha do Marcus querendo ser violento com a Jordan no final só prova o meu ponto, tipo: olhe como ele é abusivo e tóxico! Sendo que não é assim.
4) Esse livro parece puro suco heteronormativo. Algumas preocupações da Abby são tão patéticas que me perguntei o que ela achava que, de fato, é um casamento. Ela e o noivo não moram juntos e não andam transando nos últimos meses. E é óbvio que a autora usa isso para tentar fazer parecer que tem algo de errado quando, na verdade, o único problema é a Abby em um relacionamento por conforto. Em uma cena a própria Abby diz que não transarem era um indicativo de que o casamento não ia dar certo, assim como não morarem juntos era um sinal de que não o amava, como se ela própria não soubesse desde o início.
5) Todos os personagens são tão sem profundidade que me deu sono. Não tem UM personagem que preste ou seja desenvolvido. E isso consequentemente se estende para as relações entre eles. Esse é o típico livro em que a autora te diz as coisa, e não mostra. Fiquei cansada de ler, por exemplo, sobre como todos amam o Marcus (o noivo), mas por que o amam? Ele mal aparece para sabermos algo sobre ele. A Abby é a típico protagonista pintada como fodona e feminista, mas que ta presa em conceitos arcaicos e heteronormativos. O tempo todo a autora tenta nos vendê-la como "olhe como ela é determinada e bem resolvida" enquanto vai se casar com um cara só porque é o que esperam dela. E sim, nós mulheres sofremos essa pressão do patriarcado, mas ela é descrita de um modo enquanto age de outro totalmente diferente. A Jordan não tem personalidade, assim como qualquer outro personagem, é o clichê de que foi magoada e não entrega seu coração para mais ninguém, vivendo apenas casos de uma noite. Até que se apaixona por alguém que é "diferente".
6) Estereotipado. Chegou um momento que eu não aguentava mais a Jordan falando sobre como a Abby era diferente. Era a típico frase de heterotop de "Você não é como as outras mulheres!" Por que ela é diferente? O que a faz diferente? Por que você se apaixonou por ela, Jordan? Não sabemos e nunca vamos saber. Nem o pobre do Marcus se salvou, o tempo todo ficam falando sobre como ele ser gentil e educado pode ser um indicativo de que ele é gay. Em pleno século 21.
7) Abby transou com uma mulher anos atrás e nunca mais teve interesse em outra até Jordan aparecer, que é quando ela começa a se questionar e se descobrir. Contudo, esse descobrimento é tão porco e fetichizado que me deu nojo. A Abby só pensa em sexo e eu não to exagerando, acho que as semanas sem transar com o noivo foram descontadas pra cima da Jordan com a desculpa de criar tensão sexual. Em muitos casos essa tensão pode sim criar um romance, mas não é o que acontece aqui. Para dar um exemplo: em uma cena a Jordan está feliz e eufórica falando sobre sua música preferida e o significado emocional que ela tem e, enquanto Abby narra a cena, ela só escuta pensando em como gostaria de ver Jordan gozar para ela. Sexo e desejo sexual são coisas completamente normais, mas a autora faz a descoberta da sexualidade da Abby girar em torno da vontade que ela tem de foder a Jordan e sinceramente essa é uma forma bem porca de se retratar descobrimento. A Jordan não fica muito atrás, mas nem chega perto do fogo no rabo que a Abby tem. No todo, são páginas e páginas de situações que eram pra criar romance, mas as personagens só pensam em sexo e depois falam que estão apaixonadas. Mas apaixonadas pelo que exatamente? Porque elas sequer se conheceram, a Abby fala algumas coisas da sua vida, porém a Jordan é bem mais fechada, novamente é tudo sobre sexo.
8) Lembram do tópico 2? Pois bem: todos os personagens são magros, brancos, ratos de academia. O ápice foi falar da mãe da Jordan com mais de 60 anos tendo um corpo escultural e de jovem ao ponto de dar inveja. Além disso, todos são brancos. A cota de representatividade foi gasta com as personagens lésbicas.
9) Abby. Jesus, que garota insuportável. No final é óbvio que a autora queria levar o drama ao máximo, mas chegou um ponto em que não dava mais pra aguentar ela. Ela tratando a Jordan com descaso e e outra idiota de quatro se humilhando por ela. Ridículo. Além disso, a Abby vive falando como ela própria não é como as outras pessoas ricas, que é humilde, mas entrou em um emprego só pelo dinheiro e fica bem claro como ela é exatamente igual aos outros e tenta fingir que não é. Amo como ela é a fodona cheia de atitude e determinada, mas tudo que faz na vida é só pra se manter na zona de conforto e ser o que esperam dela sendo que a vida dela é PERFEITA e ninguém a pressionou pra nada, muito menos a ser o que não queria.
Era uma ótima tentativa de filme sessão da tarde se não fosse pelas problemáticas, a falta de desenvolvimento, personagens insuportáveis, uma escrita superficial e visão estereotipada e preocupante. Acredito que seria melhor ter vendido a ideia do livro como um romance erótico, pois foi a única coisa que serviu. E ainda foi ruim.