soubarroca 18/04/2024
A Filha Primitiva, de Vanessa Passos
Visceral, cru e verdadeiro, "A Filha Primitiva" traz a história de redenção entre uma mulher, sua mãe e sua filha.
Gostei de várias coisas nesse livro, a primeira delas é o fato de que a personagem principal não tem nome. Ela é uma mulher e é todas as mulheres ao mesmo tempo.
A história me lembrou o conto "Olhos D'água", da Conceição Evaristo, porque aborda a questão da ancestralidade como um elemento que molda e constrói a identidade do ser humano.
Não conhecer absolutamente nada sobre o próprio pai é uma, entre outras, dores que a protagonista carrega e arrasta em todas as suas relações.
Uma mulher sem pai, uma mãe sem marido. A história se repete.
A protagonista encontra na escrita sua redenção. Ela, ao finalizar seu livro, finalmente é capaz de humanizar a própria mãe e vê-la como uma mulher que passou pelas mesmas situações difíceis. Ao entregar o manuscrito, sente, pela primeira vez, vontade de abraçar a mãe, mas não sabe como.
Quão lindo e triste é isso?
A redenção pela própria filha, menina, também vem com a escrita.
Ela passa a sentir vontade de escrever, busca formas de se sentir mãe, de se sentir um ser humano no lugar certo, realizado. O cordão umbilical, o peito, a raiva. São elementos que perpassam o maternar dessa mulher.
Por fim, recomendo o livro. A linguagem é exatamente poética e aborda as diversas faces da maternidade em conciliação com o trabalho.
"uma mulher, ao gestar e aleitar, não encontra realização nenhuma; encontra, apenas, seu destino biológico".