ikki.pinheiro 03/11/2023
Romance ruim entre um c0rno e um heterotop, ft. a ex esposa
Eu fui ler esse livro porque era curto e parecia uma leitura sem compromisso e fácil, mas várias coisas não me desceram bem enquanto eu lia.
1) A principal coisa que me deixou indignado é, e repitam comigo: registrar conteúdo com cena de nudez ou ato sexual ou libidinoso de caráter íntimo e privado sem autorização dos participantes é um crime do artigo 216b do Código Penal. A Samantha pode ser uma personagem insuportável, tendo traído o Raul e sendo uma cretina na maior parte do livro, mas nada justifica o William e o Raul terem um vídeo dela nesse tipo de situação sem o consentimento da mesma.
É irresponsável da parte do autor não penalizar nem conscientizar o leitor a respeito disso. "Ah mas como a Samantha é mais 'mente aberta' quando é sobre sexo ela provavelmente iria querer assistir também se descobrisse" não importa, isso é um crime. Ela tinha que saber ANTES de ter sido gravado. Dois homens (que sequer estão num relacionamento com ela) tem um vídeo dela num ato sexual. Isso é algo que já acontece no nosso país e que não foi nada legal ver sendo banalizado no livro.
2) O livro tenta trazer a dinâmica de dois caras que são o auge da masculinidade e são o desejo de toda mulher, os deuses do sexo, lindos e padrões e tudo de bom, que pra mim foi bem caricata. O William em especial foi difícil de lidar. Pra quem passa boa parte dos capítulos chamado o Raul de frouxo e "boi0la" por não curtir sexo selvagem, ele foi quem mais "arregou" na hora de aceitar seus sentimentos, e não teve a mínima responsabilidade afetiva pra com os do Raul.
O cara falando que ama ele e ele dizendo pra o outro parar de drama? Dizendo que não é gay toda hora, pisando nas expectativas do outro pra depois ainda bancar o coitado dizendo que "ah você me traiu com outra pessoa"? A moral dele já não é boa, porque ele mesmo após saber que a Samantha era casada e mesmo topando ajudar o Raul com o casamento frustrado dele, continuou tendo um caso com a mulher do cara enquanto se sentia mal por ele. Tipo, meu filho, ninguém te obrigou a pegar a mulher não. E diferente de você, o Raul estava solteiro e teve um caso com outro homem também solteiro.
A masculinidade frágil do William chega a ser frustrante e se teve uma coisa que me desanimou é como o Raul tinha tudo pra ser o maior acerto do livro, o equilíbrio entre um cara sensível, mas firme, equilibrado mas descontraído, atencioso mas levemente egoísta. Mas a parada dele pedir pro Will gravar a esposa dele e depois ainda assistir várias vezes (inclusive depois deles dois ficarem juntos) me deixou muito frustrado com ele.
(Ressalva que é mais um livro onde as pesssoas parecem ignorar que a bissexualidade existe e quando lembram, parece um sinônimo pra não monogamia. Mas eu não vou adentrar nisso.)
3) A Samantha ter ido de uma cretina que traiu o marido pra psicóloga de casal e defensora número #1 do Raul foi forçado em vários níveis. Ela falou mal horrores dele é depois vem com "ah porque os pais dele são horríveis, eles tratam ele mal", quem é você pra falar isso? O fato que ela e o Raul mal se davam bem e começaram a se chamar de amor depois do divórcio também não soou natural pra mim.
É como se a história não conseguisse sustentar a narrativa em vários momentos e o leitor tem que lidar com isso. É uma experiência divertida em efêmeros instantes, mas de maneira geral, me pareceu mais frustrante que outra coisa. Não tenho comentários sobre a escrita, a informalidade nos diálogos me foi pouco familiar a princípio, mas é uma escolha do autor e se ele tem o estilo de escrita assim mais coloquial, então ok.