Cathy 05/03/2023Me ajudou a lidar melhor com o medo do envelhecimento, meu e dos que amoPerda da liberdade, da autonomia, do vigor físico e da beleza, são coisas futuras e certas que amedrontam a maior parte de nós. Nem mesmo a sua clara e imutável certeza nos conduz a nos preparar para tais fenômenos que nos aguardam no final da trilha da vida. Esse livro não é um manual de como enfrentar o envelhecimento com certa dignidade. Mas promove uma luz curiosa pelo caminho que nos avizinha e ajuda a viver o agora de forma a colher os bons frutos no futuro. O que achei mais interessante é a realidade nua e crua de uma realidade que escolhemos, enquanto ‘jovens’ ignorar fortemente, como se, assim o fazendo, ela simplesmente não acontecesse. Pura ignorância. Gostei especialmente do capítulo que fala sobre memórias. Fazer agora, no presente, boas memórias que encherão nosso coração de bons sentimentos quando nosso corpo não possibilitar que as vivemos novamente. Construir boas memórias no coração e na mente do que deixaremos para trás, de maneira a permitir que continuemos vivemos dentro dele e nossa partida seja menos dolorosa para eles. Lindo, cru, necessário. Dei de presente a vários amigos, por amá-los demais e querer compartilhar esse maravilhoso conhecimento com eles.
CITAÇÕES DE RELEVO:
- Quando vemos nossas lágrimas refletidas nos olhos daqueles que nos amam, o sofrimento fica menos pesado.
- O morrer pode ficar para amanhã, mas o viver, é melhor que seja hoje.
- A ditadura da felicidade ou da estabilidade emocional revela-se uma escravidão permanente que nos priva de viver tudo que a vida nos oferece – o que pode ser bom, mas em geral, não é.
- Quando comemos mal, exagerando nos alimentos processados, nas carnes gordurosas e nos açúcares refinados, oferecemos ao nosso corpo uma matéria-prima de péssima qualidade; e é com esse material que ela terá que se virar para recompor os tecidos que lesionamos o tempo inteiro com nossos maus hábitos.
- O mais desafiador é o que o Alzheimer nos tira a capacidade de decidir, o dom mais valioso do ser humano.
- O aprendizado é uma chuva de rejuvenescimento para o cérebro. Aprender nos presenteia com a possibilidade de criar conexões mais numerosas entre os neurônios, tornando o pensamento mais potente. O melhor recurso para desenvolver conexões cerebrais é a música. Quando aprendemos a tocar um instrumento musical, nosso cérebro pratica outra linguagem, associada à escuta. A música ‘ocupa’ uma região cerebral que o Alzheimer não alcançar e pode se tornar a nossa conexão com o mundo caso tenhamos a doença. Ela nos coloca novamente on-line com as pessoas ao nosso redor.
- Além de todos os benefícios, aprender música, canto e meditação fará de nós pessoas mais capazes de tomar decisões e mais serenas emocionalmente. Isso será de grande valia em nosso tempo no deserto, quando a vida irá nos impor perdas de todos os tipos.
- A vossa alegria é a vossa tristeza desmascarada. E o mesmo poço que dá nascimento a vosso riso foi muitas vezes preenchidos com vossas lágrimas. Quando estiverdes alegres, olhai no fundo de vosso coração, e achareis que o que nos deu tristeza é aquilo mesmo que nos está dando alegria. E quando estiverdes tristes, olhai novamente no vosso coração e vereis que, na verdade, estais chorando por aquilo mesmo que constituiu vosso deleite. A alegria e a tristeza vêm sempre juntas; e quando uma está sentada à vossa mesa, lembrai-vos de que a outra dorme em vossa cama. Em verdade, estais suspensos como os pratos de uma balança entre vossa tristeza e vossa alegria. É somente quando estais vazios que estais em equilíbrio.
- Cuidar do corpo é importante, mas nutrir os relacionamentos também é uma forma de autocuidado.
- Comece cada relação sabendo que ela vai acabar um dia. E, enquanto durar, viva-a de maneira mais plena e inteira possível. Não é preciso ter medo do fim, pois o fim é certo. Não é razoável desperdiçar tempo com bobagens, pois ele é finito. Entregue-se à alegria de estar ao lado de quem ama, porque um dia isso vai acabar. Mas o amor verdadeiro sobrevive à morte do corpo. É no amor, e apenas nele, que mora a verdade da vida, a tão sonhada eternidade.
- Há todo um grupo passando pelas mesmas transformações e esse senso de comunidade deveria trazer conforto ao envelhecer.
- Em nossa caminhada pela Terra, estaremos sempre perdendo algo. A maioria de nós perde tempo pelo fato de não prestar atenção nas bençãos que a vida nos oferece a cada dia. Também perdemos cabelo, desempenho, memória, viço, beleza. Perdemos a capacidade de fazer as coisas sozinhos, perdemos liberdade.
- Nos convencemos de que ninguém jamais nos tirará a capacidade de tomar decisões e, na sequência, de realizar aquilo que decidimos – ou seja, nossa autonomia e nossa independência. É assim, tomados pela autoconfiança e pela crença cega na garantia de uma vida imutável, que deixamos de nos preparar para as perdas e para todo o sofrimento que resulta delas.
- Aproxima-se das pessoas que não banalizam seus sentimos.
- Habilitando-nos, as pessoas que “perdemos” permanecerão vivas eternamente, ou enquanto tivermos consciência para nos lembrarmos delas.
- Do ponto de vista cronológico, respeitando a tal da expectativa de vida, somos mais as memórias que juntamos do que o futuro que planejamos. O filósofo italiano Norberto Bobbio dizia que “somos aquilo que pensamos, amamos, realizados e lembramos”. Memórias afetivas não são necessariamente memórias boas: são memórias que nos afetam, nos transformam, às vezes em pessoas mais tristes, outras, em pessoas mais felizes. As memórias afetivas se acomodam em um lugar sagrado do cérebro, ao qual temos acesso rapidamente. E nosso cérebro tem certa predileção por memórias boas, mais uma característica que já vem instalada de fábrica. E repousei minha alegria nas boas lembras.
- O agora é o momento de construir as suas memórias para preencher os dias em que tiver que viver delas.
- A gente deveria se aposentar um pouquinho todo o dia, dedicando um tempo a fazer algo que queremos muito, mas para o qual (achamos que) não há tempo agora. Dito de outra maneira: cada dia que vivemos precisa ter um pedacinho de aposentadoria. Nesses instantes, construiremos nossas memórias.
- Enquanto não fizemos a anatomia da dor, isto é, entendermos o caminho que esse ferimento fez dentro de nós e cuidarmos dele interiormente, será impossível criar um fluxo em outra direção e a dor permanecerá, ainda que amputemos o que a causou. A dor de uma relação desmanchada, de sonhos, plenos, projetos de vida desfeitos.
- Temos muitos motivos reais para querer continuar por aqui. Quando os identificamos, o sentido da nossa vida se fortalece. Só tem medo de morrer quem ainda não descobriu o que veio fazer neste planeta, neste tempo. Quando descobrimos, e quando estamos vivendo a vida que faz sentido para cada um de nós, libertamos do medo de partir.
- Desapego não é evitar o encontro e a entrega; é ser corajosos para nos entregarmos, deixando para trás tudo que não for vital para a nossa existência. E a existência não é a conta bancária, o guarda-roupa, o álbum de fotografia: é amor na memória, é vida pulsando!
- Culpar o outro pela própria frustação equivale a abrir mão da existência, porque, quando damos ao outro poder de decidir sobre o valor de nossa vida, perdemos nossa autonomia.
- O caminho que leva à compaixão tem quatro Cs: consciência, conexão com o outro, compromisso e curiosidade. Nossa existência depende do outro. Não existe autossuficiência. Podemos e devemos buscar um espaço de autonomia emocional, mas o reconhecimento ode quem somos depende de um olhar externo. A pessoa empática tem a necessidade de se colocar no lugar de alguém que sofre. É como se precisasse pôr o dedo na tomada para comprovar que dá choque, enquanto a pessoa compassiva cobre a tomada com um protetor para que ninguém se fira. Dependendo da capacidade interior de gerenciamento das próprias emoções, o empático pode acabar abraçando o sofrimento do outro como algo pessoal seu, sem perceber que, agindo assim, o que há é o sofrimento auto concentrado. Ao sofrer pelo outro, entra em estresse relacionado à impotência. Muitas vezes nossa presença é a melhor ajuda que podemos dar. Tenho para mim que quanto menos soubermos o que dizer, melhor nos sairemos nessas situações. Nossa humildade fala diretamente ao coração daquele que precisa de ajuda.
- Pessoas que, por levarem uma vida ‘certinha’, alimentando-se bem, dormindo bem, praticando atividades físicas, etc., acham que jamais vão adoecer. Ora, vão. Não existe isso de que nada de ruim pode acontecer a quem faz o bem.
- Todos nós vivemos em homeostase, a capacidade de o organismo manter-se em equilíbrio. Por outro ldo, a alostase depende de nós. Nesse fenômeno, nossa consciência mostra-se capaz de intervir em processos fisiológicos do nosso corpo, ou seja, na homesostase. Temos esse poder. Nossa consciência, nossa conexão com o outro, o estado de compromisso e a curiosidade que brotam dessa condição conseguem modificar nosso equipamento interno, criando um espaço de rejuvenescimento cerebral e de melhor desempenho das nossas capacidades físicas e mentais.
- No envelhecer, mais do nunca, precisamos abrir mão da necessidade de dizer que cada dia é um dia a menos de vida, um dia mais perto da morte. Precisamos olhar para o nosso tempo como algo que nos pertence, que é a nossa história. Ao fazemos isso, contemplaremos todo o nosso ciclo de vida, até a etapa final que é a velhice, até o dia em que nossa morte char, até o momento em que a morte virá para alguém que amamos.
- Da mesma forma que devemos nos preparar para perder, é necessário preparar as pessoas que amamos para a nossa partida. A boa mãe ou o bom pai é aquele que consegue existir dentro do coração do filho, não fora dele. Preparar alguém que amamos para a nossa ausência pressupõe, além de amar muito, ensinar a essa pessoa quem ela é aos nossos olhos, de modo que ela sempre saiba o que representa para nós.