rxvenants 03/04/2022VAI COM DEUS MEU CHAPA, PRÓXIMO.A Touch of Darkness é uma completa decepção pra mim.
O livro basicamente trata da Persephone fingindo ser uma mortal jornalista conhecendo Hades e caindo em um contrato com ele: ela deve criar vida no Mundo Inferior dentro de seis meses ou ficará lá para sempre. O negócio é que Demeter, sua mãe, é super protetora e tem um ódio gigante por Hades e se descobrir, vai trancar Persephone numa estufa pro resto da vida.
O livro tem a premissa de trazer os deuses para os dias atuais (ou pelo menos atuais em 2019) e a ideia é ótima, eu admito, mas a falta de exploração do mundo criado por Scarlett St. Clair e os personagens totalmente desagradáveis estragaram o livro por completo.
O mundo que envolve A Touch of Darkess é totalmente sem graça e nem de longe expandiu o tanto que poderia.
Primeiro, que se deuses estão vivos e andam na Grécia e TODOS sabem da existência deles, como o resto do mundo reagiu? Como ficam outras religiões? Existe um resto do mundo?
Na minha opinião, é imprescindível tratar desses assuntos quando você coloca divindades reais no mundo atual, mas esses tópicos nunca chegam a ser comentados e simplesmente parece que a autora nem chegou a pensar nesses detalhes.
É muito estranho pensar no nosso mundo com deuses da mitologia grega quando eles parecem totalmente isolados e o resto do mundo parece nem existir ou saber da existência de LITERAIS deuses (mesmo com diversas passagens indicando que eles interferem de forma bem pública na vida dos mortais).
Não tem como falar que é num mundo atual se o jeito que as coisas funcionam são basicamente a Grécia antiga, só que com celulares e computadores.
Chega a ser cômico que no mundo da conectividade e informações rápidas, nenhuma rede de notícias fora da Grécia fale sobre os deuses do Olimpo.
A Persephone comenta, por exemplo, sobre grupos que vão contra os deuses, mas a gente nunca vê esses conflitos ou os deuses realmente tratando deles.
Existe a cena de um baile de gala, que aparentemente acontece todos os anos e a maioria dos deuses do Olimpo vão, mas nada acontece lá.
Sinceramente, eu esperaria rebelião desse grupo num lugar que vários deuses estão. É totalmente desconexo que várias coisas sejam mencionadas, mas nunca exploradas ou pelo menos apresentadas pro leitor.
E esse é também um grande problema de A Touch of Darkness: vários conceitos e regras do mundo do livro são apresentados só pra encher linguiça ou por pura conveniência. O famoso falar e nunca mostrar.
Os grupos religiosos (contra ou a favor) nunca aparecem de verdade, nunca há problemas grandes no livro que exigem que os deuses resolvam de forma conjunta ou com uma apresentação grande da magia deles e aparentemente todos os deuses tem uma boate (o que é extremamente sem graça, se me perguntarem).
Todos os conflitos menores no livro e ações de diversos personagens são por puro pensamento de "deveria haver um problema aqui pro livro não ficar sem nada". A maioria não faz sentido algum. Alguns exemplos (que vou tentar explicar, mas talvez fique mais claro pra quem já leu o livro):
- Demeter não quer que Persephone fique com Hades. Ela é extremamente controladora e coloca diversas magias pra saber o que a Persephone está fazendo.
Em um ponto do livro a Persephone escreve um artigo sobre Hades e fica famosa por isso. A Persephone vai para Nevernight (a boate do Hades) todos os dias. Ela foi a um baile (ela usou magia pra disfarçar) e saiu de lá famosa por ser "a loira que desapareceu com Hades". Há diversos rumores sobre eles estarem namorando.
O que acontece é que, por algum milagre, Demeter não descobre NADA disso (além de saber do artigo) até a Persephone trazer o Hades pro apartamento dela no mundo mortal.
Demeter desaparece por mais da metade do livro e só aparece realmente quando aparentemente precisa rolar uma briga. Pra alguém super protetora, eu achei ela bem fraca.
- A Persephone no começo do livro diz que precisa (por um motivo que só ela sabe, já que ela não faz sentido nenhum nas convicções dela) escrever sobre Hades e contar pro mundo sobre ele. Ela escreve um monte de asneira pois é infantil e está brava.
Isso vira um fuzuê no livro e ela bate os pés dizendo que quer ser jornalista e quer escrever.
Depois disso, quando eles já tem uma relação amena, Hades chama Thanatos para que a Persephone possa entrevistar algumas das almas que com quem ele já fez contratos. Depois que ela descobre que ele simplesmente não tem controle das almas que pode ou não levar pro Mundo Inferior, já que as Moiras traçam o destino de cada um e quando eles devem morrer (isso é algo que vou comentar mais pra frente), ela simplesmente ESQUECE da ideia de escrever artigos.
Ela até chega a escrever um texto bom sobre Hades, mas NUNCA publica e fica por isso mesmo. O conflito foi criado só pra justificar a raiva sem noção da Persephone e depois NADA. A vontade dela de ser escritora, a faculdade e os caralhos a quatro são jogados no limbo. A gente nunca vê ela fazendo uma coisa sequer nesse inferno de faculdade.
- O Hades faz contratos com almas mortais, mas a gente só vê isso uma vez e coincidentemente é quando Hermes tenta mostrar pra Persephone como o Hades é bom.
A Persephone enche o saco o livro inteiro sobre o jeito que Hades barganha e a gente não vê em um momento ele realmente fazendo algo (ou seja, é só pra gente ficar com raiva das ideias perturbadas e infundadas da Persephone sobre Hades).
- O contrato ou jogo ou sei lá o que de Hades e Afrodite. Esse aqui foi claramente feito só pra ser o conflito que separa a Persephone do Hades por algumas páginas pra depois eles voltarem e confessarem que se amam.
Aparentemente Hades e Afrodite fizeram uma aposta (ou ela questionou se ele conseguiria?) que o Hades deveria fazer alguém se apaixonar por ele. Se isso não fosse clichê suficiente, no final do livro Afrodite vai falar com a Persephone, fazendo ela descobrir do acordo.
Fora a Afrodite ter dado a senha para Persephone ir até o segundo andar secreto de Nevernight e ela falar com a Persephone no baile, não há nada que indique que esse acordo entre o Hades e Afrodite aconteceu.
O Hades mesmo nunca demonstra ou fala nada disso, Minthe, a assistente que aparentemente sabe de tudo de forma seletiva, nunca fala disso e ninguém naquela boate sabe disso.
Parece que a autora quis fazer um plot twist pra gente pensar, "Nossa! Então naquela noite que eles se conheceram, era a Afrodite dando a senha!", porém, foi algo tão mal feito, que só fica meio sem noção mesmo e super conveniente que Afrodite fale sobre isso logo no final do livro quando tudo está indo bem.
- O Adonis. Hades pede pra Persephone ficar longe dele e aparentemente existe toda uma história entre Adonis e Hades que a gente nunca vê. E claramente o Adonis tá ali só pra ser o cara tóxico que deixa o par romântico da principal com raiva. Ele fez merda, sumiu por 60% do livro e voltou pra encher o saco também no final.
Se o Hades sabia tanto sobre o Adonis, eu nunca vou entender como ele não sabia que Persephone foi chantageada por ele. Também nunca vou entender como a Minthe conseguiu tirar foto do Hades e da Persephone transando no Mundo Inferior e ele, UM DOS TRÊS MAIORES, não sequer sentir ou descobrir isso acontecendo no reino que ele mesmo criou com sua mágica, tão perto dele.
- A Persephone é a deusa mais sem conhecimento da mitologia grega que eu já vi.
Por grande parte do livro ela culpa Hades por levar as almas dos mortais pro Mundo Inferior e aparentemente não tem conhecimento nenhum de quem são ou como funcionam as Moiras. Thanatos fala pra ela que quem corta o fio da vida e decide a morte dos mortais são as Moiras e o Hades apenas tenta ajudar aqueles que vão até ele e a Persephone fica tipo "Mas ele que faz os contratos!", não levando em conta NADA que ele falou.
Essa falta de conexão de uma própria deusa não saber do universo dela é bizarro.
Todo o problema que a Persephone criou na cabeça dela seria resolvido se ela pelo menos desse um Google nas Moiras.
Acho que a pior parte pra mim no livro é realmente essa falta de ligação dos personagens que são deuses com sua própria história.
O livro tem diversas coisas diferentes do que conhecemos na mitologia e muitas dessas mudanças são esquisitas.
Ninguém nunca comenta sobre o pai da Persephone (e a gente sabe que é Zeus) e eu fiquei sem entender se ela só não era filha dele.
A autora também não fala das traições dos deuses (justamente de onde a Persephone nasceu, já que Zeus é casado com Hera) e fica tudo jogado no ar. É MUITO frustrante.
Bom, acho que meus exemplos nesse assunto acabaram, mas dá pra ter uma ideia.
E antes de falar dos personagens, o plot principal do acordo entre Persephone e Hades é bem clichê. O que não é uma coisa ruim quando bem feito, mas como o livro peca em DIVERSAS coisas, acaba ficando chato.
As duas coisas que eu cogitei que aconteceriam foram mencionadas e uma delas realmente foi o final.
Eu primeiro achei que a "vida" que a Persephone teria que criar no Mundo Inferior seria um filho e ela realmente teve essa conversa com Hecate.
Depois, pareceu óbvio que a vida seria a vida em Hades. E o final foi isso mesmo. Ele acordou pois a Persephone despertou vida nele.
A relação entre os dois foi tão mal feita, que ficou só vergonhoso mesmo.
ENFIM.
Agora tirado do caminho aspectos do mundo e do desenvolvimento da história, vêm os personagens.
Pra mim, não houve UM personagem carismático nesse livro. O que já é ruim e fica ainda pior se você pensa que até a personagem principal é um saco e você precisa lidar com ela por 400 páginas.
Primeiro que a Persephone é CHATA. Ela é insuportável e é horrível ler a raiva dela de circunstâncias que, como a Carol Chiovatto comentou comigo no twitter (sim, a autora de Porém Bruxa e sim, eu me achei chique!!!), ela mesma criou.
Ela julga o Hades o livro inteiro de forma extremamente infantil. Nunca para pra ouvir ele e as pessoas que conhecem ele por mais tempo que ela.
Ela só acredita no que ela acha certo e julga o resto do mundo se algo não vai do jeito dela sob uma máscara de "ajudar os mortais".
Ela exige dos outros coisas que ela mesmo não dá e cria problemas que nunca existiram.
É totalmente exaustivo ficar lendo que o Hades usou ela, que é tudo um jogo pra ele, quando não há NADA pra comprovar isso.
É é muito difícil suportar o Hades no processo pois ele NUNCA vai contra as ideias dela. Ele é o rei do Mundo Inferior, mas o papel passivo que ele toma te deixa com muita raiva.
A relação entre os dois é completamente destruída por essa dinâmica da Persephone falando mal dele e ele nunca fazendo nada e nunca realmente mostrando PORQUÊ ele é porderoso. Não dá pra gostar dos dois quando ela não tem uma qualidade que faça a gente entender o motivo do Hades querer ficar com ela.
Não é Enemies to Lovers se um deles só é insuportável e o outro nunca bate de frente.
Os outros personagens e os outros deuses são completamente sem sais. Nenhum têm uma característica interessante ou que destaque dos outros secundários.
Acho que o mais legal do livro é o Thanatos e olha que ele só falou por, no máximo, umas 6 páginas. E acho que durante o livro todo, ele é o único que traz um pouco de filosofia no que fala.
Acho que foi conhecendo ele que eu percebi como o livro não tem uma escrita incrível ou passagens que tiram o fôlego (nem as descrições são bem feitas) e como eu senti falta dos deuses gregos tratarem um pouco da filosofia que moldou a Grécia antiga, principalmente quando eles tem o olhar de divindades sobre os mortais e o livro fala tanto sobre a vida e a morte.
Mas continuando, todo mundo é um pé no saco.
E todos os desenvolvimentos entre os personagens ficam nessa área entre esquisitos e mecânicos, já que ninguém realmente parece gostar de ninguém.
Persephone odeia tanto o Hades o livro inteiro (e depois por algum motivo fica chocada quando ele fala que acha que ela odeia ele), que quando ela gosta dele, não dá pra acreditar.
Hades fala que adorou a deusa, mas tudo que eles fizeram foi ter sexo meia boca e nunca realmente conversarem sobre coisas que interessam ou realmente criarem uma parceria e se ajudarem quando precisam do apoio do outro.
Sei que é muito, mas acredito que essas sejam as coisas que eu tenha pra falar desse livro (até eu lembrar de mais e querer editar essa resenha).
Os personagens são desagradáveis, o universo é mal explicado e mal explorado, os problemas são fúteis, sem graças e convenientementes demais.
Nada é legal, nada é charmoso e nada te faz torcer pelo casal principal.
Eu não recomendaria esse livro pra ninguém que gosta do conto de Hades e Persephone.
E para os outroa três livros dessa série, eu cito Marcia Sensitiva: VAI COM DEUS MEU CHAPA, PRÓXIMO.
P.S.: Aparentemente as Moiras foram chamadas de "Destinos" na tradução??? O quê???