Rayssa 18/03/2023BrilhanteRosemary e o marido se mudam para um novo apartamento em um edifício de luxo de NY. Lá eles conhecem um casal de vizinhos um tanto quanto, excêntricos. Quando Rosemary realiza o sonho de engravidar, coisas estranhas começam a acontecer.
Com essa premissa instigante, o livro entrega uma história maravilhosa. Com uma prosa muito fluida e consistente, o livro me prendeu do começo ao fim. A atmosfera é muito bem construída, com um suspense sutil e intrigante, mas nada descarado ou apelativo.
Os personagens são icônicos. Com profundidade e personalidades bem delineadas, sobretudo Rosemary. Indo além de um livro de terror comum, o autor coloca questões muito pertinentes na leitura. Rosemary representa a falta de autonomia com o corpo feminino. O quanto ela é facilmente manipulável traduz a visão de fraqueza que os outros têm sobre ela.
Há ainda, a discussão sobre a questão patrimonial e as consequências machistas que isso traz. A sensação de poder que o marido acha que tem sobre a esposa, cujo ápice se encontra em um abuso sexual, dissimulado pela própria personagem em razão de seu sentimento de inferioridade e solidão.
Além disso, a personagem vê no bebê que carrega a possibilidade de libertação e auto afirmação. Tanto que, ao final, apesar de tudo, ela não abre mão de seu papel de mãe. A sequência de atos estranhos que permeiam toda a gravidez ao final acabam se tornando uma normalidade. Quando ela vê a verdadeira identidade do bebê, o choque cai sobre ela com força. Mas será mesmo? Pra mim ela já sabia de tudo, ainda que de forma inconsciente, mas nada a fez se separar daquela única esperança de independência que a gravidez lhe proporciona.
Um livro brilhante, que eu classificaria mais como um suspense dramático do que terror em si.