fernandaugusta 03/09/2022A Estrada Lincoln - @sabe.aquele.livroA Estrada Lincoln não é a história de uma viagem. É bem mais que isso. O que Amor Towles nos traz é uma história toda focada em seus personagens, com uma mensagem de esperança, justiça e recomeço.
Começamos no dia 12 de junho de 1954, com Emmet Watson sendo levado pra casa após cumprir pena no reformatório de Salina. Emmet foi liberado antes, pois seu pai faleceu, e a hipoteca da fazenda da família será executada. Ele então vai pegar uns poucos pertences e seu irmão, Billy. Tem a ideia de ir de carro para o Texas e recomeçar trabalhando como construtor.
Billy é uma criança idealista e muito inteligente, que adora histórias. Após a morte do pai, ele descobriu uma série de cartões postais enviados pela mãe quando foi embora, então Billy encasqueta que em vez de ir para o Texas, quer ir para São Francisco encontrá-la. E que quer viajar pela Estrada Lincoln, a primeira via a cruzar os Estados Unidos de costa a costa, começando em Manhattan e terminando na Califórnia.
Não bastassem os planos alternativos de Billy, Emmet logo descobre que eles tem "visitas". Duchess e Wooly, que estavam em Salina com Billy saíram de lá escondidos no porta-malas do carro do tutor e não tem planos de voltar para lá. Pior ainda, querem ir até a casa de fazenda da família de Wooly, arrombar um cofre que - segundo ele - tem milhares de dólares de um fundo que pertence a ele por herança.
Essa companhia inesperada faz com que a viagem tome um rumo diferente do inicial, com algumas paradas e um bocado de confusão. O importante neste livro não é o trajeto e sim, os personagens, primorosamente apresentados e desenvolvidos (Billy e Wooly são incríveis!). Os capítulos expõem e constróem a personalidade de cada um de maneira gradativa: Billy, Emmet, Duchess e Wooly - principalmente. Suas vidas vão sendo colocadas como se fossem uma grande estrada: o que está atrás tão importante quanto o que está a frente nos 10 dias em que ficam juntos.
Gostei da leitura, é um livro que, se virasse filme, passaria na Sessão da Tarde. Tem um propósito bonito, passagens emocionantes e quotes lindos. A escrita do autor, embora um tanto prolixa, tem um humor refinado, muitas referências externas e é bem envolvente. São 576 páginas de uma história com poucas reviravoltas e de caráter bastante reflexivo, rememorativo. Este caráter arrastado pesa um pouco, e além disso temos um final que, a meu ver é bom, mas parece em parte inacabado e em outra, um tanto injusto com alguns personagens, no meu critério.
Mesmo assim, para quem gosta daquelas histórias bem americanas, com personagens marcantes e um enredo de aventura, vale sim arriscar A Estrada Lincoln.