tamachunas 09/09/2023?"Achei-a", pensou fechando lentamente a mão. E colheu uma libélula que vinha a se debater debilmente na correnteza. Colocou-a na haste de um junco. Mas as longas asas continuaram grudadas ao corpo, paralelas e transparentes como um esquife de vidro. Soprou-a em vão. Estava morta.
Deixou-a, mas continuava a observá-la: era natural que outra libélula passasse por ali voando como era natural aquela estar imóvel. Vida e morte se entrelaçavam. E se no momento era difícil amá-las, impunha-se recebê-las com serenidade.
Agora as asas da libélula estremeciam. Moveu as patinhas com esforço. Virgínia aproximou-se, fascinada. Parecia morta quando a retirara e eis que as asas, secas sob o sol, já tentavam alçar voo. Soprou-a. "Vá, não perca tempo!" E vendo que a libélula enveredava por entre os juncos, ficou pensando que mais importante do que nascer é ressuscitar.?
Li Ciranda de pedra pra leitura conjunta de setembro do Página 99, era pra acabar de lê-lo só no final do mês mas fui tão absorvida pela narrativa que acabei atropelando todo o cronograma. Ainda sem palavras pra tamanha delicadeza que Lygia empregou aqui, tanto cuidado com imagens e símbolos que retornam o tempo todo na história? a partir de certo ponto entendi o motivo de ter sido adaptada para novelas, e fiquei assim, morrendo de vontade de ver uma adaptação que fosse feita pelo David Lynch, por conta do onírico latente em cada memória e acontecimento, que é um dos aspectos que mais amei. Depois dos encontros da leitura conjunta devo voltar aqui pra dizer mais coisas, mas já nasceu favorito.
Ai, Lygia ?? sempre faz tanto em mim?