Doze dias

Doze dias Tiago Feijó




Resenhas - Doze dias


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Krishnamurti 10/02/2023

Caprichos da vida e do tempo
Acompanho desde há pelo menos 7 anos, e com vivo interesse, a trajetória do escritor Tiago Feijó. Li e resenhei sua primeira obra publicada (2015), um volume de contos sob o título de “Insolitudes”. Dois anos depois o mesmo aconteceu com o romance “Diário da casa arruinada”, e agora encontro novo romance seu sob o título de “Doze dias”. Obra que foi reimpressa pela Editora Penalux (novembro/2022), à propósito também de ter sido contemplada no ano de 2021 com o Prêmio literário Manuel Teixeira Gomes promovido pelo Município de Portimão em Portugal e, segundo lemos na quarta capa, ter figurado entre os finalistas do prêmio Leya de 2021.

O jovem autor cearense vem ultrapassando etapas com a firmeza dos verdadeiros criadores literários. Faz parte daqueles que estão em busca constante por aprimorar o talento natural via apuro da linguagem, na árdua busca pelo melhor encaixe entre técnica e inventiva, perquirindo as ranhuras da alma humana, sondando suas fendas, e reentrâncias. Esta a lenta e demorada carpintaria das letras. Esse o constante exercício. Nunca pronto e acabado. Penso, e já escrevi sobre, que prêmio literário não significa chancela definitiva, cabe ao verdadeiro escritor, aquele que deseja produzir obra autêntica e duradoura, que não se acomode a fórmulas prontas e trabalhe com todo afinco na construção de seus textos ao longo do tempo. Jamais deve se iludir com as fogueiras das vaidades humanas que tanto equívoco e embuste já causaram.

Feijó mostrou-se escritor promissor desde seu primeiro livro. À propósito do lançamento de “Insolitudes” – Contos. Escrevi: “Enfim, um leque de estratégias narrativas composto de marcas próprias, dando-lhes singularidade, e revelando um ficcionista que sabe exatamente o que faz”. E mais adiante: “A proposta que nos faz se afigura como uma proposta de reflexão sobre o que está implícito como motivação da criação literária. Feijó lança esta proposta como quem sopra um vento fresco através das copas das árvores, a nos acenar com a evidência de que a verdadeira arte é inabitual, excêntrica e se revela também por meio de insolitudes.”

O tempo caminhou, e vi-me dois anos depois (out/2018), a escrever sobre o mesmo autor, quando da publicação de seu primeiro romance: “Diário da casa arruinada”. Pude identificar então, que estávamos diante de um autor que revelava outras facetas literárias quando criou um romance com “arcabouço ficcional que vai nos revelando aos poucos, alguém que valoriza o ato de escrever, mas evidencia também o narrador (autor) que não pretende apenas comover, emocionar com uma história bem contada, ou informar de maneira didática sobre questões sociais da atualidade. Busca como diria Muniz Sodré, produzir um sentido de totalidade com relação ao sujeito humano, fazendo entrecruzarem-se no texto, história, psicologia e metafísica.

E temos agora este novo e premiado romance “Doze dias”. Uma sinopse singela do livro, nos daria conta de que se trata de uma ficção que gira em torno de “um pai e um filho que não se veem há quinze anos, separados por uma indiferença mútua e persistente, rompida apenas uma vez a cada ano, quando o pai telefona ao filho para felicitá-lo pelo seu aniversário. Mas o acaso tratará de pôr fim a este frio afastamento. Certa manhã, o senhor Raul acorda com uma estranha dor que o impede de se levantar da cama; sozinho e abandonado, não lhe resta outra alternativa senão ligar para o filho e lhe pedir ajuda. Antônio viaja duzentos quilômetros com o intuito de levar o pai ao hospital e retornar à mesmice de sua vida, mas o desenrolar dos fatos o mantém por doze dias no hospital, como único acompanhante do doente. Doze dias num quarto de hospital, este o local e o tempo.

Cumpre avançar um pouco mais na sinopse singela, sem prejuízo de spoiler, descortinando a ponta do véu que oculta o cerne da obra e como ele foi trabalhado pelo autor: O tempo que conjugado à memória, é a mola mestra do romance. A experiência ‘momentânea’ daqueles 12 dias de confinamento em um quarto de hospital sob precárias condições de conforto e saúde, contrasta com os 15 anos de afastamento, indiferença e ausências. É a tônica da trama combinada com características psicológicas da memória e das perspectivas que os dois protagonistas optaram, ou foram arrastados pelo rumo sempre incerto das circunstâncias das vida.

Ocorre mencionar também que o tempo cronológico até certa altura pelo menos, demarca duas trajetórias distintas e opostas. De um lado o filho Antonio (32 anos de idade) que nos 15 de afastamento, lutou para construir sua vida. Se torna professor de língua portuguesa, aluno de mestrado em uma universidade, e ainda por cima estuda língua francesa à noite. De outro, e no mesmo decurso de tempo, a mais completa desestruturação de vida. O pai Raul, (64), precocemente envelhecido a viver sozinho em uma casa praticamente vazia de mobiliário, pobre, afastado de parentes e muito doente. Esse tempo cronológico vai se esbarrar com força descomunal no campo psicológico de ambos. Quando atentamos para o plano interno da narrativa, percebemos que a progressão da temporalidade se opera em ondas e não em linha, em quadros – os dias passados no hospital –, justapostos e não encadeados. Tais quadros constroem a narrativa que se baseia na memória. A fabulação se processa por acúmulo de cenas não ordenadas em que o “antes” e o “depois” dizem mais respeito à ordem de colocação dentro do romance, que privilegia o psicológico. Uma técnica narrativa conhecida como time-shift (mudança de tempo). A tessitura da trama surpreende ainda, com flagrância, o sentimento de metamorfose que experimentamos ininterruptamente, como aquele rio perene a correr, diante do mesmo espetáculo. “Mudou o Natal ou mudei eu?”, Machado de Assis se pergunta em um de seus sonetos. E como o “eu” é um fluxo permanente, nada se mantém inalterável.

O que o filho recupera aos poucos é o sentimento impresso em seu subconsciente por toda sua vida pregressa. Os acontecimentos desvanecem, fica a ressonância na memória. Por outro lado, e para além da enfermidade do pai e dentro de si, no mistério das causas profundas de seu atual estado que ele construiu e que resultou em miséria moral e material, algo muito grave estremece-o e perturba-o. Sombras que até então não ousara olhar, mas, no entanto, não poderia jamais ocultar de si mesmo. E no silêncio de sua dor ouve gritar suas grandes culpas.

Este livro nos incita a refletir que o sentido da evolução da vida jamais deixa de atuar, esse o impulso que recebemos porque, mesmo que façamos escolhas, estamos fadados a ir da indiferença para a dedicação, da vingança ao perdão, da dor à felicidade. Não importa o tempo. 15 anos ou doze dias que seja. No caso em questão, a vida negligenciada de um pai pesou em seu destino e a dor, essa excepcional forjadora de almas, fez o seu trabalho. Este o destilar do labor da existência. Pai e filho fizeram escolhas em tempos variados e na medida do que podiam conceber no transcurso do tempo. Ocorre, entretanto, uma insuspeitada sublimação. Aí a verdadeira ascensão do espírito que deseja transferir para mais alto o centro de sua vida.

Tiago Feijó venceu o Prémio Ideal Clube de Literatura em 2014, em 2021 conquistou o Prêmio Manuel Teixeira Gomes em Portugal. Esteve bem próximo de vencer o São Paulo de Literatura em 2018 e o Leya de 2021. A julgar pelo caminho que vem trilhando e que já referimos, de perquirir as ranhuras da alma humana, sondar suas fendas, e reentrâncias, está a bom caminho. Outros reconhecimentos de seu trabalho por certo virão. E que assim seja, simplesmente porque inequivocamente, tem feito por merecer.

Livro: “Doze dias” – Romance de Tiago Feijó – Editora Penalux - Guaratinguetá – SP, 2022, 188 p. - ISBN: 978-65-5862-403-5
Links para compra e pronta entrega: https://www.editorapenalux.com.br/autor/MjQ2/Tiago_Feijo OU: https://www.facebook.com/profile.php?id=100010129953726
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Gessyka.Loyola 08/04/2023

Família
De início a história parece não evoluir mas passaram os capítulos e eu fiquei curiosa querendo saber os segredos e como ia se desenrolar esses 12 dias entre pai e filho.
Gostei muito, deu uma ideia de como são várias relações entre pais e filhos, e como isso impacta num momento delicado da vida.
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Jis Rocha 03/04/2023

Olá queridos.
Iniciando abril com um drama do autor @tiago_feijos. Tive a oportunidade de conhece- lo em um evento na minha cidade, Guaratingueta, no dia do lançamento da versão brasileira do seu livro Doze Dias pela @editorapenalux, esse livro ganhou o prêmio Manuel Teixeira Gomes em Portugal.

O livro é contado em doze dias, alternando a ordem dos acontecimentos sem nos deixar confuso, o autor se apresenta como o narrador da história dessa família.

Antonio é chamado pelo pai que está sentindo muita dor, e só tem o filho para o ajudar a ir para o hospital, pois o mesmo não consegue nem andar. Sem saber o que acontece, Antonio vai ao socorro do pai.

Daí vocês pensam: bom parece o início de um livro clichê de pai e filho, seria se o pai não morasse a 200 quilômetros de distância, e além dos quilômetros, somassem mais 15 anos. Sim, eles não se viam pessoalmente a 15 anos, e se falavam roboticamente uma vez no ano, no aniversário do Antonio em uma rápida ligação.

Misturando narrador com personagens, o autor consegue nos mostrar como mágoas, arrependimentos de uma vida afloram em somente 12 dias.

O livro é bem rápido de ler, e nos mostra que nos piores momentos é que muitos revelam o seu verdadeiro eu, assim como suas maiores fraquezas. O Raul é o exemplo de que uma vida vivida ao seu modo tem suas consequências, no caso dele, ficou sozinho (como ele queria), mas no decorrer da vida teve muitos amigos, amantes, uma vida de farra, e quando ele mais precisou de uma mão, o único que a pegou foi o seu filho, distante por 15 anos. Mesmo sabendo da mágoa que ele carregava, foi o único que o ajudou.

Nesses doze dias foi realmente de confissões, de se desnudar, de arrependimentos, encontro, despedidas e perdão.
Ao mesmo tempo em que Antonio vê sua antiga casa vazia, assim como a vida que seu pai escolheu, também vê amor, representado pelas flores no jardim desse mesmo lugar.

Então, será que o amor pode florecer novamente no coração ressecado desses dois? Será que um copo d'água seria o sulficiente para fazer isso?

" O que me pergunto é o que deixamos ao morrer? O que deixarei quando eu não estiver mais aqui? O que você acha que deixarei ao morrer, filho?"
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Diego Vertu @outro_livro_lido 08/04/2023

12 dias e reflexos de toda uma vida.
A vida de Antônio muda drasticamente quando ao levantar e recebe uma ligação. Quem chama é seu pai Raul que pede a Antônio se dirija até a cidade de Lorena para leva-lo ao hospital.
Antônio decide então atender o pedido do pai e passará doze dias no hospital com ele e é nesses doze dias que entendemos a relação construída entre pai e filho ao longo dos anos. Antônio e Raul não conversam direito há 15 anos e um não sabe nada da vida do outro.
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Gostei muito da leitura e da escrita do Tiago, o livro me prendeu, pois queria saber o que abalou a confiança entre um pai e um filho, também é interessante a escrita fora da ordem cronológica que o autor escreve. Adorei a Brasilidade do livro trouxe uma originalidade à obra. As personagens são bem construídas e conseguimos entender as funções de cada uma. Acho que o livro toca temas familiares profundos que acontecem em muitas famílias por aí sendo um grande reflexo da sociedade brasileira atual. Enfim, um excelente livro que recomendo.
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Dani Otogalli 11/04/2023

Um livro forte
Ao iniciar o livro já vemos a diferença na narração. De um jeito continuo o Tiago nos traz diálogos sem pausas.
E aí conhecemos pai e filho que durante 15 anos viveram distantes, mas um telefonema os juntou de forma até desconfortável.

Tendo que cuidar do pai, Antônio passa 12 dias num hospital em Lorena, na incerteza de quando poderia voltar a sua rotina.

Seu Raul no entanto, estava mais desconfortável ainda. Após tantos erros, sentia que era um peso pro filho, mas sabia que ele era o único que podia o ajudar.

Nesses 12 dias pai e filho vão reviver anos, na certeza que não poderiam consertar o passado, mas poderiam deixar grandes memórias para o futuro.
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Vini 28/08/2023

'Doze Dias' é bem rapidinho de ler, mas é arrebatador.
'Doze Dias' fará o leitor caminhar por questões familiares e suas indiferenças, além de tocar em um assunto comum (infelizmente) é bem delicado, que é a ausência paterna. A obra também traz esperança, perdão e cura. É aquele típico livro que mexe com o leitor. 'Doze Dias' é bem rapidinho de ler, mas é arrebatador.

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site: https://www.estantedovini.com.br/post/doze-dias-resenha
Luisa647 29/08/2023minha estante
Nossa, estou com esse livro pra ler essa semana!!! Comprei direto com o autor, autografado.


Vini 29/08/2023minha estante
Eu gostei do livro. Eu acho que você vai gostar também.




Jeferson.Gomes 01/03/2023

UM COPO DE ÁGUA FILHO, POR FAVOR?
Os anos na fila de espera, aguardam na recepção, perdidos no abraço aos joelhos, desconhecidos em sua junção.

As atividades foram interrompidas, devido ao vazio que se movimentou durante toda a vida. Espaços serão preenchidos no gotejar de um alívio.

A casa está vazia, leito ocupado pelas escolhas não afetivas, vendidas às mulheres e a copos de bebidas.

Flores recebem água na secura das palavras, pronunciadas na neblina regulagem do oxigênio, evaporado pela insistência.

Companhias visitam "escombros", percorrendo veias desaparecidas, rastros de sangue e urina, consequências do abandono.

Antibióticos vagam por "corredores" escuros, ilusórios delírios em pronúncias, pedindo água no gesto que deságua.

O som do portão se abrindo, direciona ao gigante adormecido, à espera da resiliência dos filhos.


site: https://www.instagram.com/meuslivros.minhaleitura/
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Renata Barreto 18/03/2023

Um livro que fala sobre adoecimento, morte, família e sentimentos. É legal como traz um retrato de emoções e experiências subjetivas diante do adoecer/morrer. Mostra um pouquinho sobre o que é estar com alguém hospitalizado e a caminho da morte e como morrer as vezes é um processo e que nesse processo tem vida(s).
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@leiturasdadudis 22/03/2023

O que pode acontecer em 12 dias?
Antônio não vê seu pai Raul há 15 anos quando recebe sua chamada, pedindo ajuda para ir até o hospital. Nem mesmo ele sabe o porquê, mas concordou em viajar uma distância enorme para atender o pedido daquele pai urgente e que desconhecia.

Durante os 12 dias que passará ali, ao lado do leito do desconhecido, e, no entanto, de seu pai, ele terá que lidar com a ausência, a rejeição e a personalidade fatigante daquele homem.

Antônia voltará ao passado e presente, revivendo memórias e resolvendo mistérios que se revelará somente por causa da morte batendo à porta.

Numa narrativa curta, com um narrador onisciente, uma escrita mais rebuscada e poética, os dias são narrados por capítulos. Dias esses que estão fora de ordem, apresentados como peças de um quebra cabeça, restando ao leitor tirar o melhor proveito do que se lê, assim como eu tirei.

Outro detalhe importante para alguns leitores, é que os diálogos não são representados por travessões ou aspas. Nessa obra, o autor dispõe as conversas em texto corrido, no decorrer do parágrafo, como quem conta uma história.

Gostei bastante da construção temporal da obra e seu desenvolvimento, mas foi uma leitura um pouco difícil para mim, que conheci e vi morrer alguém como seu Raul, embora não fosse meu pai. Por este motivo, me vi dividida em diversas passagens sobre o que sentir a respeito dos personagens e admito que até agora não sei bem que conclusões tirar, já que a leitura ganhou um teor mais pessoal.
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Transporte_se 03/04/2024

Doze dias
São apenas doze dias, mas essa leitura retrata tantas coisas que não parece apenas duas semanas.
Quem já ficou em um hospital sabe o sentimento.
O pai que a muito perdeu contato com o filho o chama, o filho se vendo na obrigação, visto que o pai não tem a quem mais chamar vai a socorro do pai e o leva ao hospital, lá descobrem que é bem mais grave do que achavam.
Esses doze dias ocorrem no hospital, associando fatos do passado ao presente, mostrando o motivo da distância entre pai e filho. Mas será que eles continuarão cultivando esses sentimentos vendo o fim tão próximo??
Recomendo muito essa leitura, extremamente bem escrito.
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Marianne Freire 10/07/2023

15 anos de solidão

Não você não leu errado. O romance psicológico de Tiago Feijó costura uma prosa forte, entre um pai distante e um filho que segue sua vida sem a interferência da figura paterna. Mas exatamente quinze anos os separam na ficção, e o encontro se dá pela necessidade do pai Raul ao se encontrar enfermo e precisar do filho Antônio no hospital.

Emoção, compaixão, um romance melancólico. Antônio quase fleumático cuida do pai por 12 dias no hospital. Quanto vale a vida por um perdão? Por uma reconciliação? Qual o preço da solidão? Por que a doença não é capaz de reunir as feridas da alma e curá-las?

Meu conterrâneo escreve um romance psicológico com a escrita consciente do movimento da ausência de afetos e a dificuldade dos personagens em ligarem-se: o que me lembrou o que diz Spinoza sobre os afetos, afetar e ser afetado, alegria e tristeza como potências a serem aumentadas ou diminuídas. A realidade do distanciamento físico e psicológico remetem os afetos em Spinoza. A filosofia da diferença.

Tiago costura uma história triste sem ser lamuriosa, com bons instrumentos literários de força de narrativa, ?os afetos tristes? ou ?condição menor de potência? em Spinoza aparecem no romance psicológico de Tiago.

A obra nos deixa com a sensação de escassez de afeto, e o afeto como necessidade: onde posso encontrar alegria em estar com alguém que esteve ausente por quinze anos? Há virtude de enredo, a montagem é cuidadosa, mas que podem ao mesmo tempo lançar em nós um olhar sublime para o mundo, ou de revolta e tristeza

Os personagens são feridos com tristezas que a filosofia da diferença de Spinoza, Deleuze e Guattari não podem dar conta.

Quinze anos de mágoas derramados em doze dias de hospital, onde doze dias não são capazes de remover a solidão. #literaturabrasileira #literaturanacional
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Vince 13/02/2023

Resenha - Pudim literário
DOZE DIAS | @TIAGO


Olá, queridos leitores. Tudo bem com vocês? Espero que sim. Para iniciar a semana vamos começar falando sobre esse nacional incrível do Tiago Feijó. Confesso que ainda não conhecia a escrita do mesmo ainda, então para mim foi uma surpresa me deparar com um texto corrido, mas foi uma surpresa boa, pois logo fui me adaptando a esse formato de escrita, com certeza uma ótima leitura para se sair da zona de conforto. 


A trama gira em torno de Antônio, professor de língua portuguesa, e em uma certa manhã ele se depara com a ligação de seu pai, o qual não o vê há quinze anos. Após sr. Raul persistir na ligação, Antônio atende. Raul explica que acordou com dores e que não pode se levantar, pede ao filho que retorne a Lorena e leve-o ao hospital, em choque Antônio tenta processar toda a informação e acaba viajando para sua cidade local com intuito de apenas deixar o pai no hospital. Contudo, o destino tem outros planos e os mantém por doze dias no hospital. Será que eles voltarão a ser pai e filho, deixando o passado para trás? Só lendo pra saber, tá!?


?A vida, misteriosa como ela só, às vezes nos abre uns rasgões no tecido grosso da realidade, umas brechas, umas frestas aqui e ali, pelas quais podemos nos meter no intuito de escaparmos à ordem das coisas e do dia.?


Leitores, me surpreendi com cada capítulo desse trajeto. E junto com o narrador, que conversa conosco durante toda a narrativa, vamos desmembrar e rememorar o passado de pai e filho, vidas vazias. Raul nunca foi um pai presente, nem nunca tentou melhorar para seu filho, viveu uma vida de b3bidas e pr0stituiç40. Sabemos que essa é a realidade de muitas famílias brasileiras, na qual o pai é ausente. Feijó escreveu cada detalhe com muito cuidado, de forma rápida e fluida, nos fazendo ler essa obra rapidamente, e o mesmo vai abordar todo enredo de forma verossímil, e com personagens únicos. Pela trama se passar num hospital pode trazer a impressão que a história é bem monótona, mas não é nada disso, muitos segredos, plots e reviravoltas são explorados. 


Outrossim, essa história é contada de uma forma única, com uma carga emocional imensa e cheio de reflexões, então quem gosta de livros assim tenho certeza que vai amar fazer essa leitura. Estou indo nessa, mas antes não deixe de comentar o que achou da minha resenha, quero saber de tudo, tá!? Até a próxima e abraços!
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Marcelo 14/02/2023

Resenha disponível no Booksgram @cellobooks ?
Tiago nos apresenta nessa obra o reencontro de um pai e um filho que não se veem há 15 anos, após a separação dos pais, com a mudança da mãe para São Paulo.

O rapaz, que quando criança nunca teve uma relação próxima com o pai, recebe um telefonema desse solicitando ajuda para ir ao hospital. Sem entender muito bem porque, o rapaz atende o chamado e se desloca mais de 200 km, se dirigindo até a cidade de Lorena, no Interior de SP para ajudar o pai.

Durante 12 dias em que o pai fica internado, o rapaz e o pai refletem sobre suas relações, seus afetos, desafetos e desavenças, rejeições, desamores e vergonhas. Além disso a trama apresenta reencontros e perdões, mostrando que nem sempre os laços familiares são os mais fortes, mas que amizades podem ser muito valiosas, apesar dos desacertos que podem sofrer ao longo de uma vida.

Gostei da escrita de Tiago, que consegue entrecruzar passado, presente e futuro no cruzamento dos capítulos, mantendo a dinâmica do texto atrativa e instigante. Em certas frases e/ou parágrafos, a escrita de Tiago me remete à Saramago, o que foi uma grata surpresa.

Tiago foi vencedor do prêmio ?Manuel Teixeira Gomes? em 2021 e teve sua publicação inicial em Portugal.
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Rute31 11/05/2024

Um homem idoso pede ao seu filho que o leve ao hospital. Nada mais banal que isso. Mas não é. Porque Raul e Antônio são pai e filho que não se veem há quinze anos. E provavelmente passariam mais quinze sem se ver, se não fosse Raul mal conseguir andar, quanto mais dirigir até o hospital. Por isso, seu filho, um homem metódico e organizado, atravessa quilômetros — o que também não é banal — num dia que ele tinha todo planejado na cabeça.

O que parece um quadro muito simples, também não é. E conforme Raul piora e Antônio vai sendo informado do estado do pai por um médico indiferente, o drama familiar se descortina à nossa frente, caótico.

Durante doze dias, o mundo de Antônio se resume a macas, enfermeiras, bolsas de soro e sobretudo, à morte. É aterradora a imagem de uma mulher sendo reanimada, desesperadora a sede de Raul e muito compreensível a escolha que o narrador fez, de desordenar os dias, de não nos oferecer nenhuma linearidade. Quem já esteve num hospital acompanhando alguém sabe que as horas e os dias se medem de um jeito muito particular, em que ontem é ainda amanhã.

Antônio tem muita mágoa, Raul muitos arrependimentos. E é curioso que esse homem, tão distante do filho, seja capaz de um ato que me enterneceu desde o início: o cultivo de plantas e o pedido, implorado, de que o filho fosse regá-las, pois elas de nada tinham culpa. Recomendo essa leitura.
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Paulo1584 21/10/2023

O ver partir
Doze dias ao lado de uma cama a observar um familiar desconhecido.

o passar dos dias soa quase como um único grande dia em que se observa alguém definhar, enquanto se conhece sua história e se pergunta sobre sua herança, seu legado. detalhes como um chaveiro com escudo de time de futebol e a sordidez de um homem que não era lá flor que se cheire.

Tiago constrói aqui, um percurso que, a medida em que aproxima o leitor, também o distancia, a contradição de narrar o futuro do agora. explico: quando se sabe que alguém está prestes a morrer, não há o que viver além da anunciada morte.

doze dias evoca a observação do que se pode viver com quem não se conhece. com aqueles que, ao olharmos, deveríamos sentir um peso tremendo da ausência, mas o que resta é só piedade e um pouco de decepção.
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