Lurdes 13/12/2023
Dor fantasma é uma dor que acomete 90% dos indivíduos que passam pela amputação de alguma parte do corpo.
Amputação é um processo traumático para qualquer pessoa.
Imagina se a parte perdida é a mão direita de um pianista virtuose.
Pois bem! É o que vai acontecer com Rômulo Castelo, nosso herói.
Herói? Mais ou menos.
Melhor conhecer um pouquinho sobre Rômulo antes de pegar o lencinho, porque ele é um tanto desprezível, arrogante e insensível, pra não dizer insuportável.
E assim ficaremos nós, divididos durante toda a leitura, entre sentir um ódio mortal deste personagem tão escroto ou sentir empatia e comoção frente ao drama que ele está vivendo.
Mas vamos conhecer um pouquinho mais sobre Rômulo. Ele é filho de um maestro, igualmente obcecado pelo método e pela perfeição, e foi criado/condicionado, uma vida inteira, a não cometer falhas e buscar ser o melhor.
Casado com Marisa, apenas para não deixar de cumprir suas obrigações, já que ela engravidou, é pai de Franz, de 8 anos, que já frustra muitas de suas expectativas, por ser portador de paralisia cerebral.
É um respeitado professor de piano em uma Universidade.
E, mais importante, está prestes a realizar uma turnê internacional, onde apresentará a famosa peça intocável de Liszt, momento para o qual vem se preparando durante toda a vida.
Até que... acontece o acidente.
A estória tinha tudo para ser um novelão, não fosse o talento de @rafaelgallo81 que recebeu, merecidamente, o Prêmio José Saramago pela obra.
Como todo novelão, alguns fatos vão nos irritando, como o comportamento, não só do protagonista, mas dos que o cercam, completamente despreparados para lidar com a situação.
Onde estão os terapeutas, advogados e médicos comprometidos que deveriam criar uma rede de apoio, que talvez evitasse o processo de depressão e auto destruição a que o personagem fica exposto e acaba expondo os mais próximos?
Por isto os novelões são tão dramáticos e envolventes.
Porque são imperfeitos, como a vida.
Recomendo muito!