Livros da Julie 14/02/2024Nunca é tarde para fechar antigos ciclos-----
"Cada um carrega a sua cruz."
-
"as novas gerações (...) cobram do passado sem nunca dar nada em troca."
-
"a alegria pelas pequenas coisas nunca vem de mão beijada. É preciso ter força para correr atrás dela."
-
"as famílias nunca devem afastar seus filhos. Filhos devem ser amados, não importa se são diferentes de nós."
-
"A vida nos surpreende (...) Não há como saber quem irá lhe estender a mão."
-
"Viver com gente velha ensina o que pessoas decentes costumam fazer."
-
"No sofrimento, pequenos esforços trazem conforto."
-
"não há necessidade de falar, de explicar. Quando se ama um ao outro, sentimos isso. Não é preciso dizer nada."
-
"as famílias são como uma árvore carregada de frutas. (...) quando estamos maduros, acontece de nos soltarmos e partimos."
-
"as gerações se alternam, indo e vindo, como as estações ou a maré."
-
"não há fracassos absolutos na vida (...) os erros fazem parte de nossa bagagem, junto com a alegria e as lembranças."
-
"somos resistentes às intempéries se preservarmos a memória."
-----
As Gerações foi a leitura coletiva de julho da Faro Editorial promovida pelo @clubeliterarioferavellar.
Matteo retorna à cidadezinha onde cresceu, depois de passar três anos em Milão. Como havia deixado de falar com o pai ao sair de casa, quando se assumiu gay, Matteo vai direto para a casa de sua avó. Ele só não sabia que o lugar já estava cheio, pois sua prima e suas três tias também moravam ali. Mas a avó o acolhe e ele terá a chance de repensar e refazer sua vida.
Faz tempo que li uma história em quadrinhos e não recordava a sensação imediata de imersão que ela proporciona. Na primeira página já mergulhamos no ambiente e nos conectamos à narrativa.
Flavia consegue transmitir com facilidade os sentimentos de dúvida, insegurança e angústia que assomam o protagonista. O desenho em preto e branco, o sombreado cinza, as frases curtas e objetivas enfatizam a solidão e a passagem do tempo. As feições expressam acuradamente as emoções disfarçadas. Os traços simples, rascunhados, são suaves e agradáveis.
O vazio existencial de Matteo alcança o leitor com rapidez. No entanto, a trama é recheada de questões não resolvidas de outros personagens. No início, é até um pouco difícil distinguir os parentes e os problemas que viveram. Ao longo das discussões familiares, porém, compreendemos melhor os obstáculos que cada um precisou enfrentar.
A autora retrata as diferentes gerações, contrapondo a velhice e a juventude, a fragilidade e a força física, a generosidade advinda da experiência e o egoísmo que nasce da indecisão. O foco, contudo, não é atestar o conflito, mas apontar as semelhanças. Muitas vezes nos esquecemos de que quem veio antes já percorreu o mesmo caminho. As dificuldades continuam a existir e os sofrimentos são parecidos. E nossa família nos conhece melhor do que imaginamos.
Matteo vai adquirir uma compreensão sobre a finitude da vida que só quem cuida de alguém que precisa de auxílio constante é capaz de ter. Aos poucos, ele vai perceber que, quando preenchemos o tempo com trabalho e lazer, a vida ganha sentido. Quando dedicamos o nosso tempo aos outros, a vida não parece mais tão ruim.
Esta é uma história tão comovente e emocionante que desperta uma miríade de lembranças e culpas. Carregamos tantas mágoas que esquecemos que os outros também levam um fardo pesado nos ombros.
Como diz a capa, é impossível fugir de algumas coisas na vida. É preciso encarar as adversidades e aprender a superá-las, transformar a amargura em compaixão, o fracasso, em crescimento pessoal. É preciso perdoar e seguir em frente.
site:
https://www.instagram.com/p/Cwvv3PmrUIC/