Cassio Kendi 02/04/2023
Me desculpa. E obrigado. De verdade.
Eu e minha esposa temos frequências de choros diametralmente opostas. Ela nunca me viu chorar, não porque eu esconda o choro, mas por ser algo raro de acontecer comigo. Eu vi ela chorar ontem assistindo um vídeo de um menino de uns 3 ou 4 anos explicando os sentimentos para a mãe com a maturidade de um psicólogo ("eu estava um pouco frustrado, depois fiquei um pouco irritado, mas tudo bem, porque meu irmão ainda é muito novo e não entende o que faz").
Já imaginei como seria se eu fosse realmente incapaz de chorar. Será que assim eu nunca me sentiria triste? E se eu não me sentisse triste, será que também não me sentiria feliz, e estaria sempre num estado constante de nem-triste-nem-feliz? Será que se eu não conseguisse sentir nada, seria incapaz de amar, estar em um relacionamento, manter amizades?
São questões como essas que o livro "Amêndoas" aborda, por meio da narração de um adolescente com 'alexitimia', condição que impede ou dificulta uma pessoa de identificar e expressar os próprios sentimentos, e, por consequência, entender o sentimento dos outros.
A autora consegue explorar todas as dificuldades que acompanham esta condição e mostrar a evolução gradual de Yunjae utilizando a própria escrita como indicativo da capacidade cognitiva do narrador, recurso que me lembrou muito o livro "Flores para Algernon", mas em um grau mais sutil.
Acaba sendo irônico que um relato escrito por alguém que não sente emoções tenha partes tão tocantes. Me emocionei, mas não cheguei a chorar (minha esposa provavelmente choraria horrores).