Vinicius 28/09/2023
A estética da vida
Um pequeno livro que mistura crônicas, reflexões filosóficas e memórias familiares de um tema sobre o qual todo ser humano já refletiu (ou vai em algum momento da vida).
Calligaris compartilha uma lição valiosa que aprendeu ainda criança na biblioteca de seu pai, "por mais que tenhamos livros, sempre haverá buracos numa estante". Ou seja, os mistérios da vida nunca serão completamente explicados e devemos desconfiar dos livros que tentam fazê-lo. Portanto, este é um livro que preserva os buracos.
Faz uma crítica à busca frenética dos nossos dias pela felicidade (ainda que artificialmente, em forma de pílulas). Ao invés disso, acredita que deveríamos buscar uma vida interessante, em que nos permitimos viver todos os momentos de forma presente, incluindo os bons e ruins.
Se pensarmos hoje no bem mais precioso que temos, citaremos a vida. Essa é uma preocupação do modernismo, dos últimos 200 anos. Antes disso, o ideal maior era aquele pelo qual dávamos a vida. Não havia o temor do castigo pós morte (que aprendemos após o cristianismo), mas sim uma busca por uma vida bela, no sentido moral da palavra.
O autor resgata Kierkegaard, que postula que escolhemos viver pela ética ou pela estética, ou seja, ou vivemos pelos princípios ou pelas sensações de prazer. Mas Calligaris acredita que é possível sim viver pela estética sem perder os princípios.
E defende que não há problema no hedonismo (temos sido ensinados a associar o prazer com culpa). O problema está numa cultura distraída que não percebe a singularidade da vida, as sutilezas dos sentidos, do momento presente e se preocupa mais com selfies, likes e a opinião alheia.
Sugere um novo renascimento, já que o juízo estético/moral seria algo natural, assim como quando apreciamos a beleza subjetiva de uma obra e não sabemos explicar. E finaliza refletindo sobre a função dos psicoterapeutas, que não é a de orientar ou informar valores, já que a transcendência nos privaria da liberdade, mas sim permitir que cada pessoa faça de sua vida a sua própria obra de arte.
Gostei e recomendo!