Angie 24/08/2023
Um livro de memórias...
Não sei se consigo dizer que esse livro é uma autobiografia, a impressão que tive ao longo da leitura é que o Elliot juntou memórias de sua vida e colocou num livro, dando o seu ponto de vista e falando sobre momentos importantes que viveu.
Admiro muito o Elliot e sou uma grande fã há muitos anos, estava muito ansiosa para ler esse livro, meu amor por ele cresceu ainda mais depois de se assumir trans, fiquei muito feliz porque a felicidade dele era visível. Porém várias partes desse livro me pegaram desprevenida e me deixaram um pouco desconfortável.
Começando que esse livro é narrado de forma não linear, então não espere que a primeira página do livro comece com “Meu nome é Elliot Page nasci no dia 21 de fevereiro...” porque não vai acontecer. Foi muito fácil acompanhar esse tipo de narração e eu gostei muito, apesar de ser um pouco confuso porque em determinado momento ele está falando sobre seus 12 anos e no próximo parágrafo ele pode falar sobre seus 30 anos, acredito que o editor não soube organizar isso para criar algum tipo de conexão com o que foi dito anteriormente. Uma coisa que me incomodou muito na leitura foi a forma levemente romantizada e poética de escrever sobre traumas e abusos que ele passou, em um parágrafo ele narrava um abuso, sem se aprofundar muito naquilo, e então já passava a falar sobre outra coisa sem conexão com o parágrafo anterior. Somente por volta de 75% do livro que comecei a reparar nisso, acredito que o carinho e certo favoritismo que tenho por ele não me fizeram perceber essas falhas na história.
Achei boa parte da narração rasa, como se ele estivesse apressado para escrever, não se aprofundando nos problemas, quase nunca ele chegou no cerne do que ele passou (somente a relação conturbada com o pai). Senti que o livro parecia uma certa tragédia americana, algo que você espera que façam um filme sobre (e o próprio Elliot fala sobre certos momentos da vida dele parecerem com um filme). Como uma pessoa que acompanha a carreira dele há anos eu esperava que ele se aprofundasse mais, todavia ele preferiu focar grandes partes do livro nas relações sexuais que teve e em como era difícil ser lésbica (antes de se descobrir transsexual) e estar dentro do “armário” na indústria hollywoodiana, mas lendo todas as coisas que ele passou nunca pareceu, ao menos para mim, que ele mostrava realmente como se sentia, talvez nem ele sabia, mas era como se eu estivesse lendo algo que eu já tinha ciência. Pressuponho que Elliot focou muito no sexo em si do que qualquer outra coisa, não o julgo, talvez seja algo muito importante para ele, mas algumas cenas são muito gráficas e eu como admiradora de seu trabalho e dele como pessoa esperava ver esse lado mais “humano”, o lado dos sentimentos, o lado da dor conectada com como ele conseguiu se desvencilhar e seguir o caminho dele.
Outro fato que me incomodou foi a ausência de um capítulo (ou pelo menos longos parágrafos) sobre seu casamento com Emma Portner, entendo que ele provavelmente queria respeitar a privacidade de sue ex-espose, porém como ele focou muito em relacionamentos com outras pessoas nesse livro, eu esperava pelo menos uma extensa página falando sobre Emma. O livro meio que desandou a partir de 80%, quando eu já percebi que não iria ter nada mais profundo do que aquilo que estava lendo. No entanto, eu amei o livro, sigo amando, me orgulhando e acompanhando o Elliot, estou muito feliz por ele ter alcançado a felicidade que tanto almejou e por ter se encontrado finalmente depois de tantos anos em martírio.