Luce Lopes 16/03/2024
Como uma escritora de Fantasia, Tracy escreve bons romances
Aqui estou eu, insistindo no quinto livro de uma série que seu auge foi o terceiro e de lá, só ladeira abaixo. Tracy já não tem mais uma história para contar, e isso é claro aqui, onde ela decide fazer um livro tão grande para preencher um tempo entre o livro 1 e 2. O que não seria algo ruim, caso ela tivesse decidido focar no desenvolvimento do relacionamento da Grace e do Hudson pela primeira vez. Estava indo bem pra mim no começo (tirando as primeiras páginas, pois a Grace voltou a ser aquela garota insuportável do primeiro livro, já que a virada de desenvolvimento dela foi graças ao Hudson, ao qual ela conheceu pela primeira vez aqui). Os capítulos deles presos e desenvolvendo um carinho um pelo outro era ótimo, mas a autora achou que precisa de algo grande e quando eles saem de lá, tudo que não são apenas eles é um saco.
A verdade é que, tirando o terceiro livro, que se passa em uma prisão e o conceito é muito bom e bem trabalhado, Tracy não é uma exímia escritora de fantasia. Os elementos de sua obra parecem um grande mix de recortes de qualquer coisa fantástica que já existiu. Apesar de se tratar de um livro de fantasia jovem, o foco sempre foi a Grace e seus relacionamentos interpessoais, principalmente a parte romântica e como ela cresce apartir de suas interações com Hudson. A relação dela com a prima e os amigos era algo interessante, e mesmo que o resto em sua maioria não fosse algo bem trabalhado, os pontos fortes carregavam eles.
Aqui, no entanto, a única coisa boa é ver como Grace e Hudson se apaixonaram pela primeira vez, principalmente pela parte do Hudson. Mas mesmo isso é atrapalhado pela repetição de acontecimentos dos livros anteriores (mesmo que tecnicamente eles se passem depois). Uma boa ligação foi a deles dançar, algo mostrado no livro 2 como algo que parecia ser comum entre eles durante o tempo que passaram presos, mas não mostrado, então mostrar como esse costume se desenvolveu foi algo muito bem feito. Por isso que, ver que ela tinha a capacidade de fazer essas coisas e ter preferido apenas repetir descobertas e momentos previamente vistos, não me agradou. Não foi por uma falta de capacidade, mas uma escolha narrativa.
Agora, tirando Grace e Hudson? Nada mais me agradou. Por muito tempo eu estava certa de que todos os personagens estavam fingindo simpatia, pelo quão artificial as interações deles pareciam. Teria sido um plottwist bem feito, mas minhas preces de que isso não fosse apenas a autora perdendo a mão não foram atendidas. Os personagens secundários apresentados aqui são completamente desistentes, mal escritos e desenvolvidos, além de esquecíveis. Quando a matança começou, eu não senti nada, porque em tese eu deveria sentir algo por eles e ficar triste, mas eu nem mesmo me lembrava quem eles eram, mas a autora faz parecer como se fosse uma grande perda pelo quão triste a protagonista e seus amigos esquecíveis ficam tristes.
Um ponto negativo da Tracy que não melhorou com o tempo foi a sua mania em não saber dosar as piadas. Ela faz dos seus livros quase que uma comédia romântica do tanto se piadas e trocadilhos que a Grace pensa e fala. E isso, não deveria ser algo ruim, se ela não fizesse isso durante momentos inoportunos... Tem um bando de gente morrendo, a Grace esta devastada (ou é isso que a autora queria que a gente acreditasse), mas não é algo verossímil quando a protagonista está vendo pessoas morrerem enquanto esta pensando em piadas. Entendi que isso é a forma como a Tracy escreve, mas ela tem que aprender a parar de jogar trocadilhos durante cenas tensas, e principalmente, quando ela troca de personagem narrando. Não é verossímil como o Hudson pensa idêntico a Grace, pois não há uma diferença de escrita da autora. Não era algo visível pelos livros anteriores terem apenas o capítulo final narrado por outra pessoa, mas como aqui os pontos de vista são intercalados, fica algo muito escancarado. Eu lia o livro muito ciente de que era a Tracy contando a história e não seus personagens, e isso me trapalhou demais.
Não vou entrar em muitos detalhes sobre o resto porque eu não quero esculachar o livro. No fim, ainda estou aqui apenas pelo meu apego emocional com Grace e Hudson. Eu provavelmente vou ler o último (pelo amor de Deus, que o próximo seja o último) apenas para encerrar esse ciclo, mas vou deixar isso para um futuro beeeem distante, onde o gosto amargo que essa série está começando a ter na minha língua seja sobreposto novamente pelo meu carinho por Grace e Hudson.