A terra dá, a terra quer

A terra dá, a terra quer Antônio Bispo dos Santos




Resenhas - A terra dá, a terra quer


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Adriana Scarpin 09/06/2023

Livro impecável de Nêgo Bispo que saiu no Circuito Ubu esse mês, atravessa a essência quilombola da contracolonização de pessoas, animais e plantas, além da própria terra. É uma leitura rápida, porém de grande intensidade que coloca às claras toda "humanização" que nos vilipendia a todos.
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Amanda Silva 13/02/2024

Contracolonizar é compartilhar vida
Nego Bispo, um ancestral, quilombola em terra da, a terra quer, possibilita enxergarmos o mundo por uma nova ótica.

Aquela não vista e não apresentada pelos colonizadores, aquela de quem não se deixou colonizar, que lutou e se fez contra colonial.

Os modos de ser, viver e estar em comunidade é um elo diretamente ligado com a comunidade, com a terra, com a natureza e com a vida. Confluir, transfluir, confluir.

Este livro nos permite ser resistência, ao passo, que possibilita nos aproximarmos de nossos antepassados.
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lucaismaia 15/04/2024

Sobre saberes, saberes e saberes contracoloniais

"Nossa geração avó dizia que a gente planta o que a gente quer, o que a gente precisa e o que a gente gosta, e a terra dá o que ela pode e o que a gente merece. Então jogávamos todo tipo de semente no mesmo local e a terra fazia a seleção das sementes que ela deixaria germinar."
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Rafael Ramos da Rocha 27/02/2024

Brilhante
Eu me nego a fazer uma resenha sobre esse livro, sem que eu reflita por muito tempo a respeito e o leia mais algumas vezes. Eu não lembro de um livro que eu tenha lido duas vezes, eu guardo alguns que imagino que em algum momento irei faze-lo, mas, este com certeza. Ele simplesmente transcendeu o que eu considero o efeito que causa uma ótima leitura, este livro deveria estar em todo lar brasileiro, em toda sala de aula. É de uma potência que não ouso descrever.
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Rebeca 15/03/2024

Saberes quilombolas
Nesta obra, Nego Bispo mostra alguns saberes quilombolas na questão sócio-ambiental e política. Achei interessante a forma como os quilombolas respeitam os demasiados seres vivos da Natureza e suas relações e habitos para com a mesma, com semelhanças que podem ser encontrada na visão dos povos indígenas. Gostei bastante do livro, só não dei 5 estrelas porque discordo do autor em alguns pontos específicos, como na perspectiva do "compartilhamento", eu vivi em comunidade indígena e posso dizer que o ato do compartilhamento não é o "mar de rosas" que ele descreve, até porque o ser humano é meio egoista por natureza. Outro ponto que também não concordei, foi na fala dele sobre restaurantes, pois acho que ele deveria criticar o sistema e não as pessoas, até porque os trabalhadores que habitam os meios urbanos não tem tempo nem pra fazer a própria comida, quem dirá psra visitas. No entanto, achei plausível a visão dele sobre as universidades, é bem coerente com a realidade acadêmica, pois o saber dos brancos acaba sendo o majoritário no meio acadêmico, infelizmente.
Halana.Katrine 21/03/2024minha estante
Um ponto que me deixou intrigada, é quando ele fala do "compartilhamento forçado".


Rebeca 21/03/2024minha estante
esse tbm foi um dos pontos que não gostei, não concordo, pois uma pessoa de baixa renda, na maioria das vezes, parcela o celular, pra vir um trombadinha e tomar e ela que trabalhou meses pra arrecadar a grana e acabar ficando sem??? isso é, no minimo, desrespeitoso com o próximo que sobrevive nas grandes cidades


Halana.Katrine 21/03/2024minha estante
Ficou uma fala bem hipócrita da parte dele, sem contar que passa uma vibe de romantização né? ?????


Rebeca 21/03/2024minha estante
sim sim!




@emedepaula 13/06/2023

Cosmovisão quilombola
Posso dizer que entendo quase todas provocações de Nêgo Bispo nesse livro. É realmente muito bonito vislumbrar outras existências possíveis, outros léxicos, outras correlações e confluências, para usar um termo que ele mesmo reivindica. No entanto, saio do livro e me deparo com a minha realidade material, que é a mesma descrita com o maior desprezo, como se o modo vida dito "humanista" fosse apenas o lado da destruição. Não tomo isso como verdade. É preciso separar na fala de Bispo o que realmente vale ressaltar. Embora chegue ao fim da leitura sabendo um pouco mais sobre a cosmovisão quilombola, esta mesma parece não dialogar muito com as questões da cidade e sua enorme complexidade. Há certamente críticas pertinentes como a das milícias e condomínios fechados, por outro lado há uma simplificação do que é a vida no "asfalto". Na visão de Bispo, nas cidades só vivemos para consumir e morrer, e eu acho que tem bastante gente fazendo muitas coisas legais que passam longe desse determinismo. Enfim. Eu adorei o livro, mas algumas partes não caíram tão bem comigo.
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Hector 09/07/2023

Diálogos e fronteiras em um livro oral
Cheguei ao livro de Nêgo Bispo, publicado pela Ubu, pelo fio da polêmica e das críticas negativas advindas sobretudo do que eu imagino ser uma parcela de pessoas próximas ao marxismo. Dentre elas, pessoas qualificadas, que costumam travar debates sérios. Entretanto, os comentários depreciativos com os quais travei contato antes da leitura foram, de modo geral, típicos de um marxismo preguiçoso, que trabalha por petições de princípios e baba de raiva se não enxerga a palavra "revolução" nas primeiras 5 páginas de algum livro. Acho que é relevante dizer que sou marxista. Trato a revolução como horizonte absolutamente necessário, considero a luta de classes não um jargão ultrapassado e reducionista. Ao contrário, é um conceito que reflete a realidade, filosófica e sociologicamente sólido, como pouquíssimos conceitos conseguem fazer. Insatisfeito (ou até mesmo raivoso!) sairá o marxista dessa leitura caso nela queira encontrar qualquer continuidade de análises marxistas sobre a realidade.

Partindo disso, entenda-se: Nêgo Bispo é uma voz quilombola, formado por mestres quilombolas no Piauí, primeiro a ser alfabetizado em sua família. Isso deve informar o leitor de que este livro é uma versão escrita de ideias que circulam tradicionalmente de modo oral, a exemplo do que podemos observar em escritos de indígenas como Ailton Krenak e Davi Kopenawa. Por isso, creio, a estrutura organizada a partir de pequenos textos curtos reflete bem esse modo de saber. Lê-se, aqui, um quilombola aceitando fazer parte do jogo colonialista da escrita, porque sabe que isso pode render frutos. A existência desse livro é, sim, uma tentativa de dirimir o etnocentrismo das relações. Atitude similar é o mínimo que se espera do leitor não quilombola (seja ele marxista ou não).

Os pontos mais importantes do argumento de Nêgo Bispo, a meu ver, concentram-se na tentativa do autor de apontar como o paradigma humanista projetou e projeta, na teoria e na prática, padrões relacionais colonialistas. De fato, o humanismo enquanto construção filosófica hegemônica é fruto da modernidade. Filósofos atuais vêm tentando levantar esse debate também, a exemplo de Emanuele Coccia, ao propor uma volta filosófica à "vida das plantas" como modo de recolocar a relação com o mundo. Nesse sentido, para Nêgo Bispo, o "humanismo" é construído como o esfacelamento de cosmovisões nas quais o chamado "humano" é um elemento dentre vários, sem estar posicionado hierarquicamente de forma destacada. Portanto, nossos modos de viver (os modos não indígenas, quilombolas, tradicionais, por assim dizer) expressariam uma cosmofobia.

Tal cosmofobia alicerça a reprodução parasitária e destrutiva da vida humana, impedindo o desenvolvimento dos outros tipos de vida. A fim de denunciar e pressionar essas dinâmicas, Nêgo Bispo enfatiza o que chamou de "arte de denominar", isto é, propor palavras que expressem melhor um modo de viver não humanista, É nesse sentido que se entende a repetição de algumas palavras ao longo do texto, com destaque para a noção de "confluência", que se antagoniza à ideia de "coincidência". Trata-se, aqui, do que no jargão acadêmico chamaríamos de disputa no campo discursivo.

É por isso, por exemplo, que Nêgo Bispo chega a recusar os termos "cultura" e "política", por indicar que são constructos que já partem de um modo cosmofóbico de organizar o mundo. É óbvio que o comentário de dois parágrafos realizados por Bispo sobre o termo "política" pode ser considerado insuficiente ou reducionista para explicar toda a complexidade e polissemia do conceito em toda a tradição histórica, sociológica, filosófica, etc. Mas, adivinhem, Bispo não está nenhum pouco interessado em partir das nossas redes explicativas. Simplesmente isso. Ao contrário, o que me parece ser o ponto forte desses textos é a clara demarcação do autor da autossuficiência de um ponto de vista quilombola sobre tudo o que está falando, assim como a Caatinga pode também ser autossuficiente, para espanto dos sulistas e sudestinos, algo muito bem expresso na página 31:

"Nunca vamos atravessar para o lado do humanismo, mas também nunca vamos querer que o humanismo atravesse para o nosso lado. [...] A humanidade está aí, não vamos matar a humanidade. Mas como vamos nos relacionar com ela? Estabelecendo fronteiras.".

Esse ponto é crucial. Ele simplesmente desconstrói o recorrente lema progressista do "destruir todas as fronteiras", espécie de produto palatável à consciência cheia de culpa da esquerda branca. Nêgo Bispo quer demarcar as fronteiras, sim, quer fortalecê-las, pois defende e protege o modo de viver quilombola. É a partir disso, por exemplo, que o autor posiciona colonialistas e "decoloniais" (atenção, marxistas, inclusive a enorme parte dos decoloniais detratores do marxismo!) num mesmo grupo, o grupo do "eles".

Resta saber como esse diálogo proposto por Nêgo Bispo vai ser semeado também por nós. Não acredito que simplesmente desconsiderar um modo de vida que permanece forte, autossuficiente e desafiador depois de séculos das investidas assassinas do colonialismo possa trazer algo de produtivo. Bispo é direto, joga limpo: ele não está interessado em assimilar epistemologias, metodologias e análises que não sejam as coletivas-comunitárias a que ele próprio pertence. Lê-lo como uma reprodução enfeitada da ideologia liberal é pura e simplesmente não entender o ponto.

Acho difícil que pressupostos como o de Bispo, por um lado, e marxistas, por outro, possam coexistir em um programa político unificado. Como marxista, discordei de vários trechos, a exemplo do que Bispo fala sobre o mundo do trabalho. Isso não significa a impossibilidade de coexistência e aprendizado mútuo. Há que se pensar seriamente se fará parte da estratégia levarmos a sério a busca por uma posição menos etnocêntrica ou se, pelo contrário, iremos desvalidar livros como esse e, por extensão, modos de viver cuja história (assim como a história da luta socialista) permanecem sendo um incômodo a quem quer naturalizar o capitalismo.
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Marie Dias 08/03/2024

Grande Mestre Nêgo Bispo!
Tudo o que eu conhecia de Nêgo Bispo vinha da oralidade. Sempre que podia, colocava um vídeo em que ele estava falando para assistir no YouTube. Infelizmente, não pude vê-lo antes de ele passar para a ancestralidade, mas é uma grande honra poder lê-lo. A terra dar e a terra quer.

"O nosso povo também dizia que a terra dá e a terra quer. Quando dizemos isso, não estamos falando da terra em si, mas da terra e de todos os seus compartilhantes. No plantio triangular, quando a correnteza vem, ela bate numa planta e vai para outra."
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Messias 04/09/2023

Não há o que falar do Nego Bispo. Um autor, ou um tradutor, como ele se denomina, genial. Um ótimo trabalho de ampliação de um pensamento que vem sendo construído, de forma consistente, nas últimas duas décadas.
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Halana.Katrine 23/03/2024

Começo, meio e começo
Esse livro me surpreendeu muito e provavelmente eu não leria e não teria conhecimento se não fosse através do clube.

Ele me trouxe respostas de perguntas que eu nem tinha, e me deixou novos questionamentos. Boa parte da leitura me despertou memórias que estavam bem adormecidas dentro de mim, principalmente da minha infância, isso me fez ver essas lembranças com outros olhos.

Coisas que eram comuns, e que eu não dei a devida importância, agora ganharam novos significados. Essa leitura me trouxe aprendizados que eu não sabia que precisava; refletir por exemplo sobre a nossa relação quanto ser humano tanto para com a natureza, quanto para outros seres humanos, não só a nós, mas qualquer outro ser vivo.

Obviamente algumas coisas, alguns pontos do livro eu não concordo, principalmente quando ele fala sobre o compartilhamento forçado, e sobre o desenvolvimento como algo extremamente negativo, acredito que quase tudo na vida tem seu lado bom e ruim. Mas foi interessante ver esse assunto pelos olhos e vivências do autor.

Fica aí minha indicação, pode ser que a capa ou o título não te atraía, mas é inegável que o conteúdo é um tesouro riquíssimo.
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valmir 13/04/2024

A Terra dá...
" O que é a cidade? É o contrário de mata. O contrário de natureza. A cidade é um território artificializado, humanizado. (...) Os humanos excluíram todas as possibilidades de outras vidas na cidade."

" Se um quilo de carne orgânica é muito caro, o pobre não pode comprar; e se o pobre não pode comer, não é orgânico. Orgânico é aquilo que todas as vidas podem acessar .O que as vidas não podem acessar não é orgânico, é mercadoria - com ou sem veneno."

" Processos colonialistas como esses tentam nos enganar transformando os nossos saberes em mercadoria ."

Perfeito! Leiam!
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Caio194 07/09/2023

Confluências contra-civ e formas-de-vida contracoloniais
Já havia lido ensaios do Nego Bispo antes, mas esse texto mais completo é novo pra mim. Uma janela para as formas-de-vida contracoloniais, em especial dos povos quilombolas, em uma re-existência contra a "cosmofobia". "Eu não sou humano, sou quilombola. Sou lavrador, pescador, sou um ente do cosmos. Os humanos são os eurocristãos monoteístas". Me fez pensar em convergência (confluências?) contra-civ e em sociedades contra o Estado.
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malubsballarotti 23/04/2024

"Somos povos de trajetórias, não somos povos de teoria. Somos da circularidade: começo, meio e começo. As nossas vidas não têm fim. A geração avó é o começo, a geração mãe é o meio e a geração neta é o começo de novo."

Esse livro é um grande contraponto do modo de vida quilombola em relação ao modo de vida colonialista. Para mim, a forma como Antônio Bispo dos Santos posiciona a arquitetura e a cidade e as interpreta como ferramentas que podem ser utilizadas na reprodução da lógica colonialista, trouxe um entendimento de crítica a uma determinada prática alienada da arquitetura e do planejamento urbano. Além disso, a narrativa, transformada a partir da oralidade, resgata um conhecimento tradicional que elucida conceitos que têm se popularizado na academia, como a ideia de ecologia, por exemplo.

Os trechos que falam da relação entre a comida, a casa e a comunidade vão ficar guardados comigo: projeto é se relacionar com a natureza para entendê-la.

Essa linda edição da editora ubu e da piseagrama apresenta as reflexões acompanhadas das xilogravuras de pássaros de Santídio Pereira, o que torna o conjunto ainda mais bonito.
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Conceição 02/01/2024

As nossas vidas não têm fim
Quando Nêgo Bispo morreu, em 03/12/2023, senti como se uma pessoa muito próxima de mim, me fosse arrancada antes do tempo. fiquei, de fato, consternada por dias. no entanto, ao ler "a terra dá, a terra quer", senti como se ele estivesse do meu lado conversando.

fantasiei que andava com ele por entre as matas secas, ouvindo-o filosofar e contar das histórias que há muito não ouvimos desse lado seco, quase sem sombra e calorento das cidades violentas. Nêgo Bispo está vivo, muito vivo. é impossível passar incólume por esse livro, por essas palavras, por esses pensamentos.

ele não vai, apenas, criticar o modo de vida humanista, cosmofóbico, como denomina, ele contará como o povo dele vive e quer continuar vivendo. só isso. por favor, gente da cidade, não me venha com suas ideias e planos e estradas e sustentabilidade, tudo isso que vocês trazem para a roça, só nos destrói. esse é o recado do Mestre Bispo.

uma mudança de vida. de paradigma. de perspectiva. tudo, absolutamente tudo, conectado com o cosmo, com a terra. é um livro curto, mas você não lê de uma sentada. você senta, lê, absorve e olha para o céu perguntando se é possível mesmo viver assim, como estamos nas cidades e nossa falácia urbana e orgânica e organizada. será que temos tempo para mudar ainda?

a tristeza de dezembro, com sua morte, se transformou em muita vontade de viver outra vida, outra história, integrada ao cosmo, que é a terra, que por sua vez, é o todo que somos.

"somos povos de trajetórias, não somos povos de teoria. somos da circularidade: começo, meio e começo. as nossas vidas não têm fim"
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Vitória Gomes 18/07/2023

Contracolonialidade e saber ancestral
Antônio Bispo fala das suas vivências no quilombo e na cidade, destacando as relações com seres humanos e não humanos são diferentes no seu território do que é na cidade. A cidade segundo ele, é uma invenção colonial, de desconexão, desconfiança, desequilíbrio e desenvolvimento.

Sobre essa última palavra, ele fala sobre como precisamos criar um novo repertório: em vez de desenvolvimento - envolvimento, no lugar de cultura - modos de viver, ao invés de coincidência - confluência...

Seu saber ajuda a pensar outros mundos existentes nesse mundo, e suas formas de resistir e existir de forma integrada e equilibrada com o todo.
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