Yulee Zin 30/09/2023
A barata gigante que há em nós
Havia alguns anos que pretendia ler algo do Kafka, especificamente "A Metamorfose". Obra referenciada inúmeras vezes na literatura e em nichos da música e audiovisual, Não é de se admirar que tenha me despertado interesse, seja pela premissa absurda, seja pela biografia do autor. Possíveis spoilers abaixo, mas acredito que todos saibam do que se trata.
O livro conta a história de Gregor Samsa, um caixeiro viajante que acorda em seu quarto como um inseto gigante. Alguns deduzem que seja um besouro (como o diretor David Cronenberg bem diz no prefácio), mas a ideia mais comum é de que seja uma barata. E assim se segue: a confusão, o medo e a conformidade de passar o resto de seus dias como esse ser repugnante do tamanho de um homem.
A novela de Kafka gera inúmeras interpretações. A inspiração no expressionismo alemão, o absurdismo como um retrato da realidade, mostra o lado mais cruel da história. Gregor quem sustentava a família, mas quando se torna um estorvo o ignoram, o abandonam e fazem questão de aprender a viver sem ele até a inevitável morte. Se trocarmos a metamorfose literal do protagonista por uma subjetiva, como uma súbita doença, essa negligência familiar torna-se ainda mais injustificável.
"A Metamorfose", é um livro profundo. Filosófico em essência, mesmo com uma trama simples e direta, suscita diversas reflexões. Li feliz e saí devastada, enxergando em mim mesma um baratão. Amei.
Nota: 5 + ??