Maycon Silva Aguiar 28/03/2023
O que a vida tem de pior
A pretensa tarefa de resenhar "Circo sombrio", de @ariel.yoshida, demanda que, de início, esclareça uma preferência pessoal relevante: não sou fã de antologias de contos, visto que têm a irritante mania de encerrar-se logo que alcançam seu ponto de maior tensão. Para quem, como eu, é obcecado pelos comos e pelos porquês, não há frustração maior.
Contudo, como é inerente ao dinamismo da vida, é natural que certas obras se destaquem de seus pares, demonstrando-se tão incríveis, que deveriam tornar-se leituras obrigatórias para todo sincero apreciador de boa literatura. Nesse sentido, "Circo sombrio" é um dos poucos livros de contos que, para mim, alcançam esse estatuto, tanto transbordando interpretações sobre os pessoas de nossas decisões quanto ensejando reflexões desagradáveis antiéticas e - por que não? - necessárias a respeito das consequências de nossos atos.
Seja com a celeridade de "Arrependimento", seja com a exposição obscena de vícios de caráter de "Circo sombrio" e de "Dark Web", para citar apenas três das inúmeras histórias que forjam os elos da longa cadeia de infortúnios da obra, o livro, em seu âmago, mais do que uma ode à literatura de horror, é um retrato psicológico bastante preciso de como nós, seres humanos, corrompemo-nos sob condições de pressão específicas.
Recomendo a leitura de "Circo sombrio" a todos os que não se consideram puritanos e que, ainda, têm coragem de encarar as maléficas facetas humanas sem quaisquer doses de dissimulação.
Leiam, leiam, leiam!