Thiago 19/12/2022
Que nunca pare de surgir material de Tolkien
Este livro não apresenta material inédito de Tolkien, mas reúne de modo ordenado toda a história de Númenor, seu povo e seu legado. Caso fosse de qualquer outro autor sobre qualquer outro tema, eu o classificaria como um caça-níquel barato. Contudo, sendo o que é de quem é, só posso chamar de magistral, como esperado.
Destaco a particularidade da obra não ter sido editada pelo co-autor do Legendário, Christopher Tolkien, já falecido. Isso torna os comentários mais secos, uma vez que o editor não é uma referência tão grande quando se trata de acadêmicos de Tolkien (como é o caso de "A Natureza da Terra-Média").
O livro está organizado em ordem cronológica, desde o final da Guerra da Ira até a morte de Isildur e o desaparecimento do anel, reunindo tudo o que já foi publicado em todas as fontes sobre Númenor e os númenoreanos, incluindo a geografia da ilha e os costumes desse povo.
Essa releitura do mito de Atlântida é, provavelmente, o que há de mais explícito em termos de religiosidade em Tolkien. Enquanto em outros temas, como a falha de Frodo em sua missão e as Silmarils, essa característica fica mais latente, na história de Númenor isso fica claro, ao começar pelo título que remete à perda humana do Éden. A não aceitação da benção dos homens pelos númenoreanos é uma mostra da sua falta de fé, eles se revoltam em ter de simplesmente confiar que seu destino singular cumprirá o propósito de Ilúvatar e que, de uma certa forma, essa benção os torna superiores até mesmo aos elfos.
A obra é indicada a todos os tipos de leitores, não só aos fãs de Tolkien, pois conta com diversas histórias tocantes e com personagens complexos, como a história de Aldarion e Erendis (que, infelizmente, não teve um fim completo), e enriquecerá a existência de todos.