Eduardo 26/12/2023
Obra-prima escrita por uma indígena da etnia Guarani que passa uma visão não nova, mas resgatada da sociedade. Apresenta um olhar descolonizado, isto é, um modo de enxergar a realidade e o mundo que existia antes que os portugueses atracassem suas caravelas aqui.
É uma leitura que apresenta temas de debate extremamente complexo; entretanto, os introduz de maneira facilmente acessível e fluída.
A autora vai te contar coisas e visões que vão sim, incomodar. Se, de alguma forma, você não quer se sentir desconfortável com a leitura, pois que então, não leia. Como a própria diz, o processo de descolonização causa, na maioria dos casos, incômodo, desconforto, e é exatamente assim que vemos que, de fato, estamos descolonizando.
Descolonizar é se dar a chance de enxergar o mundo sem as lentes dos invasores europeus e se permitir adentrar e compreender a cultura e a ideologia dos nativos daqui.
Explica-nos conceitos importantíssimos não apenas de monogamia ou não-monogamia, mas de multiplicidade, de fuga de binarismos e maniqueísmos; traz a integração do humano e da natureza, diferentemente da cultura do colonizador, que nos trouxe profunda separação, um grande individualismo. A obra explicita ainda a violência que indígenas sofreram, mas ressalta, junto, toda a resistência que apresentaram e apresentam até hoje.
Se você vê a não-monogamia e diz "moda nova; assunto de nova geração; discussão recente", essa autora tem muito a te ensinar. A resistência não-monogamica vem desde 1500.